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No século XVII ocorreu o deslocamento do centro da economia para o sul. O sertão nordestino já castigado pelo flagelo das secas prolongadas vê agravarem-se as desigualdades sociais. Neste panorama visualiza-se a figura do coronel, detentor de todo o poder e lei da região que se considerava senhorio. A existência de constantes conflitos devido às posses e limites geográficos entre as fazendas, além das
rivalidades políticas, fez com
que estes senhores feudais, procurassem cercar-se do maior número de jagunços
(vassalos dos coronéis) e cabras, necessários para defender seus interesses.
Deste modo, se criaram verdadeiros exércitos particulares e verdadeiras guerras
foram travadas entre famílias. Este quadro, como conferimos, foi propício para
o aparecimento do banditismo.No século XVII ocorreu o deslocamento do centro da economia para o sul. O sertão nordestino já castigado pelo flagelo das secas prolongadas vê agravarem-se as desigualdades sociais. Neste panorama visualiza-se a figura do coronel, detentor de todo o poder e lei da região que se considerava senhorio. A existência de constantes conflitos devido às posses e limites geográficos entre as fazendas, além das
No final do Império e em seguida a grande seca de 1877-1879, a miséria e a violência eram crescente, o que viabilizou, em face da luta pela própria sobrevivência, o surgimento dos primeiros bandos armados independentes do controle dos grandes fazendeiros. Nesta época, destacavam-se os bandos de Inocêncio Vermelho e de João Calangro.
O fenômeno do Cangaço ocorreu no Polígono das Secas, região do semiárido nordestino conhecida como caatinga, uma área com cerca de 700.000 km de extensão.
Quase todos os rios da caatinga secam completamente na época da estiagem, levando o sertanejo ao desespero por não conseguir plantar sequer o suficiente para o consumo de sua própria família. É obrigado a cavar cacimbas no leito dos rios para obter água. Em certos lugares, usam a raiz do umbuzeiro, que concentra uma grande quantidade de líquido.
Nos sertões de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe não existe só aridez. Além do Rio São Francisco - o velho Chico, como é conhecido - que não seca, existem cachoeiras, como a de Triunfo-PE, com queda d´água de 60 metros.
Na Serra do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco, há uma mata densa na região de Barbalha (CE), com árvores de até 40m de altura; uma floresta tropical. Em Garanhuns o clima é ameno. No município de Floresta há a Reserva Florestal de Serra Negra, formada por mata densa.
Já no Raso da Catarina e na região de Canudos, na Bahia, a terra está completamente exposta e a aridez é total.
É nesse cenário de contrastes que viveram os protagonistas da história do Cangaço, que teve em Lampião seu mais importante personagem.
Na sua forma mais conhecida, o Cangaço surgiu no Século XIX, e terminou em 1940. Segundo alguns relatos e documentos, houve duas formas de Cangaço:
A mais antiga refere-se a grupos de homens armados que eram sustentados por seus chefes, na sua maioria donos de terras ou políticos, como um grupo de defesa. Não eram bandos errantes, pois moravam nas propriedades onde trabalhavam subordinados aos chefes.
A outra refere-se a grupos de homens armados, liderados por um chefe. Mantinham-se errantes, em bandos, sem endereço fixo, vivendo de assaltos, saques, e não se ligando permanentemente a nenhum chefe político ou de família. Estes bandos independentes viviam em luta constante com a polícia, até serem presos e mortos.
Protagonistas
Cangaceiro - Normalmente agrupados em bandos procuravam manter boas relações com chefes políticos e fazendeiros. Nestas relações eram frequentes a troca de favores e proteção em busca da sobrevivência do grupo.
Coronel - chefe político local; dono de grandes extensões de terra; autoridade político- econômica; tinha poder de vida e morte sobre a sociedade local; suas relações com os cangaceiros eram circunstanciais; seu apoio dependia do interesse do momento.
Coiteiro - além dos coronéis, compunha o cenário do cangaço o coiteiro, indivíduo que fornecia proteção aos cangaceiros. Arrumava alimentos, fornecia abrigo e informações. O nome coiteiro vem de coito, que significa abrigo. Quanto menor o poder político e financeiro do coiteiro, mais ele era perseguido pelas forças policiais, pois era uma valiosa fonte que poderia revelar o paradeiro de grupos de cangaceiros. Existiram coiteiros influentes: religiosos, políticos e até interventores.
Volantes - forças policiais oficiais, embora houvesse também civis que eram contratados pelo governo para perseguir os cangaceiros.
Cachimbos - perseguiam cangaceiros por vingança e não tinham vínculo com o governo.
Almocreves - transportavam bagagens, bens materiais.
Tangerinos - tocavam boiada à pé.
Vaqueiro - condutor de gado, usava roupa toda feita de couro para proteger-se da vegetação típica da caatinga (espinhos, galhos secos e pontudos).
Lampião, Herói Ou Bandido?
Lampião
Virgolino nasceu no dia 07 de Julho de 1897, no Sítio Passagem das Pedras, na Serra Vermelha, atual Serra Talhada. Seus pais eram José Ferreira e Maria Sulena da Purificação.
O bando do mais temido dos cangaceiros, entrava cantando nas cidades e vilarejos. Com chapelões em forma de meia lua ricamente ornamentados com moedas de ouro e prata e roupas de couro, os bandidos chegavam a pé e pediam dinheiro, comida e apoio. Se a população negasse, a cantiga cedia lugar à marcha fúnebre: crianças eram sequestradas, mulheres violentadas e homens, rasgados a punhal. Mas, caso os pedidos fossem atendidos, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, organizava um baile e distribuía esmolas.
Na manhã seguinte, antes que os soldados da volante viessem, o bando partia em fila indiana, todos pisando na mesma pegada. O último ia de costas, apagando o rastro com uma folhagem.
Foi assim por quase três décadas. Vagando por sete Estados, Virgolino semeava terror e morte no sertão. O fracasso das operações preparadas para capturá-lo e as recompensas oferecidas a quem o matasse só aumentaram a sua fama. Admirado pela sua valentia, o facínora acabou convertido em herói. Em 1931, o jornal New York Times chegou a apresentá-lo como um ROBIN HOOD DA CAATINGA, que roubava dos ricos para dar aos pobres. O próprio Lampião era tão vaidoso, a ponto de só usar perfume francês e de distribuir cartões de visita com sua foto. Gostava também, de entrar nos povoados atirando moedas.
Fisicamente, Lampião era um homem de 1,70 m de altura, amulatado, corpulento e cego de um olho. Adorava adornar seus dedos com anéis e usava no pescoço lenços de cores berrantes, preso por valioso anel de doutor em Direito.
Era, porém, um bandido sanguinário. Durante suas andanças, arrancou olhos, cortou línguas, e decepou orelhas. Castrou um homem dizendo que ele precisava engordar. Moças que usassem cabelos ou vestidos curtos ele punia marcando o rosto a ferro quente. Em Bonito de Santa Fé, em 1923, deu início ao estupro coletivo da mulher do delegado. Vinte e cinco homens participaram da violação.
A sua sanha assassina foi despertada em 1915. Virgolino contava com 18 anos quando um coronel inimigo encomendou a morte de seus pais.
- "Vou matar até morrer" - prometeu ele, cheio de ódio e desejo de vingança.
Alistou-se em um bando de cangaceiros e foi logo promovido a líder. Envolveu-se em cerca de 200 combates com as "volantes", que resultaram em um milhar de mortes. As "volantes" eram constituídas de "cabras" ou "capangas" que eram familiarizados com o sertão. Elas acabaram tornando-se mais temidas pela população do que os próprios cangaceiros, pois além de se utilizarem da violência, possuíam o respaldo do governo.
O célebre apelido, recebeu depois de iluminar a noite com tiros de espingarda para que um companheiro achasse um cigarro.
Bando de Lampião
Em Juazeiro 1926, Lampião recebe do Governo a patente de Capitão honorário das forças legais, além de doação de armamento e munição para combater a Coluna Prestes. Vaidosamente, ostentou esta falsa patente até a sua morte.
Em 1938 ele faz uma incursão ao agreste alagoano e esconde-se a seguir, em sua fortaleza, na Gruta de Angico, no município de Porto da Folha, em Sergipe.
Em 28 de julho de 1938 um dos coiteiros de Lampião, torturado pela polícia de Alagoas, acabou por entregar o esconderijo do bando.
A polícia foi informada de seu esconderijo e organizou uma volante comandada pelo Tenente João Bezerra da Silva, juntamente com o Sargento Ancieto Rodrigues, portanto metralhadoras portáteis, para caçá-lo.
As 4 horas da madrugada de 28 de julho de 1938, efetuaram a emboscada, que não durou mais de vinte minutos. Aproximadamente 40 cangaceiros conseguiram fugir. Lampião e 10 outros pereceram.
Após o ataque, um soldado aparece segurando pelos cabelos a cabeça cortada de Virgolino. Bezerra quis saber o motivo da macabra exibição.
-"Se não levarmos a cabeça, o povo nunca vai acreditar que liquidamos Lampião", respondeu o soldado.
Onze cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas.
Morre Lampião, mas eterniza-se seu mito. Sucumbiu com ele o cangaço.
Cabeças dos membros do bando de Lampião
Maria Bonita a musa do Cangaço.
Maria Gomes de Oliveira, foi a primeira mulher a aparecer no cenário do cangaço. Nascida em 8 de março de 1911 (Data do dia Internacional da Mulher) em uma fazenda em Santa Brígida, na Bahia. Era filha de José Felipe de Oliveira e Maria Joaquina Déia. Tinha 11 irmãos.
Ela casou-se aos 15 anos com um sapateiro, com quem vivia às turras. Durante uma das separações de seu marido, o que era constante, Maria Bonita conheceu Lampião e apaixonou-se. Lampião, nesta época, tinha quase 33 anos e Maria pouco mais de 20. Esta paixão desenfreada os uniu até a morte.
Ela entrou para o bando ao final de 1930. Tiveram uma única filha, Expedita Ferreira, nascida em 1932, única sobrevivente das quatro gestações de Maria Bonita, que foi criada anonimamente por coiteiros.
Em alguns momentos, a intervenção de Maria Bonita impediu vários atos de crueldade de Lampião.
Maria Bonita era a Musa e a Rainha do Cangaço e ocupava-se entre outras coisas de costurar a indumentária dos cangaceiros. Depois dela, os outros cangaceiros também trouxeram suas companheiras para fazerem parte do bando. Dizem que elas participavam de todas as atividades, inclusive dos combates. Se destacaram: Dadá, esposa de Corisco, Lídia, mulher de Zé Baiano e outra Maria, mulher de Pancada.
Lampião e Maria Bonita
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