Ainda em tempo
Por Joaci Góes
Tanto a neurolinguística quanto as
boas maneiras recomendam uma atitude otimista diante do mundo e das pessoas,
particularmente ao tempo das festas de Natal e Ano Novo, quando se torna
obrigatória.
Há um momento, porém, em que, até por dever moral, se impõe um
prognóstico apoiado na verdade dos fatos. Seguindo esse princípio, a realidade
nos informa que não é grande coisa o que devemos esperar do ano que se inicia,
a continuar prevalecendo à velha e boa lição de que não há efeito sem causa.
Questões fundamentais para a vida brasileira, como educação, saúde, segurança
pública, corrupção, impunidade, infraestrutura e licenciosidade partidária, as
sete pragas que assolam o País, deverão seguir o padrão de agravamento dos anos
recentes. A perspectiva de baixo desempenho da economia nacional assegura a
predominância do indesejado viés de mediocridade.
Os resultados do último PISA colocam o Brasil num dos últimos lugares,
em matéria de ensino fundamental, o que significa continuidade da perda de
competitividade na sociedade do conhecimento em que estamos imersos.
O PISA, – Programa Internacional de Avaliação de Alunos, foi criado para
medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências, de
estudantes com 15 anos de idade, de países membros da OCDE – Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico, e de outros países conveniados.
Segundo a avaliação do PISA, divulgada em dezembro de 2013, o desempenho
dos estudantes brasileiros, em 2012, caiu dois pontos, em leitura,
relativamente ao ano de 2009. Ocupando a 54ª posição, o Brasil aparece abaixo
de países como Chile, Uruguai, Romênia, Tailândia e Montenegro.
Sem saber ler, base fundamental de todo o aprendizado, fica difícil
avançar em matéria de conhecimento, de que é prova o elevado percentual dos
alunos brasileiros, 49,2%, que não alcançou o nível 2, num processo de
avaliação que tem como teto o nível 6. Verdadeira tragédia social!
O desempenho brasileiro no aprendizado de ciências foi ainda pior:
ficamos em 58º lugar, entre 64 nações, caindo da 53ª posição conquistada em
2009. No exame de ciências, 55,3% dos nossos alunos alcançaram, apenas, o nível
1, próximo da mendicância intelectual.
O melhor desempenho brasileiro se deu em Matemática, campo em que
avançamos o suficiente para permanecermos na mesma posição relativa: subimos de
386 para 391 pontos, continuando, porém, na mesma 57ª posição. Dois terços dos
nossos alunos de 15 anos não compreendem percentuais, frações ou gráficos
A saúde vai no mesmo passo, marcada por desestruturação, desvios de
função e falta de pessoal técnico e infraestrutura, como tem sido objeto de
exposição contínua da mídia.
Impõe-se uma revisão de prioridades na aplicação dos recursos e na
seleção dos gestores de saúde, a partir de critérios técnicos e não partidários
e eleitoreiros. Em saúde, como em quase tudo, prevenir é mais barato e
eficiente do que remediar, como se fez com o programa Mais Médicos, lançado em
julho e iniciado em setembro de 2013, com a contratação de médicos vindos do
exterior, sobretudo de Cuba. Segundo lideranças médicas sustentam, a falta de
um plano organizado de carreira dos médicos brasileiros responderia por essas
distorções.
O panorama da segurança pública no
Brasil é de tal gravidade que melhor seria denominá-la “insegurança pública”.
As cautelas que o medo ubíquo impõe são de natureza a inverter a ordem natural
das coisas: os bandidos vivem à solta enquanto os cidadãos decentes vivem
aprisionados em seus condomínios e bunkers, atrás de muros altos e
eletrificados.
Os dados da realidade de todos os dias, sobretudo nos ambientes urbanos, passaram a demonstrar que o Brasil se tornou uma das nações mais violentas entre as cinquenta maiores economias do planeta.
Os dados da realidade de todos os dias, sobretudo nos ambientes urbanos, passaram a demonstrar que o Brasil se tornou uma das nações mais violentas entre as cinquenta maiores economias do planeta.
E o que dizer da corrupção que campeia solta, enriquecendo a malta
crescente dos fraudadores do Erário?
Seria a impunidade reinante a matriz principal da violência e da
corrupção que comprometem nossa segurança e a implantação de uma infraestrutura
física decente? Até quando vamos conviver com um pluripartidarismo
irresponsável que avilta a dignidade partidária? Povo que não sabe votar é
eterno refém de suas escolhas infelizes!
Nenhum comentário:
Postar um comentário