Por Olivia
Sorrel-Dejerin
BBC
Furto
catapultou a obra de Da Vinci para a fama no mundo inteiro
No mês de dezembro de 2011, completou-se um século desde que a Mona
Lisa, de Leonardo Da Vinci, voltou a seu lugar no Museu do Louvre em Paris,
depois de uma ausência de dois anos. O roubo da obra-prima italiana solidificou
seu status como a pintura mais famosa do mundo.
No entanto, o homem que a roubou, Vincenzo Peruggia, não era o ladrão
engenhoso que aparece em tantos filmes de Hollywood.
Ele conseguiu entrar no Louvre e sair com a pintura de Da Vinci com o
mínimo de preparação, mas o feito causou sensação e criou um ícone.
O furto aconteceu em uma segunda-feira, no dia 21 de agosto de 1911, um
dia em que o museu estava fechado.
A ausência do quadro só foi notada na terça-feira. A polícia começou uma
investigação e o centro permaneceu fechado durante uma semana em meio ao
escândalo.
"La Joconde" (A
Gioconda) - como os franceses chamam a Mona Lisa - desapareceu por mais de
dois anos e foi recuperada em 10 de dezembro de 1913, quando Peruggia foi
capturado ao entregar a obra a Alfredo Geri, um vendedor de antiguidades de
Florença, na Itália.
Segundo o
historiador da arte americano Noah Charney, autor do livro Os roubos da
Mona Lisa, este foi o primeiro delito contra a propriedade a receber a
atenção da mídia internacional.
Jornais
inventaram histórias sobre o quadro para manter interesse de leitores
É fácil assumir que o incidente causou tal sensação porque a Mona Lisa
era "a pintura mais famosa do mundo", mas naquele momento, ela não
era. O que realmente a catapultou para a fama foi o furto.
A cobertura midiática que ela teve durante o tempo em que esteve perdida
foi o principal motivo de sua fama mundial. Antes disso, muita gente nunca a
tinha visto.
"A imagem começou a aparecer em noticiários cinematográficos,
caixas de chocolate, postais e anúncios publicitários. De repente, ela se
transformou em uma celebridade como estrelas de cinema e cantores",
escreveu o escritor britânico Darian Leader, autor do livro Roubando a
Mona Lisa: o que a arte não nos deixa ver.
Multidões passaram a ir ao Louvre só para ver o espaço vazio onde o
pequeno retrato da mulher do século 16 costumava estar.
Antes disso, o Louvre já tinha muitas obras de destaque, como a estátua
Vênus de Milo, a pintura "Liberdade Guiando o Povo", de Eugène
Delacroix, e o quadro "A balsa de Medusa", de Théodore Géricault. Mas
após o roubo, a Mona Lisa conquistou uma fama única.
O furto tornou-se assunto de Estado e despertou discussões apaixonadas
na mídia francesa.
Segundo o jornalista francês Jerome Coignard, autor do livro Uma
mulher desaparece, uma vez que os jornais franceses descreveram as
circunstâncias do furto, não tinham mais o que dizer. Por isso, começaram a
inventar histórias sobre o quadro, como a de que Leonardo Da Vinci teria se
apaixonado pela modelo.
A polícia seguiu muitas pistas sem sucesso. O poeta vanguardista Guillaume Apollinaire chegou a ser preso por uma
semana e seu amigo, o pintor espanhol Pablo Picasso, também foi suspeito do
roubo. Ambos eram inocentes.
Polícia
chegou a suspeitar do pintor espanhol Pablo Picasso
Apesar da fama, a verdade é que o ato aparentemente espetacular do
ladrão não necessitou de nenhum plano grandioso.
O museu tinha um sistema de segurança duvidoso e poucos guardas. De
fato, o trabalho que se fazia para melhorar a má segurança das obras foi o que
inspirou Peruggia.
O italiano havia trabalhado no Louvre em 1910 e instalado pessoalmente a
porta de vidro que protegia a obra-prima. Ele ainda tinha o uniforme branco que
os empregados do museu usavam e sabia como a pintura estava presa.
"Todos estes conhecimentos se juntaram quando ele teve uma
oportunidade", diz Charney.
Após sua captura, Peruggia alegou que sua motivação era patriótica - ele
teria pensado que Napoleão havia furtado a pintura da Itália e que sua missão
era levá-la de volta para casa.
Ele estava enganado. O quadro havia sido comprado pelo rei francês
Francisco 1º no século 16, por uma quantia considerável de dinheiro.
Como imigrante italiano, Peruggia também argumentou que havia sido
vítima de racismo por parte de seus colegas franceses.
No entanto, segundo Noah Charney, ele havia feito uma lista de
colecionadores de arte americanos, o que indicava que ele tinha planos de
vender a obra.
Obra-prima
de Da Vinci permaneceu famosa, mas ladrão foi esquecido
Há outras hipóteses
sobre os motivos do ladrão, mas até hoje a verdadeira razão permanece um
mistério.
Peruggia não era um conhecedor de arte. Parte do motivo pelo qual ele
escolheu a Mona Lisa era o seu tamanho pequeno: o quadro mede 53 por 77
centímetros.
Desde o retorno do quadro ao Louvre, pessoas de todas as partes do mundo
vão visitar a Mona Lisa, mas segundo Coignard, este pequeno e íntimo retrato
requer calma e tempo para ser realmente apreciado.
É por isso que poucos realmente "veem" a pintura; o que
importa é estar ali e poder dizer que a viram, avalia o escritor francês.
Apesar do mito, o ladrão foi rapidamente esquecido depois de capturado,
especialmente por causa da Primeira Guerra Mundial, que começaria no ano
seguinte, 1914.
"As pessoas
pensam nele como alguém extravagante e adorável, que se apaixonou por uma obra
de arte e que não a danificou", diz Charney.
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