O Forte
de Santo Alberto localiza-se sobre a praia entre a cidade baixa e a ponta de
Itapagipe, em Salvador,
no litoral do estado brasileiro da Bahia.
A
sua edificação remonta à antiga Torre de São Tiago, cujos vestígios arqueológicos foram
descobertos ao final do século XX,
em torno da qual foi erguidamuralha e aterro (1590). Concluído em 1610 sob a invocação de Santo Alberto, encontra-se cartografado por João
Teixeira Albernaz, o velho (Planta
da Cidade de Salvador, 1616) como Reduto ou Estância de Santo
Alberto da Praia, artilhado com duas peças.
Um manuscrito depositado no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (L.
67 Ms. 1236), anónimo e sem data, mas do início do século XVII,
possívelmente anterior a 1608,
no capítulo dedicado à capitania
da Bahia de Todos os Santos,
sobre a cidade da Bahia (sic) informa a respeito deste forte:
"(...)
contudo se fizeram nesta baía alguns fortes e plataformas com sua artilharia,
que se defende uma ocasião, a saber: (...)
O
Forte de S. Alberto, na praia da Cidade, tem duas meias esperas."
À
época da primeira das Invasões
holandesas do Brasil (1624-1625)
foi ocupado pelos invasores, estando cartografada à época da segunda invasão
(1630-1654) por João Teixeira Albernaz, o velho (Mapa da Baía de Todos os
Santos, 1631.
Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro), onde se revela um polígono quadrangular regular com 30 palmos de lado
e dois baluartes circulares
nos vértices pelo lado de terra, artilhado com duas peças. Quando do assalto a
Salvador em abril-maio de 1638, sob o comando do Conde Maurício de Nassau (1604-1679), BARLÉU (1974) descrevendo o assalto holandês, relata:
"(...)
Ocuparam os holandeses o forte de Santo Alberto, construído de pedra, o qual
tinham os portugueses abandonado. Garantiu ele o nosso campo de ser sitiado e
investido da banda da praia. Mandou o Conde circunvalá-lo (...)." (op.
cit., p. 62)
A
atual edificação data de 1694 (GARRIDO,
1940:92), cruzando fogos com o Forte de
Santo Antônio além do Carmo,
de quem era contemporâneo, protegendo o ancoradouro e a aguada das embarcações
em Água de
Meninos. De acordo com iconografia
de José António Caldas (Planta e fachada do Fortinho de S. Alberto. in: Cartas
topográficas contem as plantas e prospectos das fortalezas que defendem a
cidade da Bahia de Todos os Santos e seu reconcavo por mar e terra,
c. 1764. Arquivo
Histórico Ultramarino, Lisboa), a sua estrutura apresentava planta no formato de um polígono heptagonal irregular, comparapeitos à barbeta. Pelo lado da entrada, o
conjunto é dominado por um torreão circular de um pavimento sobre o terrapleno,
contendo as dependências de serviço.
Encontra-se
representado numa iconografia de Carlos Julião,
sob o nome de 2. Sto. Alberto (Elevaçam e fasada que mostra
em prospeto pela marinha, a cidade de Salvador, Bahia de todos os Santos, 1779. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, Lisboa), ilustrada com os desenhos de trajes
típicos femininos.
SOUZA
(1885) observa que a Comissão "ad hoc" nomeada pelo conde da Ponte para
examinar as defesas de Salvador em 1809, sobre esta fortificação, por seu pequeno
desenvolvimento, considerou-a inútil estratégicamente, aconselhando a sua
demolição (op. cit., p. 91, 94).
Com
a vitória brasileira na Guerra da
independência do Brasil (1822-1823),
foi este forte quem, a 2 de julho de 1823, deu o tiro autorizando o embarque das forças
do Coronel Inácio
Luís Madeira de Melo(1775-1833)
para Portugal (SOUZA,
1885:94). Mais tarde ficou conhecido como Forte da Lagartixa (GARRIDO,
1940:93), provavelmente devido a um tipo de canhão assim denominado à época (BARRETTO,
1958:176).
Serviu,
a partir de 1855,
como "oficina de fogos", dependência do Arsenal de Guerra
(CAMPOS, 1940. apud PEDRO II, 2003:163, nota 297). Foi visitado em 1859 pelo Imperador D. Pedro II (1840-1889),
que registrou em seu diário de viagem:
"28 de Outubro - (...) Antes de voltar para casa visitei os fortes de Jequitaia e
de Lagartixa. No primeiro estão os artíficies e no segundo o laboratório
pirotécnico. (...) No forte da Lagartixa fazem-se cartuchos e espoletas para peças, havendo poucos trabalhadores e
nenhuma máquina, que eu visse."
(PEDRO II, 2003:163)
No
contexto da Questão Christie (1862-1865), o "Relatório do Estado das Fortalezas da
Bahia" ao Presidente da Província, datado de 3 de agosto de 1863, dá-o como reparado (ROHAN, 1896:51), citando:
"(...)
É de forma irregular (hexágono), cujas baterias com sete canhoneiras apresentam
um plano de fogo de 290 palmos, montando sete peças, três de calibre 24 no lado
da frente para o mar e quatro de 18 nos contíguos adjacentes.
Acha-se
em bom estado e pode ser considerado pronto; entretanto ressente-se da falta de
plataformas para as competentes canhoneiras, cujas peças assentam hoje no mesmo
solo do terrapleno, o qual, embora fosse aí nivelado e preparado de modo que
parece consistente, não oferece contudo a desejada resistência para o peso e
movimento das peças, está ao mesmo nível não tendo portanto o declive
impediente do recuo.
Um
outro defeito resulta da atual estação do pau de bandeira no espaço que devia
ser ocupado pela pilha de balas da peça vizinha, a qual, por semelhante motivo,
estabelecida à direita da peça, impoz a mesma alteração em todas as outras;
sendo assim que a regularidade e ordem do serviço deve sofrer pela posição das
pilhas em ponto diverso do que compete ao soldado encarregado do serviço das
balas cujo lugar como se sabe é à esquerda da peça respectiva.
O
depósito de pólvora desta fortaleza está condenado pela qualidade do material de sua
construção (madeira), e precisa ser substituído por outro de alvenaria
abobadado.
O
desentupimento da cisterna que existe no forte, é outra necessidade
que cumpre executar."
(op. cit., p. 59-60)
SOUZA
(1885) computa-lhe nove peças, e considera-a uma das que apresentavam melhor
estado de conservação (op. cit., p. 94).
Afastado
do mar pelas
obras de ampliação e modernização do porto de Salvador, em 1958 abrigava o Serviço Veterinário do Exército
(BARRETTO, 1958:176). Esteve ocupado pelo Clube de Subtenentes e Sargentos do
Exército (PEDRO II, 2003:163, nota 297). Restaurado pela 6ª Região Militar do Exército Brasileiro, estava aberto ao público, dentro do Projeto de revitalização das
Fortalezas Históricas de Salvador, da Secretaria de Cultura e Turismo em
parceria com o Exército.
Para
os aficionados da telecartofilia,
sua muralha de
pedra com ameias ilustra
um cartão telefônico da série Fortes de Salvador, emitida pela Telebahia em junho de 1998.
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