Brasil: política
Fernando ao centro tendo ao lado o titular
deste Blog (usando blazer claro)
Colaboração
de Fernando Alcoforado*
Para haver
governabilidade no Brasil, o governo precisa contar com o apoio das classes
economicamente dominantes (burguesia) e atender as demandas das diversas
classes sociais subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e rural e
lumpemproletariado) para obter o apoio da Sociedade Civil, bem como deve contar
com uma ampla base política de sustentação no Parlamento para obter a aprovação
de seus projetos legislativos. Este é, portanto, o tripé da governabilidade no
Brasil: 1) apoio das classes sociais economicamente dominantes; 2) apoio da
maioria da população e, 3) apoio da maioria do Parlamento. Em suma,
governabilidade diz respeito à capacidade do governo de poder realizar
políticas públicas com o apoio das classes dominantes, da população e do
Parlamento.
No Brasil,
são detentores dos meios de produção a burguesia que é classificada como classe
dominante e o Estado, através de suas empresas estatais. As classes sociais não
detentoras dos meios de produção dizem respeito à pequena burguesia, ao
proletariado urbano e rural e ao lumpemproletariado que são classificadas como
classes subalternas. A pequena burguesia diz respeito à classe média ou camadas
médias urbanas que têm os mesmos valores e aspirações da burguesia. O
proletariado é aquele que não tem nenhum meio de vida exceto sua força de
trabalho que ele vende recebendo salários para sobreviver. O
lumpemproletariado, por sua vez, é a parcela da população situada socialmente
abaixo do proletariado formada por frações miseráveis.
A burguesia
é constituída no Brasil por dois grupos: 1) grandes empresários do setor produtivo
e empresários ligados ao setor financeiro, etc. tendo um contingente de 9 mil
integrantes; e, 2) empresários pequenos e médios cujo contingente é de 5,7
milhões de pessoas. A pequena burguesia é composta pela classe média alta
(executivos de empresas privadas nacionais, executivos de empresas
multinacionais, altos burocratas do governo e executivos de empresas estatais),
classe média tradicional (funcionários públicos e profissionais liberais) e
intelectuais (advogados de grandes escritórios, professores universitários,
acadêmicos, jornalistas, artistas, cineastas, etc.) cujo contingente é de 108
milhões de habitantes. O proletariado urbano e rural são os trabalhadores da
indústria, agropecuária, comércio e serviços que totalizam 46 milhões de habitantes
no Brasil e o lumpemproletariado, chamado também de "povão", é
constituído de 40,3 milhões de pessoas.
O
afastamento de Dilma Rousseff do poder contou com o apoio da burguesia
constituída por grandes empresários do setor produtivo e do setor financeiro
graças à incompetência demonstrada por ela na condução da economia nacional,
bem como pelo risco de perda de continuidade do processo de acumulação do
capital e pela ameaça de realização de prejuízos de suas empresas no futuro. A
grande maioria da pequena burguesia apoiou o impeachment de Dilma Rousseff
comprovado por sua ativa participação nas grandes manifestações realizadas no
Brasil desde 2013 porque se sentiu ameaçada na sua perspectiva de ascensão
social, de manutenção de seus empregos e pela queda de seu poder aquisitivo
diante da situação catastrófica da economia brasileira. O governo Dilma
Rousseff contou com o apoio do proletariado urbano e rural, sobretudo, daquele
vinculado às principais centrais sindicais e sindicatos de trabalhadores no Brasil
controlados pelo PT e pelos partidos aliados, bem como do lumpemproletariado,
base de sustentação social dos governos do PT graças aos programas sociais
“Bolsa Família” e “Minha Casa, Minha Vida”.
Após o
impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer assume o poder enfrentando, também,
problemas de governabilidade. Do tripé de governabilidade, ele conta com o
apoio das classes sociais dominantes (burguesia) e da maioria do Parlamento.
Michel Temer é rejeitado pela grande maioria da população tanto quanto Dilma
Rousseff. A condição de governabilidade de Michel Temer é no momento maior do
que a de Dilma Rousseff que não contava com nenhum apoio. Para se sustentar no
poder, Michel Temer terá que fazer concessões às classes dominantes e aos
integrantes do Parlamento porque, dificilmente, conquistará o apoio da grande
maioria da população que só ocorreria com a retomada do desenvolvimento
econômico quando propiciaria a elevação dos níveis de emprego e renda dos
integrantes da classe média e do proletariado urbano e rural. Quanto ao
lumpemproletariado, o governo Michel Temer deverá fazer concessões mantendo os
programas sociais do governo Dilma Rousseff para neutralizar a influência do PT
e aliados junto a esta classe social.
O governo
Michel Temer se defronta, entretanto, com imensas dificuldades para assegurar a
continuidade do processo de acumulação capitalista em benefício da burguesia e
de assegurar o emprego e redistribuir a renda em benefício das classes
subalternas. Muito dificilmente, a economia brasileira será reativada em seu
crescimento em um ambiente de instabilidade política como o atual porque Michel
Temer não conta com a confiança da nação porque é, também, ao lado de Dilma
Rousseff, corresponsável pelo descalabro político e administrativo do Brasil e
os poderes executivo e legislativo estão desmoralizados pela presença de grande
número de políticos investigados pela justiça pelo crime de corrupção. Muito
provavelmente, nenhum investidor interno e externo investirá no Brasil em um
ambiente de instabilidade política como o atual e com a possibilidade de
retorno ao poder do governo incompetente de Dilma Rousseff nos próximos 6 meses
se não for confirmado o impeachment pelo Congresso Nacional.
A
instabilidade política tem assumido grandes proporções nos últimos tempos com a
delação de investigados pela Operação Lava Jato que compromete não apenas a
classe política do País, mas, principalmente os poderes executivo e legislativo
da República que estão totalmente desmoralizados e contribuem para inviabilizar
os esforços do governo Michel Temer para recuperar a extremamente deteriorada
economia brasileira. A esta situação soma-se o fato de Michel Temer ser tão
rejeitado quanto Dilma Rousseff pela população, tornando-o incapaz de exigir
sacrifícios da população ao adotar as duras medidas necessárias para superação
da crise econômica que afetarão os interesses, sobretudo, da classe média e do
proletariado urbano e rural que tenderão a se rebelar tornando o País
ingovernável. Pelo exposto, a ingovernabilidade, que é o domínio da desordem,
será inevitável no governo Michel Temer. Esta situação tende a gerar convulsão
social e instabilidade político-institucional com consequências imprevisíveis
que requererá a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva
para reordenar a vida nacional diante da falência do sistema político em vigor
no Brasil. Para tanto, é preciso que haja a renúncia do presidente da República
(Michel Temer ou Dilma Rousseff se ela não sofrer impeachment) e seja
constituído um governo provisório presidido pelo presidente do Supremo Tribunal
Federal que é a única instituição que ainda merece o respeito da nação que
convocaria a Assembleia Constituinte Exclusiva tendo por objetivo: 1) realizar
a reforma do sistema político do País com a institucionalização do voto
distrital e a redução do número de parlamentares e de suas mordomias nos
parlamentos federal, estadual e municipal, entre outras medidas; 2) promover a
reforma do Estado e da Administração Pública em novas 3 bases; 3) banir partidos
políticos e parlamentares comprometidos com a corrupção; 4) Formar novos
partidos políticos após a nova Constituinte; e, 5) convocar novas eleições
gerais no País, entre outras medidas. A Assembleia Constituinte Exclusiva a ser
convocada deveria instituir, também, o parlamentarismo e decidir pelo fim do
Senado Federal com a institucionalização do sistema unicameral. Realizar novas
eleições presidenciais sem uma nova Constituinte, como desejam algumas forças
políticas, significa manter o lamaçal que domina a política brasileira.
*Fernando
Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:
falcoforado@uol.com.br
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