O romance que abalou o Brasil
Diacuí e Ayres Cunha ainda na aldeia
por vê-la em amiúdes reportagens da Revista “O Cruzeiro”, órgão líder dos Diários Associados, propriedade do Jornalista Assis Chateaubriand.
Descoberta por um repórter daquela revista, no alto Xingu, Diacuí tornou-se coqueluche nacional. As manchetes de todos noticiosos ecoavam e martelavam a notícia: Índia brasileira apaixona-se por sertanista branco e o induz a casar-se com ela.
Notícia falsa, pois era notório que a jovem índia, inda vivenciando a adolescência, em processo de aculturação, não possuía capacidade de convencer alguém a tomar tão séria decisão. Na verdade, só depois se soube, pelo próprio Ayres Cunha, alvo da paixão revelada, que o sentimento partira dele, e que convencera Diacuí e o pai dela a se casarem no Rio de Janeiro.
A viajem se fez breve e o casamento também, sob o patrocínio do jornalista Assis Chateaubriand e do seu grupo jornalístico, então o maior do Brasil. Com direito a recepção, visitas a autoridades, a badalações próprias e faustosas que sói acontecer em um casamento real ou de contos de fadas. O que rendia ao grupo jornalístico reportagens e mais reportagens sobre o mesmo tema.
O amargo do episódio deveu-se à situação da noiva. Os indígenas perante o Código Civil estavam submetidos a uma legislação própria que dificultava que os papeis para o casório não pudessem ser diligentemente liberados. Por outro lado, parte do povo desconfiava que todo aquele reboliço era mais uma mistificação, situação armada, do ladino Chateaubriand para aumentar a tiragem da sua revista, o que em parte era verdade, beneficiário direto que era dos lucros financeiros que o evento propiciaria. Mesmo assim, tudo se resolveu a tempo, e as nuvens foram tangidas para não sombrearem o casamento do ano, como se dizia do de Diacuí e Ayres Brito.
Acaso tenha sido ou não armação, não me cabe afirmar positivamente ou negativamente. Contudo, até hoje, não fui convencido da inocência do futuro marido.
Pois bem, o casamento foi realizado em meio a essas dúvidas, protestos, aplausos, com tudo a que tinha direito, inclusive rica lua de mel, a expensas do Diários Associados.
A farra prometia desdobramentos. O “O Cruzeiro”, já anunciava a maternidade de Diacuí. Novo alvoroço, novas reportagens, o mesmo “febeapa” festival de besteiras que assolam o país. Mas, dessa vez coube ao destino interromper o “auê”. E o fez de modo cruel. Diacuí morreu ao dar a luz a uma bela menina.
E nunca mais se falou da indiazinha, que se tornou famosa por ter se casado com um homem branco, tampouco do seu marido e da sua filha.
É um final triste.
ResponderExcluir