sábado, 23 de novembro de 2013

166 ANOS DO NASCIMENTO DE ANTONIO DE CASTRO ALVES


Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e cobardia! ... ( ..)
Auriverde pendão da minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra,
As promessas divinas da esperança,
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem rôto na batalha
Que servires a um povo de mortalha! ( ..)


Aos 14 de março de 1847 nascia na fazenda cabaceiras (Muritiba-BA) aquele que seria uma das expressões mais vigorosas da poesia
nacional. Era filho do casal Dr. Antonio José Alves e D. Célia Brasília da Silva Castro.
 
Após ter feito os estudos primários em São Félix, à beira do Paraguaçu, cursou em 1856, em Salvador, o Colégio Sebrão e depois fez Humanidades no Ginásio Baiano, do educador Abílio Cesar Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde se tornou conhecido pelas versões literárias de poesias de Vitor Hugo e suas próprias produções infantis.
 
Em 1862 seguiu para Recife a fim de fazer os preparatórios de Direito. Ali, cedo se destacou como poeta envolvido nas causas liberais e abolicionistas, refulgindo o seu talento na tribuna, nas recitações e publicações dos seus versos. No ano de 1864 foram Castro Alves e Tobias Barreto reconhecidos os mais notáveis talentos da Faculdade.

Ambos representantes de uma poesia enfática e retumbante, a que se denominou Condoreirismo. Em 1863 havia chegado a
Recife a Companhia Dramática de Furtado Coelho, da qual era primeira atriz a portuguesa Eugênia Infante da Câmara, a quem o poeta vira pela primeira vez no Teatro Santa Isabel, na peça Dalila. Esta se tornaria sua amante de 1866 a 1868, além de ter sido efetivamente a maior paixão de
sua vida.

Em 1866 Castro Alves volta à Bahia, tendo passado por terrível golpe com a morte de seu pai, Dr. Antonio José Alves. Ao regressar ao Recife funda com outros acadêmicos, a exemplo de Ruy Barbosa, Augusto Guimarães, Plínio de Lima e Regueira
da Costa, uma sociedade abolicionista,
que se instalou na Rua do Hospício.
Em 1867, quando deveria cursar o 3° ano jurídico, decide embarcar para a Bahia, em companhia de Eugênia Câmara, jamais regressando ao Recife.

Em Salvador, hospeda-se inicialmente
no Hotel Figueiredo, ao Largo do Teatro, hoje Praça Castro Alves, transferindo-se em seguida para o Solar da Boa Vista, onde o casal passou a residir. Sua maior preocupação, àquela época, era levar ao palco o drama Gonzaga ou A Revolução de
Minas, estreia ocorrida na noite de 7
de setembro de 1867, tendo Eugênia
Câmara, no principal papel, conquistando
o público e a imprensa.

Muitas vezes apresentou-se Castro Alves no Teatro São João, sendo sempre muito aplaudido, não só pela beleza dos seus versos, impecável apresentação, mas também "pela majestade da figura e elegância do porte", conforme asseverou seu contemporâneo João de Brito, em carta
dirigida a Xavier Marques.

A 10 de fevereiro de 1868, a bordo do navio Picardie, de bandeira francesa, partiram o poeta e sua amada para a Capital do Império. No dia 16 de fevereiro, levando carta de apresentação de Fernandes da Cunha, vai até a Tijuca a fim de visitar o grande romancista José de Alencar. Este, em carta que publicou pelo Correio Mercantil, em 22 de fevereiro, disse:
"Recebi ontem a visita de um poeta. O
Rio de Janeiro não conhece ainda, muito breve o há de conhecer o Brasil.

Bem entendido, falo do Brasil que sente do coração e não do resto. O Sr. Castro Alves é hóspede desta grande cidade. Vai para São Paulo concluir o curso que encetou em Olinda" ...
Do escritor cearense, que o recebeu com extrema cortesia, aceitou o poeta o estímulo para conhecer Machado de Assis.
Este, comentando a carta de Alencar declara: " A musa de Castro Alves não podia ter mais feliz introito na vida literária. Abriu os olhos em pleno Capitólio. Os seus primeiros
cantos obtiveram o aplauso de um mestre." E mais: Achei um poeta original.
A musa do Sr. Castro Alves tem feição própria."

Nos dias em que permaneceu no Rio, Castro Alves chamou atenção dos círculos literários e do público carioca, tendo o julgamento dos dois luminares das nossas letras acima mencionados sido publicado no Correio Mercantil de 22 de fevereiro e I° de março de 1868, difundindo a impressão favorável que ambos tiveram do poeta.
Pouco tempo, no entanto, permanece no Rio, seguindo em fins de março, com Eugênia, para São Paulo, matriculando-se no 3° ano de Direito.
Tendo-se apresentado num sarau literário promovido pelo Arquivo Jurídico, no Salão Concórdia, fez estrondoso sucesso, divulgado no dia
seguinte na imprensa local...
 
Em pouco tempo, graças às frequentes apresentações públicas, alcançou rápida celebridade entre os colegas e no meio social da Paulicéia.

No mesmo ano rompeu definitivamente
com Eugênia Câmara, triste desfecho do seu maior caso de amor, que o fez mergulhar em profunda melancolia.
Consta, que, para distrair-se, passou a dedicar-se a caçadas nos arredores da cidade, até que, no dia 11 de novembro de 1868, feriu acidentalmente o pé com um tiro de espingarda. Tendo o ferimento infeccionado, agravou-se o seu estado de saúde com a tuberculose pulmonar, razão pela qual foi o poeta removido para o Rio, onde lhe amputaram o pé gangrenado.

Em fins de 1869 regressou à Bahia para convalescer e cuidar da edição de Espumas Flutuantes, livro que veio a lume nos fins de 1870, no Sobrado. do Sodré, n° 24. Sua obra contempla vertentes: lírica, expressa pelas feições amorosa e naturista e épica social. A lírica também se reveste de toques introspectivos de dúvida e fatalismo diante da existência.
Mocidade e Morte e Quando eu
Morrer são exemplos dessa tônica
intimista.

Foi, porém, sua poesia social, de índole libertária e a orientada para as lutas abolicionistas que lhe concederam perene atualidade. Por essa razão, seu conterrâneo Edison Carneiro, escreveu com muita propriedade: "Pretendo, do ponto de vista político, interpretar a sua obra como poeta republicano,
como porta-bandeira da burguesia revolucionária, como um democrata consequente, que não temia fantasmas, que sabia que o povo faria, mais cedo ou mais tarde, dos ossos dos tiranos, as armas da sua vitória". E mais:
"Profundamente ligado ao povo, Castro Alves dava mais valor à poesia épica e social, à poesia de combate, do que à poesia lírica. Esta interpretação política mantém fidelidade a esse
ponto de vista".

Com efeito, em apenas 24 anos de vida, Castro Alves se fez um "peregrino audaz" dos ideais de seu
povo, razão pela qual sempre se manterá vivo na evocação de sua gente.


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