venezuelano
Moisés Naím não identifica o fim do Estado, o fim das grandes empresas
ou
igrejas, por exemplo, afirmando que, cada um à sua maneira continuarão de pé,
até
com maior
concentração de riqueza, como nos Estados Unidos. Mas a sua capacidade
de exercer
tal poder está em xeque. Naím afirma neste livro que ninguém tem o poder
de solucionar
os vários problemas mundiais como o aquecimento global, a crise na zona do euro e os massacres na Síria. Naím
ressalta o fato de que estes três problemas
implicam
em graves perigos e no sofrimento de milhões de pessoas. Os esforços
realizados
por vários países e, sobretudo, pelas grandes potências, não têm resultado em nada
e, diariamente, somos informados de que cada uma dessas crises segue adiante na
corrida desembestada rumo ao despenhadeiro.
Naím
afirma que Rússia e China não podem solucionar a crise na Síria. Mas podem
vetar as
tentativas de outros países de deter as matanças. Os líderes de Itália, Espanha
ou Grécia
precisam da ajuda de outros países e de entidades como o Banco Central
Europeu ou
o FMI para enfrentar sua crise. Contudo, embora nem Ângela Merkel nem
os órgãos
internacionais tenham o poder de solucionar a crise, eles podem bloquear o
jogo. Com
o aquecimento global é a mesma coisa. As evidências científicas
avassaladoras
confirmam que a atividade humana está aquecendo o planeta, o que gera variações
climáticas traumáticas. Se as emissões de certos gases não diminuírem, as consequências
para a humanidade serão desastrosas.
Segundo
Naím, essas três crises são uma manifestação de uma tendência que as
ultrapassa
e que molda muitas outras esferas: o fim do poder. Isso não significa que o
poder vá
desaparecer ou que já não haja atores com imensa capacidade de impor sua
vontade a
outros. Significa que o poder vem ficando cada vez mais difícil de ser
exercido e
mais fácil de perder e que quem tem poder hoje está mais limitado em sua
aplicação
do que eram seus predecessores. Naim afirma ainda que os presidentes dos
Estados
Unidos (ou da China) têm menos poder hoje do que aqueles que os precederam e
conclui que o fim do poder é uma das principais tendências que vão definir o
nosso tempo.
É
indiscutível que o mundo vem passando por uma série de mudanças após o fim da
Guerra
Fria quando prevalecia a bipolaridade de poder mundial entre os Estados Unidos e
a União Soviética. Com o fim da Guerra Fria, o mundo se tornou multipolar
apesar da proeminência econômica e militar dos Estados Unidos que, apesar de
ser a potência hegemônica do planeta, têm de lidar com muitas limitações em sua
atuação global. O poder mundial, na política ou nos negócios, está se tornando
cada vez mais
fragmentado.
No seu livro O fim do poder, Naím discute as mudanças pelas quais o
mundo vem
passando desde meados do século XX e procura explicar por que o poder é hoje
tão transitório e tão difícil de manter e usar, examinando o papel das novas
tecnologias
e identificando as forças que estão por trás dessas transformações.
Segundo
Naím, o poder, isto é, a capacidade de conseguir com que os outros façam ou
deixem de
fazer algo, está passando por uma transformação histórica. O poder está se
dispersando
cada vez mais, e os tradicionais atores (governos, exércitos, empresas e
sindicatos)
são confrontados com novos e surpreendentes rivais, alguns muito menores em
tamanho e recursos. Moisés Naím afirma que o poder está passando daqueles que têm
mais força bruta para os que têm mais conhecimentos, dos países do norte para
os do sul e do Ocidente para o Oriente, dos velhos gigantes corporativos para
as empresas mais jovens e ágeis, dos ditadores aferrados ao poder para o povo
que protesta nas praças e nas ruas como no mundo árabe. Naím acrescenta
afirmando que “dizer que o poder está indo de um país para o outro ou que está
se dispersando pelos novos atores não é suficiente. Enquanto estados, empresas,
partidos políticos e movimentos sociais brigam pelo poder como sempre fizeram,
ele em si perde eficiência. Em poucas palavras, o poder não é mais o que era”.
Naím
conclui que, no século 21, o poder é mais fácil de ser conquistado, mais
difícil de
utilizar e
mais fácil de perder. As pessoas que ocupavam tais cargos no passado não só
enfrentavam
menos adversários, mas também sofriam menos restrições seja de ativistas sociais,
seja da mídia, seja de rivais ao utilizar esse poder. Como resultado, os
poderosos
de hoje costumam pagar um preço mais alto e mais imediato por seus erros
do que
seus antecessores. A demolição da estrutura tradicional de poder está
relacionada a mudanças na economia global, na política, na demografia e nos
fluxos migratórios. A queda dessas barreiras está transformando a política
local e a geopolítica, a competição entre as empresas para conquistar
consumidores ou entre as grandes religiões para atrair adeptos, assim como a
rivalidade entre organizações não governamentais.
Essas
mudanças têm beneficiado inovadores e novatos em muitas áreas, incluindo
terroristas,
hackers e traficantes. Esses novos atores são muito diferentes uns dos outros, mas
têm em comum o fato de não dependerem mais de porte, geografia, história ou de uma
tradição arraigada para deixarem suas marcas. Organizações pequenas conseguem operar
no plano internacional e ter repercussão global. Representam a ascensão de um tipo
de micro poder, que antes tinha pouca chance de sucesso. A degradação do poder
é uma tendência que tem aberto espaços para novas estruturas, novos
empreendimentos e, pelo mundo todo, novas vozes e mais oportunidades. Mas suas
consequências para a estabilidade são cheias de perigos. O mundo se tornou
caótico e perigoso para a humanidade.
É chegada
a hora da humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos necessários
a ter o controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino a humanidade
precisa construir uma sociedade sustentável em cada país e em escala mundial
que é aquela que satisfaz as necessidades da geração atual sem diminuir as possibilidades
das gerações futuras de satisfazer as delas, bem como implantar um governo
mundial que tenha capacidade de regular a economia mundial e racionalizar o uso
dos recursos naturais do planeta em processo de exaustão e, desta forma,
contribuir para a construção da paz mundial. Este é o único meio de
sobrevivência da espécie humana.
O governo
mundial teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta. Ao invés de
ter que lidar com micro poderes em um mundo caótico e ameaçador como o que se registra
na atualidade, a humanidade deveria trabalhar no sentido de construir um poder global
democrático. Neste contexto, todos os estados nacionais deveriam impedir a propagação
dos riscos sistêmicos mundiais de natureza econômica e ambiental através de um
poder democrático global. O novo poder democrático global deveria evitar o império
de um só país e a anarquia de todos os países. As crises econômica, financeira,
ecológica, social, política e o desenvolvimento de atividades ilegais e
criminosas de hoje mostram a urgência de um governo
mundial. É preciso entender que o mercado mundial não pode funcionar
adequadamente sem o Estado de Direito Internacional que não pode ser aplicado e
respeitado sem a presença de um governo mundial que seja aceito por todos os
países. Um governo mundial só terá legitimidade e será sustentável se for
verdadeiramente democrático.
A
humanidade tem de entender que tem tudo a ganhar se unindo em torno de um
governo
democrático mundial acima dos interesses de cada nação, incluindo o mais
poderoso,
controlando o mundo em sua totalidade, no tempo e no espaço. A nova ordem mundial
a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os homens na face da
Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso, portanto, que seja celebrado
um contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e social
e o uso racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade. A edificação
de uma nova ordem mundial baseada nesses princípios é urgente. É urgente pensar
nisso, antes que seja tarde demais.
*Fernando Alcoforado, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos
livros Globalização
(Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento
(Editora Nobel, São
Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos
na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM
Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010),
Aquecimento Global e CatástrofePlanetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate
ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento
Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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