João Eudes Costa
Há
grande angústia no mundo. Uma ansiedade coletiva esconde o sorriso que tanto
nos faz bem e abre a janela da alma para uma comunicação alegre e afetuosa. A
insegurança gera aflição.
Irmãos vivem amargurados, num clima de desconfiança e
medo. Não acreditamos que mãos se levantem para abraçar, ajudar e acariciar. Só
as vemos de arma em punho, dispostas a agredir, açoitar e matar. No
desconhecido vemos um inimigo e no amigo um traidor.
Duvidamos
que alguém bata à nossa porta para nos levar ajuda, incentivo e solidariedade.
Cada visitante nos traz pavor e pode ser um criminoso, assaltante ou usuário de
drogas. Quando alguém nos abraça, não abrimos o coração para receber o afeto.
Fechamos os olhos e enrijecemos os músculos, numa atitude de quem se prepara
para sentir a dor da mortal punhalada.
Os
lábios que beijam não transmitem a quietude da afeição. Acendem a chama da
revolta, porque não sentimos o ósculo como símbolo do amor, mas como marca da
traição e da maldade. Não sentimos no irmão a imagem e grandeza da criação
divina, mas a figura do demônio a nos atormentar e nos fazer, profundamente,
infelizes.
Vivemos
a fugir e nos esconder da própria sombra, buscando abrigo sem encontrá-lo,
tentando usar força sem possuí-la. Choramos, sem consolo, num mundo que se arde
como um imenso vulcão, onde iremos cair se continuarmos perseguindo o nada, sem
rumo, no vazio de uma vida sem amor.
Temos
tempo para pensar em tudo. Na maldade, na perversão, nas orgias e até para
premeditar crimes, assaltos e seqüestros. Não nos faltam horas para
a prática dos vícios, cavalgando como demônios no mundo das drogas, veículos
usados na prática dos maiores desatinos. Só não temos tempo de buscar Deus,
fonte de todas as forças, único caminho capaz de nos conduzir à felicidade
plena e à verdadeira paz tão sonhada.
No
auge da glória, no trono dos prazeres mundanos, coroado pelo dinheiro e poder,
não temos tempo para Deus. Nossos compromissos com os bens materiais consomem
todas as nossas horas. No resplendor de nosso palácio, temos força, prestígio e
esbanjamos coragem frente aos vassalos, escravos de nossa ganância, vítimas de
nossa maldade.
No
primeiro obstáculo, quando as luzes inebriantes da luxúria se apagam trêmulos
de medo fazemos o sinal da cruz, implorando proteção ao Deus a quem jamais
dedicamos um segundo sequer e só tínhamos tempo para desprezá-lo, chicoteá-lo e
crucificá-lo.
Deus
não quer o nosso tempo gasto balbuciando orações vazias de sentimentos e bons
propósitos. Em preces que não jorram de nosso interior nem elevam a alma
contrita à prática das boas ações, expressa na caridade, na piedade e no
perdão.
Na
realidade não nos sobra tempo para encontrar Deus nas coisas simples que nos
rodeiam. Não sentimos a Sua presença na beleza da natureza, criada, com tanto
esmero, para ser o paraíso, onde os homens cultivassem o amor. Não temos tempo
de abrir a porta de nossa alma para que Deus penetre e faça morada em nosso
coração.
Continua
Jesus peregrinando, sem encontrar uma manjedoura, onde possa, novamente,
oferecer paz na terra àqueles que acreditam na força do amor.
O Senhor gostaria que seu nome não
fosse lembrado, por tantas horas, nos templos da hipocrisia, onde a imagem de
Jesus não é o símbolo da verdade e da luz. Onde o orgulho e a vaidade dividem
os homens em seitas diversas, comercializando a boa fé dos incautos seguidores.
Onde o nome de Deus é usado em orações profanas, mascarando interesses
terrenos, distorcendo o verdadeiro caminho, não sobrando tempo para que
possamos seguir os verdadeiros e sagrados ensinamentos de Cristo.
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