Literatura: arquitetura
“Solitário,
sigo a sina de cursar o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) para um
dia quem sabe, obter o título da Síndrome do Esquecimento Precoce; porque, como
tem formado, fabricado sábios e gênios nas competentes linhas de produção das
Universidades atuais, as quais fui expulso pela minha ignorante estupidez!”
Abrolhos Súdito moderno
e feche esse sorriso de metal fundido em cores; pois tudo que procuras e pensas
revolucionar, já foi criado pela benevolente Natureza ou pelos próprios súditos
dela que choraram lágrimas de sangue, para você pôr tudo às ruínas. Portanto,
pouco ou nada resta para vós fazer e ainda acha que é muito? Biologicamente,
não vale nem um mínimo fio de estrume animal, não equivale a uma minhoca,
parasita usurpador da Natureza imprestável!
A arquitetura mundial
por muitos anos reverenciou o arquiteto Brasileiro Oscar Niemayer, que dizia
ser socialista por princípios, mas que em seus projetos e obras o que mais se
vê é a arte através do concreto; e concreto juntamente com o petróleo, são os marcos
do capitalismo. Portanto, fatalmente, o arquiteto propondo e executando a
arquitetura rígida do tudo de concreto e nada de bambu, encheu as canastras de
money.
O memorial da América
Latina é um exemplo concreto e notório de seus projetos; pois no espaço aberto,
que poderia ser um majestoso e florido parque, faltam bancos, árvores
frutíferas, coqueiros, pássaros, chafarizes, jardins, gramados, fontes
luminosas e se faltam tudo isto, falta também a descontração humana; no
entanto, o grandioso espaço foi milimetricamente concretado. Será que o
arquiteto sabia que construir de maneira ecológica é investir em humanismo, o
que também representa fielmente a integração e ação socializadora entre os
seres vivos?
A interação plena com a Natureza desperta, eleva e faz sorrir a alma;
sobretudo, o sorrir descomprometido canaliza as benévolas energias, lançando no
ar o almíscar perfumado das flores.
No senso popular, “Quem casa, quer casa”,
para certas espécies animais, quem acasala quer ninho ou uma modesta casa e o
resto fica por conta da troca mútua e indivisível do amor. Partindo deste
pressuposto, o pioneiro na Bioarquitetura mundial é a ave João de barro, ou
Forneiro de nome científico (Furnarius rufus). Sabiamente, o pássaro
pertencente à família dos Furnariidae, implanta a sua moradia em lugares
protegidos contra a ação da chuva, rajadas de vento, excesso de sol e quanto
mais equilibrado acusticamente for, melhor. Por ser curioso do ocaso, constrói
em lugares, de modo que a vista panorâmica ao longe esteja sob seus olhos. As
construções de uma porta só e sem janelas, além de ensaio para o estudo técnico
da Bio-Arquitetura, são privilegiadas e atraentes, basta parar para observar
quão obsequiosas são.
As matérias primas são a
argila (barro) de textura e dureza apropriadas, qualidade, a palha e o esterco
mole de preferência de bovinos; resultando numa mistura argilosa de excelente
vedação e isolante térmico. A questão do acabamento e estética arquitetônica
são dois itens à parte, cujo estilo que lhes é peculiar, embelezam e dão o
toque de charme e bem estar à residência do casal. Indiscutivelmente, as
residências temporárias dessas aves são um dos ninhos mais laboriosos e
bonitos, dentre todas as espécies de aves e pássaros.
“Eu quero uma casa no
campo,
Do tamanho ideal,
pau-a-pique e sapé,
Onde eu possa plantar
meus amigos,
Meus discos e livros,
E nada mais”.
Essa estrofe da letra da
música “Casa no campo” de Zé Rodrix e Tavito, interpretada por Elis Regina,
poderia muito bem ser o artigo na íntegra; afinal, apenas essas quatro linhas
finais da música retratam com clareza e certa dose de incerteza o que seria os
anos vindouros; isso porque, bons e verdadeiros “amigos” não se plantam
facilmente – na realidade não nascem mais-; “discos e livros” são para quem
prioriza a cultura e o conhecimento em vez de diplomas e status, por isso
acompanham os “amigos” e para piorar, nada daquilo que foi escrito nas duas
primeiras linhas, não servem nem para reflexão, pois aqueles que cresceram
cercados pela selva de pedra, tragando e ardendo os olhos com os tufos de
fumaça dos escapamentos de carros e aquecendo-se nas labaredas de fogo
desprendidas pelas chaminés de indústrias, jamais querem saber de “casa no
campo, de tamanho ideal, pau-a-pique e sapé”.
Para os compositores,
uma vida simples, modesta e comezinha, onde pode-se desfrutar de ar filtrado
pelas florestas, cumprimentar os vizinhos ao alvorecer do crepúsculo, prosear
com as estrelas sob o clarão do luar, bebericar um bom vinho caseiro
acompanhado de nesgas de queijo ao lado do fogão à lenha; ouvir o chuá
sonolento das águas, bem com o rangido da pedra mó esfarelando o milho no
moinho; o bater do “carneiro hidráulico” elevando água cristalina ao
reservatório; o carro de boi carregado “gritando” no despenhadeiro; degustar de
um fiapo de carne defumada diretamente no jirau; tomar banho relaxante de
chuveiro de serpentina; colher flores no jardim em vez de flores de plástico
para adornar as grandes mesas de madeira, são coisas de pessoas anacrônicas,
ultrapassadas e cafonas. Entre o campo, cuja moradia poderia ser ecológica e o
apartamento decorado pelo concreto, a preferência é pela praia; e o alçapão do
apartamento à liberdade e o bem estar do campo.
Nesse emaranhado de
realidades, veio à tona a questão da degradação do meio ambiente, escassez dos
recursos naturais e consequentemente, os questionamentos dos meios construtivos
urbanos como parte da degradação ambiental; com isto, criaram-se as teorias das
construções ecológicas. Entretanto, as novas metodologias construtivas foram
trabalhadas em cima dos materiais que já eram usados nas construções e técnicas
rudimentares que até então, eram os colonos, os sertanejos e os camponeses que
faziam uso. As alvenarias eram construídas trançando bambus - taquaras - entre
os mourões - esteios - e vedados com barro - argila - que poderia ser mexidos
com um pouco de outro material para melhor coesão da mistura e resistência ao
cisalhamento.
Atualmente, oriundo dos
projetos rodoviários, a argila pode ser misturada com o cimento; o que melhora
as propriedades físicas e a estética da alvenaria. O telhado era feito com sapé
e o forro trançado com taquara. O piso era o próprio chão bem apiloado (batido).
Janelas de madeira e a casa pintada com tabatinga, material este retirado nos
barrancos de argila colorida e posteriormente trabalhado para tal finalidade.
Fogão à lenha, jirau para defumar carnes, chuveiro à serpentina, iluminação à
base de candeeiro, etc, completavam o lado ecológico dessas residências.
Esse tipo de construção
foi bem usual nos meios rurais no século passado e a explicação era o custo,
aliado às condições financeiras da população. No Sul, região em que os povos
são mais conservadores de suas raízes e origens, ainda encontram-se inúmeros
galpões construídos assim. Por ironia, os tempos passaram, mas os bons exemplos
estão retornando e esse modelo de construção se enquadra nos novos modelos de
construção ecológica.
A rusticidade da
construção de taipa deu lugar às construções que chamam de construções
ecológicas, o que em partes também se deve às inovações e metodologias
técnicas; pois o projeto de uma casa ecológica prevê, além daqueles itens
elementares das construções antigas, sistema de captação e reutilização de
água, tanto pluvial quanto de uso doméstico; preocupação com o sistema de
iluminação; geração de energia; destinação final do lixo residual; materiais a
ser utilizados na construção; cuidados e manutenção da área verde circundante;
preservação das nascentes, captação de água potável, etc. Daí, para que sejam
atendidos de forma plausível e satisfatória todos os quesitos de uma construção
ecológica e sustentável, torna-se preponderante a elaboração de um projeto
executivo.
Embora que essa premissa
tenda a se expandir para os grandes centros, há uma dificuldade muito grande em
implantar projetos como o descrito, pela simples razão que os espaços urbanos
para construção são pequenos, enquanto que a população cresce sem precedentes;
e nos terrenos baldios que ainda restam perdidos no festival de concreto, num
piscar de olhos, como as construções dos brinquedos lego, aparece um apinhado
de barracos com mais de cinco mil famílias assentadas. No entanto, alguns
projetos de conglomerados verticais – prédios - conciliam entre os materiais
convencionais e os modelos alternativos de construção; tais como, iluminação,
sistema de captação de água, pintura, etc. Embora em ritmo vagaroso, existe uma
tendência ecológica em tais construções, caso especifico dos prédios orgânicos,
os quais incluem espaços e fachadas verdes em seus projetos cuja finalidade é o
sequestro de carbono, melhoria do ar e absorção de parte dos poluentes em seus
ambientes internos.
Onde há
superconcentração de pessoas, estão tentando soluções mitigadoras para os
problemas ecológicos, esquecendo-se que é o meio rural que alimenta e nutre as
cidades com a produção de oxigênio e água fabricada nas montanhas pelas
florestas e matas nativas; com a produção de alimentos que por enquanto, ainda
não descobriram nada a não ser o que é produzido pela terra. Fertilizam e
impõem respeito ao concreto dos grandes centros, mas não fertilizam e impõem
respeito ao meio ambiente e Natureza.
No caso das construções
ecológicas querem revolucionar os projetos arquitetônicos, sem no entanto,
consultarem o ilustríssimo e harmonioso João de Barro, ave que não teoriza
Arquitetura, projeto e construção ecológica; mas naturalmente constrói sua
residência priorizando o bem estar e preservação, tanto da família quanto da
Natureza; portanto pode-se dizer sem medo de errar que é a ave conhecedora de
Arquitetura, Ecologia, Naturalismo e deveria ser reverenciada e os seus métodos
construtivos tomados como aprendizado. A casa de uma porta só é construída de
maneira segura e econômica. Por que não adotá-la como a casa do futuro?
Economizaria espaço físico, tempo de construção, reciclaria materiais e o mais
importante, obrigatoriamente reduziria consideravelmente a população do mundo.
Exceto os que acabaram de nascer neste instante, sete bilhões, é gente demais
para um pobre, falível e pequeno Planeta de apenas cinco letras!
Portanto, uma vez que a
Natureza alimenta o homem dos elementos básicos e necessários para satisfazê-lo
em seus afazeres elementares do cotidiano, este sem fazer caso e examinar os
processos técnicos liberados gratuitamente pela Natureza, além de teorizar o
que já existia, ainda por cima pesquisa e estuda para não resolver. O caos
urbano está sofrível e aterrador e de quando em quando, criam os subterfúgios e
as nomenclaturas dos neologismos. A nova moda linguística viabilizadora do caos
no sistema de transportes urbanos chama-se Mobilidade Urbana e o objeto de uso
é a heroína e surrada de outrora, a mestra anoréxica de duas rodas, a Bicicleta.
Se pensas em fazer e
acontecer, consulte primeiro a Natureza, depois a razão e por fim, a ciência;
seguindo esta cadeia de estudo e valores, sofrerás menos, afinal de contas, em
cada ato mal pensado, as consequências são inevitáveis.
Fotos pertencentes
ao autor do artigo.
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