Castrato (plural castrati) é um cantor masculino cuja extensão vocal corresponde em
pleno à das vozes
femininas, seja de soprano, mezzo-soprano,
ou contralto.
Esta faculdade numa voz masculina
só é verificável na sequência de uma operação de corte dos canais provenientes
dos testículos,
ou então por um problema endocrinológico que impeça a maturidade sexual. Consequentemente, a chamada "mudança de voz" não ocorre.
A castração antes
da puberdade (ou
na sua fase inicial) impede então a libertação para a corrente sanguínea
das hormônios sexuais produzidas pelos testículos, as quais provocariam o crescimento
normal da laringe masculina
(para o dobro do comprimento) entre outras características sexuais secundárias,
como o crescimento da barba.
Quando
o jovem castrato chega à idade adulta, o seu corpo desenvolve-se,
nomeadamente em termos de capacidade pulmonar e força muscular, mas a sua
laringe não. A sua voz adquire
assim umatessitura única,
com um poder e uma flexibilidade muito diferentes, tanto da voz da mulher adulta, como da voz mais aguda do homem
não castrado (contratenor).
Por outro lado, a maturidade e a crescente experiência musical do castrato tornavam
a sua voz marcadamente diferente da de um jovem.
Os castrati na história
A
prática de castração de jovens cantores (ou castratismo) existia desde o início
do Império Bizantino, em Constantinopla em torno de 400 d.C., a imperatriz bizantina Élia Eudóxia tinha
um coro cujo
mestre era um eunuco,
que pode ter estabelecido o uso de castrati em coros
bizantinos. Por volta do século IX,
cantores eunucos eram bem conhecidos (pelo menos em Basílica
de Santa Sofia), e permaneceu assim até
o saque de
Constantinopla pelas forças ocidentais
da Quarta Cruzada em 1204,
a partir de então, a prática de cantores eunucos desapareceu.
Somente
no século XVI na Itália, os castrati reapareceram,
devido à necessidade de vozes agudas nos coros das igrejas. No fim da década
de 1550,
o duque de Ferrara tinha castrati no coro da
sua capela. Está documentada a sua existência no coro da igreja de Munique a partir de 1574 e no coro da Capela Sistina a
partir de 1599.
Na bula papal Cum
pro nostri temporali munere de 1589, o papa Sisto Vaprovou
formalmente o recrutamento de castrati para o coro da Basílica de S. Pedro.
Os
eunucos vivem mais do que os homens normais
Na ópera, esta prática atingiu o seu auge nos
séculos XVII e XVIII.
O papel do herói era
muitas vezes escrito para castrati, como por exemplo nas óperas
de Handel.
Nos dias de hoje, esses papéis são frequentemente desempenhados por cantoras ou
por contratenores. Todavia, a parte composta para castrati de algumas
óperas barrocas é de execução tão complexa e difícil que é quase impossível
cantá-la.
Muitos
rapazes que eram alvo da castração eram crianças órfãs ou abandonadas. Algumas famílias pobres,
incapazes de criar a sua prole numerosa, entregavam um filho para ser castrado.
Em Nápoles,
recebiam a sua instrução em conservatórios pertencentes
à Igreja, onde leccionavam músicos de renome. Algumas fontes referem que
muitas barbearias napolitanas
tinham à entrada um dístico com a indicação "Qui si castrano ragazzi"
(Aqui castram-se rapazes).
Em 1870, a prática de castração destinada a este fim
foi proibida em Itália,
o último país onde ainda era efectuada. Em 1902, o papa Leão XIII proibiu
definitivamente a utilização de castrati nos coros das
igrejas. O último castrato a abandonar o coro da Capela Sistina foi Alessandro Moreschi, em 1913.
Na
segunda metade do século XVIII, a chegada do verismo na ópera fez com que a popularidade
dos castrati entrasse em declínio. Por alguns anos, ainda
existiram desses cantores na Itália. Com o tempo, porém, esses papéis foram
transferidos aos contratenores e, algumas vezes, às sopranos.
O filme "Farinelli
Caricatura do ano 1724, representando Farinelli em trajes femininos.
O
mais famoso castrato do século XVIII terá
sido Carlo Broschi, conhecido por Farinelli, tendo sido realizado um filme sobre a sua vida, Farinelli il
Castrato.
O
filme "Farinelli", de Gérard
Corbiau (1994) focaliza a vida do mítico cantor italiano Carlo Broschi (1705-1782), que iniciou sua carreira ao lado do irmão, o pianista Ricardo Broschi. Fora aluno de Nicola Porpora e
ganhou muito prestígio em toda a Europa. Aparece como um galã, de olhar triste e solitário, que encerrou
carreira como cantor exclusivo do rei Felipe V da Espanha, que o contratou porque seu canto era a única coisa que o tirava
da depressão.
No
longa-metragem, Farinelli vive um embate com o compositor Haendel, que quase vai à falência quando o astro rouba o público de
seu teatro para
o do concorrente.
Na
época dos castrati, a estrela era o cantor; a música, portanto, deveria estar a serviço dele. E
o filme toca
nesse assunto quando Haendel descarrega em Farinelli todo seu ódio. De ambas as partes, era uma relação alimentada
por admiração e raiva.
Farinelli
alcançava 3.4 oitavas,
do Lá2
até o Ré6,
com sua voz e, dizem, tinha a capacidade de sustentar 150 notas em um só
fôlego. Para fazer o filme, foi necessário juntar a interpretação de dois
cantores, um contratenor e
uma soprano coloratura.
Como
não há gravações, ninguém sabe dizer ao certo como era a voz de Farinelli e de
seus contemporâneos.
Há
apenas alguns registros do último castrato, Alessandro Moreschi (1858-1922), que serviu na Capela Sistina e,
entre 1902 e 1904, gravou dez discos.
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