Brasil: publicidade
Por Gabriel Oro
Gosta de
historinhas, filminhos e discussões excessivamente detalhadas sobre coisas de
pouca importância. Publica semanalmente, com foco em literatura e na indústria
criativa.
Quanto dura o seu conhecimento?
Como a morte de velhos conceitos pode ser tão importante para o mercado
publicitário quanto tudo que há de novo.
Você sabe o que está fazendo?
Eu me faço essa pergunta às vezes. No meio de
um projeto, meio que sem querer, vem o questionamento lá do fundo da cabeça:
"Eu sei o que estou fazendo nesse negócio?". E de vez em quando me
dou conta que a resposta é não. Quer dizer, eu sei fazer, todo mundo que está
empregado sabe fazer, mas você só sabe realmente o que está fazendo de vez em
quando. Porque essa parte requer algum esforço, requer dar dois passos pra trás
pra entender melhor o que raios é tudo aquilo, antes de seguir com o trabalho.
Até alguns anos atrás, o mercado publicitário
lhe permitia se limitar ao domínio de um único ofício, que te serviria por
décadas. Porém, como as agências adoram dizer em suas campanhas institucionais:
"o mundo mudou", e essa questão vai além da velocidade na qual novo
conhecimento é gerado, mas se refere também ao quão rápido velho conhecimento é
derrubado.
E quão rápido é isso?
Em 1962, o economista austríaco Fritz Machlup desenvolveu
o conceito da "meia-vida do conhecimento". Se a
meia-vida dos químicos é o tempo transcorrido até um elemento decair para
metade da sua massa, a meia-vida do conhecimento é o tempo levado para que
metade de tudo o que se sabe em uma determinada área seja desaprovado, ou
ultrapassado.
Imaginem só, todo o conhecimento acumulado em
uma especialidade. Desde o início, tudinho que temos de informação sobre
aquilo. Metade se tornar obsoleto não é pouca coisa. Certo? É difícil sequer
imaginar isso, então ainda bem que há pessoas mais inteligentes que imaginam
por nós. O psicólogo Donald Hebb, ao
tomar conhecimento do trabalho de Machlup, fez uma extensa pesquisa buscando
estimar qual seria então a meia-vida da psicologia, pelo mesmo raciocínio. Uma
área de estudo complexa, tradicional e extensivamente pesquisada.
A conclusão de seu estudo foi: cinco anos.
Cinco. 1, 2, 3, 4, 5 anos.
O tempo de uma graduação. Você sai da
faculdade para um mundo 50% diferente de quando entrou.
O que a gente aprende com isso? Aprende que
tem que aprender. Muito.
E nunca mais parar.
Discute-se muito sobre o futuro da
publicidade, se as agências vão acabar, se os profissionais vão perder a
relevância e mil outras dúvidas que já estão pisando nos calcanhares de um
mercado em fuga. E é ótimo que essas discussões existam, mas mantenhamos um
olho no presente, uma coisa já mudou: quem entra na profissão está condenado à
perpétua ignorância, a estar para sempre correndo atrás de um conhecimento
atualizado, a ver tudo o que você sabe sobre um segmento voar pela janela em
poucos meses sem nem dar tchau. A soma das mudanças em todos os segmentos que
usam da publicidade, todos com uma meia-vida cada vez menor, é só uma parte do
seu escopo de trabalho, e olha só, não tem mais alternativa além de aprender de
verdade. A bullshitagem está morrendo e já vai tarde, cliente nenhum vai cair
nela por muito tempo. Agora ou você se compromete a nunca parar de aprender, ou
será esquecido.
E quando aquela voz lá no fundo da cabeça
disser que você não sabe o que está fazendo, presuma que ela está certa. E faça
com que esteja errada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário