Mundo: curiosidade
Sarah
Shearman
Da BBC Travel
Da BBC Travel
Mata tropical da ilha ainda é 80% virgem
Isla Coiba, no Panamá, tem todos os
aspectos de um perfeita ilha deserta: água cristalina, areias brancas e uma
série de palmeiras em frente a uma densa e inexplorada floresta. Quando cheguei
à ilha, havia apenas alguns turistas boiando na água morna do mar ou tirando
sonecas e redes à sombra.
É
difícil imaginar que essa ilha paradisíaca tenha um passado tão negro – e um
futuro tão incerto.
Por
quase um século, Isla Coiba, parte de um arquipélago de 38 ilhas que forma o
Parque Nacional Marinho de Coiba, era sede de uma notória prisão. Para lá eram
enviados os mais perigosos criminosos do Panamá e, segundo rumores, por lá
desapareciam presos políticos.
Por
contar com diversas espécies de cobras e insetos venenosos e ter suas águas
mais distantes repletas de tubarões, Isla Coiba não oferecia chances de fuga
para os milhares de prisioneiros, conhecidos como Os Desaparecidos.
No
século 20, o Panamá passou por imensas mudanças ambientais. Mas, em Coiba, a
falta de interferência humana significa que a natureza ficou em paz. Cerca de
80% da floresta tropical da ilha é virgem – com 194 quilômetros quadrados, é a
maior floresta da América Central. Em 2005, após a prisão ter sido desativada,
o parque nacional foi declarado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco,
a agência da ONU para a cultura.
Encalhado
A
bio diversidade em Coiba atrai cientistas e turistas. Há um grande número de
mamíferos, pássaros e plantas indígenas e a ilha é refúgio para espécies
ameaçadas como águias e araras. A ilha está situada na mesma cadeia aquática de
montanhas que as Ilhas Galápagos, no Equador, e também conta com uma rica fauna
e flora marinha. Suas águas servem de corredor migratório para arraias,
tartarugas, peixes pelágicos, golfinhos e baleias.
Navios de cruzeiro fazem paradas para turismo na ilha
Coiba
tem também a reputação de ser um dos melhores lugares para mergulhos. Ao
contrário de outros locais da região, a ilha fica perto da Costa o suficiente
para permitir viagens de apenas um dia. Muitos visitantes partem de Santa
Catalina, que fica a apenas 20km.
E
a viagem não desaponta. No primeiro dia em que mergulhei, além de uma profusão
de peixes que incluiu tubarões, vi golfinhos e um grupo de baleias-piloto.
Também vi a vida selvagem em terra: iguanas, macacos e abutres. Enquanto
lanchávamos, vi uma criatura que parecia o cruzamento de um castor com um
coelho. Meu instrutor de mergulho, David, disse que era um ‘ñeques’, um dos
muitos mamíferos endêmicos de Coiba.
O
segundo dia foi ainda mais impactante. Logo de manhã, vi um imenso navio de
cruzeiro no horizonte. A praia de Coiba logo ficou agitada, com funcionários do
navio aprontando espreguiçadeiras, barracas e toalhas para os passageiros, bem
como um churrasqueira e um bar. Lanchas, então, trouxeram cerca de 150 pessoas
para a areia.
Poucos
passageiros sabiam que estavam chegando para uma experiência digna de Robinson
Crusoé: ao voltar de um de meus mergulhos, fui informada que o navio, o Star
Pride, tinha encalhado em um recife ao se aproximar da ilha. À medida em que as
horas passaram, o navio parecia adernar. Depois de várias tentativas de
desencalhar, o capitão avisou aos passageiros que outra embarcação os buscaria
à noite.
No passado, ilha abrigou presídio
Foi
a senha para que eu decidisse participar de uma caminhada pela floresta. Depois
de uma caminhada por um morro que me fez suar um bocado, atingimos um mirante
de onde era possível ver a dimensão do parque marítimo e das ilhas vizinhas.
Na
areia, alguns passageiros decidiram aproveitar a comida e bebida de graça, mas
outros ficaram nervosos e ansiosos por causa de pertences e remédios deixados a
bordo do navio. Eu não sabia se os passageiros sabiam dos mosquitos que
apareceriam na praia depois do por do sol ou dos crocodilos que passeariam pela
areia na escuridão.
Mas
deixei o caos para participar de um mergulho noturno. Caí n’água quando o céu
estava lilás e, quando emergi, já estava tudo escuro. Quando voltamos à praia,
os passageiros estavam sendo resgatados. Por volta de meia-noite, estavam todos
a bordo do novo navio, mas o original permaneceria encalhado por algumas
semanas.
Funcionários
da empresa de cruzeiros coletaram o lixo da praia, que estava sendo degustado
por abutres. Foi um alívio ver a tranquilidade retornar.
Ilha não tem restrições para número de
turistas
A
crescente popularidade da ilha no circuito de cruzeiros é uma preocupação para
muitos. Com um suprimento de água limitado e pouca infraestrutura, Coiba não
tem como sustentar um grande fluxo de turistas. Camilo Consuegra, dono de uma
empresa de mergulho, explica que não há restrições para o número de turistas
que podem visitar a ilha. Licenças são exigidas para pernoites, mas o mesmo não
se dá com viagem de um dia.
No
último dia de viagem, fomos visitar outra bela ilha do arquipélago: Isla
Rancheria, um centro de pesquisas científicas para o Instituto Smithsonian.
Havia sinais alertando para a presença de crocodilos, mas a criatura mais ameaçadora
que notei foi um molusco ermitão.
Se
no passado a ausência de interferência humana fez a vida florescer em Coiba,
agora é justamente a ação humana que pode assegurar que o parque permaneça
preservado para as futuras gerações.
Leia versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.
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