O Forte
de Santo Antônio da Barra localiza-se na ponta do Padrão (atual Largo
do Farol da
Barra), em Salvador,
estado da Bahia,
no Brasil.
No
local, que domina a entrada da barra de Salvador, diante do qual Gonçalo Coelho teria
fundeado, aquele navegador fez erguer um padrão de posse para aCoroa
Portuguesa, a 1 de novembro de 1501: conforme o calendário católico então
adotado, era dia de (Dia de
Todos-os-Santos).
A
primeira estrutura no local, para defesa da barra do porto da então capital da
Colônia, foi erguida durante o Governo Geral de Manuel Teles Barreto (1583-1587) (BARRETTO, 1958:170). Provavelmente de faxina e terra,
foi reconstruída em alvenaria de
pedra e cal,
a partir de 1596 durante
o Governo Geral de D.Francisco de Sousa (1591-1602), com planta atribuída ao Engenheiro-mor de Portugal, o cremonense Leonardo Torriani (1560-1628), no formato de um polígono octogonal regular.
Um manuscrito depositado no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (L.
67 Ms. 1236), anónimo e sem data, mas do início do século XVII,
possívelmente anterior a 1608,
no capítulo dedicado à capitania
da Bahia de Todos os Santos,
sobre a cidade da Bahia (sic) informa a respeito deste forte:
"(...)
e mais apartado da cidade, em uma ponta de terra, está o Forte de Santo Antônio
o qual tem de presídio dez soldados, dos quais quatro sãomosqueteiros e seis arcabuzeiros, um cabo, condestável que todos vencem soldo
conforme o de S. Filipe. Tem o capitão com 40.000 [ réis ] de ordenado."1
No
mesmo período, Diogo de
Campos Moreno complementa essas
informações:
"Forte
de Santo António da Barra com um canhão de bronze de 38 quintais jogando 10 libras de
bolas; dois sacres ou meia espera de bronze de dezoito quintais jogando 10
libras de bola; um falcão de dedo de seis quintais. O capitão tinha de ordenado
60 mil réis anuais; o tenente ou cabo de esquadra, 38 mil réis; e dez
mosqueteiros, a 33 mil réis cada um. O condestável de artilharia percebia
38.400 por ano. Um ajudante, a 19.200 [réis]."2
No
contexto das Invasões holandesas
do Brasil foi ocupado pelos neerlandeses na
ofensiva de 1624 sem
oferecer resistência, no dia 9 de
maio. Foi reconquistado por tropas
luso-castelhanas no ano seguinte, que nele concentraram o foco do
contra-ataque, até à chegada da esquadra de D. Fadrique
de Toledo Osório. Desse modo, foi ao abrigo do
fogo da artilharia do Forte
da Barra, que quatro mil homens desembarcaram para a retomada de Salvador,
de onde expulsaram os invasores a 30 de abril.
Em 1626, um arquiteto francês projetou-lhe a forma de
um polígono hexagonal, com dez metros de lado (SOUZA, 1983:171), o que se
acredita não tenha se materializado, uma vez que se encontra figurado por João
Teixeira Albernaz, o velho (Baía
de Todos os Santos, 1631.
Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro), ainda como um polígono octogonal, mas
artilhado com apenas três peças pelo lado do mar. O acesso, pelo lado de terra,
alcançava as dependências de serviço, no terrapleno, flanqueadas por dois baluartes circulares.
Após
o naufrágio do Galeão
Santíssimo Sacramento,
capitânia da frota da Companhia
Geral do Comércio do Brasil,
num banco de areia frente à foz do rio
Vermelho, a 5 de
maio de 1668, o forte foi reedificado a partir de 1696, durante o Governo Geral de João de Lencastre (1694-1702), quando recebeu um farol - um torreão quadrangular encimado por uma
lanterna de bronze envidraçada,
alimentada a óleo de baleia -,
o primeiro do Brasil e o mais antigo do Continente (1698), quando passou a ser chamado de Vigia
da Barra ou de Farol da
Barra.
Em 1705 o Senado da Câmara de Salvador solicitou
ao Governador-geral D. Rodrigo da Costa (1702-1705),
que Santo
Antônio de Lisboa sentasse praça nesta
fortificação, no posto de Capitão (BARRETTO, 1958:170-171). A proposta foi
aceite, tendo o Governador-geral expedito ordem, a 16 de Julho do
mesmo ano, ao Provedor-mor da Fazenda Real do Estado do Brasil,
para que o santo assentasse praça no posto de Capitão-intertenido, com o soldo
sendo pago ao síndico do Convento
de São Francisco, o que foi aprovado pela
Coroa por Alvará de 7 de Abril de 1707. Posteriormente, pelos Decretos de 13 de Setembro de 1810 e de 25 de Novembro de 1814, o soberano promoveu o santo aos postos de
Major e de Tenente-coronel, respectivamente.
O
forte apresentava ruína em 1752 e sofreu reformas em 1756 (SOUZA, 1983:171). BARRETTO (1958) dá-o
como guarnecido por um Capitão comandante, um Sargento artilheiro, dois
Tambores e oito Soldados artilheiros, artilhado com oito peças de bronze (duas de calibre 24, quatro de 16 e duas
de 12) e dezessete de ferro (oito
de calibre 36 e nove de 8) (op. cit., p. 170), acredita-se que para esse
meado do século XVIII. A iconografia de José António Caldas("Planta e fachada do forte de S. Antonio da Barra". in: Cartas
topográficas contem as plantas e prospectos das fortalezas que defendem a
cidade da Bahia de Todos os Santos e seu reconcavo por mar e terra,
c. 1764. Arquivo
Histórico Ultramarino, Lisboa), exibe a planta atual, de autoria do
EngenheiroJoão Coutinho, atribuída ao ano de 1772, quando recebeu o formato de um polígono
decagonal irregular, com seis ângulos salientes e quatro reentrantes, com parapeitos à barbeta. O terrapleno, acessado por um túnel em rampa que termina em escadaria, abriga edificações de um pavimento
compreendendo as dependências de serviço (Casa de Comando, Quartel
da Tropa, Cozinha, Casa
da Palamenta, e outras), e cisterna abobadada. Nele estava situada ainda
a torre do farol, de seção cilindrica. A construção é em alvenaria de pedra gnaisse, extraída do próprio local, e a portada é em cantaria de arenito.
Encontra-se
representado numa iconografia de Carlos Julião,
sob o nome de 9. Forte de S. A. da Barra (Elevaçam e fasada
que mostra em prospeto pela marinha, a cidade de Salvador, Bahia de todos os
Santos, 1779. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, Lisboa), ilustrada com os desenhos de trajes
típicos femininos. Em 1809 contava com dezesseis peças, de calibres
de 48 a 24 (SOUZA, 1885:92).
Acredita-se
que o autor tenha se baseado no "Parecer sobre a fortificação da
Capital", do Brigadeiro José
Gonçalves Leão, presidente da Junta
encarregada pelo Governador da Bahia, em 1809, de propor as obras necessárias
para a defesa da península e do recôncavo (in: ACCIOLI. Memórias
Históricas da Bahia. Vol. VI. p. 179 e segs). Planta da época,
assinala que o forte não dispunha de fosso e nem de ponte levadiça. A Casa de Comando, alteração
do século XIX,
apresenta janelas com
lenço de pedra sob as guarnições.
Durante
a Guerra da
Independência (1822-1823) esteve em
mãos das forças portuguesas sob o comando do Coronel Inácio
Luís Madeira de Melo (1775-1833),
até à rendição em 1823 (GARRIDO,
1940:85).
À
época do Período Regencial, o Decreto de 6 de julho de 1832 determinou a instalação de um farol mais
moderno, fabricado na Inglaterra, em substituição ao antigo. Ao término das
obras, inauguradas em 2 de dezembro de 1839, o novo equipamento de luz catóptico erguia-se
sobre uma torre troncônica de alvenaria, com alcance de dezoito milhas náuticas com
tempo claro (PRADO, Roberto Coutinho do (Cap. de Fragata). Faróis
Brasileiros. Revista Correio Filatélico. a. 19, set./out. 1995, n°
156. p. 36-40).
"28
de Outubro - (...) De tarde fui passear à Barra, (...). Numa ponta da terra que
entra pelo mar e sobre o morro, todo verde de relva, contrastando com as pedras
próximas, levanta-se o forte de Santo Antônio da Barra dentro do qual está um
farol. A torre tem 76 degraus em espiral, e mais dois lanços, um de nove degraus e outro
de oito até à base de apoio do aparelho ao qual se chega subindo mais seis degraus.
O aparelho compõe-se de 21espelhos parabólicos de metal branco, sete dos
quais são cobertos por vidro vermelho. Dá uma volta em 5 minutos, e
consome 34 canadas de azeite doce por mês. (...) A despesa com a limpeza do
aparelho é por conta do Arsenal. (...) Não há água perto, e apanham a da chuva
dentro de umas pipas que vi dentro do forte." (PEDRO II, 2003:165-166)
No
contexto da Questão Christie (1862-1865), o "Relatório do Estado das Fortalezas da
Bahia" ao Presidente da Província, em 3 de agosto de 1863, deu-o como inútil para a sua finalidade
defensiva, utilizado como farol (ROHAN, 1896:51), citando:
"(...)
É esta fortaleza o assento do farol, a favor de cujo serviço perdeu o seu
destino próprio, e nem pode prestar simultâneamente com aquele, porque dos
abalos e vibrações de artilharia devem resultar graves inconvenientes para as
funções e mesmo existência do farol; mas quando o uso e as vantagens deste devessem
ser propostas às que se podem tirar do Forte como recurso bélico, seria
necessário o restabelecimento das obras de terrapleno, e as reparações
reclamadas pelo abandono em que parece estar, apesar de ser habitada pelo
pessoal do serviço do farol.
Em
seu interior possui a fortaleza quatro casas, sendo duas abobadadas contíguas à
entrada e duas no solo do terrapleno, que são alojamentos das pessoas acima
aludidas e dependências do serviço do farol: estas casas precisam de algumas
reparações." (op. cit., p. 56)
Novos
reparos foram procedidos no forte em 1875, quando contava com nove peças em mau estado
(SOUZA, 1885:92). Em 1888 um
novo aparelho de luz foi encomendado na Europa para o Farol da Barra|Farol
da Barra]], inaugurado em 20 de agosto de 1890.
Vista aérea do Forte de Santo Antônio da Barra
Em 1903, novos reparos foram procedidos na estrutura do
farol e nas casas dos faroleiros. Em 1906 o Ministério do Exército cedeu o edifício
mais próximo ao Farol, no terrapleno, para servir de residência aos faroleiros,
e em agosto do ano seguinte a Capitania dos Portos recebeu o montante
necessário para consertos gerais e pintura externa e interna do farol e casa
dos faroleiros, procedimentos repetidos em 1933, 1934 e 1935 (PRADO, 1995). De propriedade da União,
o Forte de Santo Antônio da Barra, Forte Grande ou Fortaleza
da Barra, foi tombado pelo então Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938.
Administrado
pela Marinha do Brasil, após uma inspeção realizada pelo então Capitão-de-Mar-e-Guerra Max Justo
Guedes, foram executadas, de junho
de1974 a 31 de março de 1975, obras de adaptação para a instalação da Seção
do Museu Naval e Oceanográfico (Museu de Hidrografia, especializado emhidrografia e cartografia náutica)
nas suas dependências. Novas obras para ampliação do Museu e restauro do forte
e farol foram executadas em 1990, com o apoio da empresa AGA S/A e pessoal da guarnição do navio
balizador Faroleiro Nascimento,
da Marinha brasileira (PRADO, 1995), tendo sido homenageado com uma
emissão filatélica da ECT da Série Faróis Brasileiros,
emitido em 28 de setembro de 1995.
O
forte integra o Projeto de revitalização das Fortalezas Históricas de
Salvador, da Secretaria de Cultura e Turismo em parceria com o Exército Brasileiro. Voltou a sofrer intervenção de restauro no período de 1995-1998 com recursos oriundos da Fundação
de Assuntos do Mar (ProMar) através de
convênio firmado com o Ministério da Marinha, passando a abrigar o Museu
Náutico da Bahia (10 de dezembro de 1998), que mantém em acervo peças dearqueologia submarina,
réplicas de embarcações, equipamentos para navegação, cartas náuticas e outros
documentos.
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