Fernando Alcoforado*
A
violência das manifestações de junho de 2013 em São Paulo, no Rio de Janeiro e
em
outras
cidades brasileiras trouxe como fato novo os adeptos do “Black Bloc” que são
denominados
por alguns analistas de vândalos e por outros de fascistas e anarquistas.
Independentemente
da denominação que lhes sejam atribuídas, não há dúvidas de que a
violência
dos manifestantes traduz a insatisfação contra as instituições políticas
corruptas
do Brasil e contra o governo central que demonstra ineficiência e
incapacidade
total para atender as demandas da sociedade. A violência dos adeptos do
“Black
Bloc” tem também um caráter anticapitalista e antiglobalização porque o
capitalismo
e a globalização, sobretudo a financeira, são considerados os maiores
responsáveis
pela crise mundial que avassala o planeta e pelo agravamento da situação
econômica
e social em todo o mundo.
Os adeptos
do “Black Bloc” surgiram no Brasil também porque grande parte dos
partidos
políticos, sindicatos e organizações da Sociedade Civil se omitem diante da
grave
situação política, econômica e social vivida em nosso país haja vista que
alguns
deles
foram cooptados pelos atuais detentores do poder e, outros, esmagados por estes
demonstram
incapacidade total de mobilização popular. Na prática, os adeptos do
“Black
Bloc” ocupam o espaço de reivindicação abandonado pelos partidos políticos,
sindicatos
e organizações da Sociedade Civil que apoiam o governo do PT. Os adeptos
do “Black
Bloc” não possuem, entretanto, uma pauta clara dos objetivos que pretendem
atingir.
Os adeptos da tática “Black Bloc” pregam a depredação do patrimônio privado
de grandes
empresas (tendo como alvos preferenciais, no Brasil, as agências bancárias e
concessionárias
de veículos). Fazem isso como ação simbólica de ataque às corporações
capitalistas
e, em última instância, ao capitalismo como sistema.
A revolta
dos adeptos do “Black Bloc” se manifestou, também, contra os governantes
do Brasil
na depredação do patrimônio público que também foi atingido nas
manifestações
de junho de 2013. Ao mesmo tempo, seus integrantes defendem a
democracia
direta desqualificando com razão as instituições da democracia
representativa
e do Estado brasileiro que estão a serviço dos monopólios nacionais e
internacionais
em detrimento dos interesses da população brasileira. As concepções
anarquistas
são, em geral, muito atraentes para aqueles que valorizam a democracia
radical
(direta) e a justiça social no enfrentamento do capitalismo e suas iniquidades.
No
entanto,
esse radicalismo de caráter anarquista não contribui para a derrocada do
capitalismo.
Basta avaliar os resultados da tática “Black Bloc” nas ações
antiglobalização
na Europa e nos Estados Unidos como o “Occupy Wall Street”. Veja-se
o exemplo
da Espanha que, depois das revoltas dos “indignados”, a direita voltou ao
poder nas
eleições seguintes e a política econômica de “austeridade”, adotada pelos
neoliberais
espanhóis do Partido Popular, só aprofundou a recessão e o desemprego,
principalmente
entre os jovens.
Um fato
indiscutível é o de que esquerda e direita têm projetos político-econômicos
incompatíveis.
Para as esquerdas, a defesa da igualdade social é um ponto essencial.
Para as
esquerdas, é fundamental a atuação do Estado na promoção da igualdade social.
Para isso,
os impostos devem ser cobrados de maneira proporcional à riqueza e à renda
dos
cidadãos e das empresas, algo que, como se sabe, não ocorre no Brasil. Nem
mesmo
o imposto
sobre “grandes fortunas”, previsto na Constituição de 1988, foi
regulamentado.
A pauta da direita, por outro lado, é a da liberdade dos negócios, mesmo
que à
custa dos interesses das maiorias e, principalmente, em detrimento dos direitos
das camadas
mais pobres e sofridas da população. E o que querem os adeptos do “Black
Bloc”,
além de enfrentar a polícia e protagonizar ações que simbolizam a “destruição
do
capitalismo”?
Que projeto têm os adeptos do “Black Bloc”? Pelo que se pode ler em
sites do “Black
Bloc” na internet, só há a rejeição radical ao capitalismo.
Cabe
observar que a tática “Black Bloc” surgiu no seio de uma vertente alternativa
da
esquerda
europeia no início da década de 1980 permanecendo muito pouco conhecida
fora do
Velho Continente até o fim do século XX. Foi só com a formação de um “Black
Bloc”
durante as manifestações contra a OMC em Seattle, em 1999, que as máscaras
pretas
ganharam as manchetes da imprensa mundial. É natural, portanto, que muita
gente ache
que a tática tenha surgido com o chamado “movimento antiglobalização” e
tenha se
baseado, desde o início, na destruição dos símbolos do capitalismo. O
lamentável
é a desinformação demonstrada sobre o assunto por certos expoentes e
segmentos
da esquerda tradicional brasileira que chegaram ao ponto de qualificar a
tática
“Black Bloc” de fascista. Os adeptos do “Black Bloc” não são nem vândalos,
estrito
senso, nem fascistas. Eles são anarquistas que chegaram ao Brasil por
influência
da
experiência norte-americana. Ressalte-se que um “black bloc” é um “bloco
negro”,
ou seja,
um grupo de militantes que optam por se vestir de negro e cobrir o rosto com
máscaras
da mesma cor para evitar serem identificados e perseguidos pelas forças da
repressão.
A
corrupção desenfreada em todos os poderes da República e a incapacidade do
governo
brasileiro e das instituições políticas em geral de oferecer respostas eficazes
para as
demandas da população na atualidade tendem a aumentar a violência política no
Brasil,
sobretudo em 2014 quando serão realizadas eleições para a Presidência da
República,
os Governos de Estado e o Parlamento. Os detentores do poder utilizarão de
todas as
armas legais e ilegais para se manterem no comando da nação e seus
adversários
farão de tudo para galgarem o poder. As eleições de 2014 serão decisivas
para o
futuro do Brasil porque a manutenção do PT do poder ou sua substituição pelo
PSDB
significará o não atendimento das demandas da população com a continuidade da
política
neoliberal e antinacional que infelicita a nação brasileira desde 1994. A
vitória
de Eduardo
Campos nas eleições presidenciais de 2014 com a ascensão ao poder do
PSB pode
significar uma mudança radical na vida brasileira se houver um rompimento
com a
política neoliberal e antinacional adotada pelo atual governo.
Se houver
mudança no comando da nação com a adoção de uma nova política
econômica
e financeira diametralmente oposta à atual, o futuro governo poderá se
defrontar
com a oposição de setores econômicos prejudicados. O País poderá ficar
desorganizado
e convulsionado como aconteceu na década de 1960 do século XX
quando a
direita arquitetou o golpe de estado que derrubou o presidente João Goulart. O
caos
poderá se instalar no Brasil com o incremento das manifestações da população e
a
volta dos
adeptos do “Black Bloc” às ruas. Neste contexto, a direita, que sempre esteve
voltada
para a defesa dos interesses das classes dominantes e do capital internacional,
tentará
articular o apoio de certas parcelas da sociedade para alijar os detentores do
poder. É
sabido que, historicamente, em épocas de convulsões sociais, a direita se une.
Em um
ambiente de convulsão social, a violência dos adeptos do “Black Bloc” pode
oferecer a
justificativa necessária para a direita patrocinar um novo golpe de estado no
Brasil
para manter a política neoliberal e antinacional em vigor.
Dois
cenários precisam ser evitados a todo o custo pelo povo brasileiro com as
eleições
de 2014: o
primeiro, o da continuidade dos atuais detentores do poder devido à
incompetência
demonstrada e o descompromisso com os reais interesses da nação que
podem
alimentar a convulsão social no País e, o segundo, o do insucesso de um governo
de
oposição ao atual que assumindo o poder adote uma política voltada para o
atendimento
dos interesses da nação e do povo brasileiro e que, devido a este fato, se
defronte
com obstáculos que levem à desorganização do País e, também, à convulsão
social.
Ambos os cenários podem criar, portanto, a justificativa necessária para a direita
patrocinar
um novo golpe de estado no Brasil para manter a política neoliberal e
antinacional
em vigor se os continuadores do governo atual ou um governo de oposição
venha a
assumir o poder e não reúna capacidade para evitar o aprofundamento da crise
econômica
e política e a convulsão social dela resultante.
*Fernando
Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De
Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São
Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento
(Editora
Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e
Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The
Necessary Conditions of the Economic and Social Development - The Case of the
State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft
& Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador,
2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao
aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São
Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e
Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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