quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

FRANCO VELASCO, GRANDE E ESQUECIDO PINTOR BAIANO

Por
Consuelo Pondé de Sena



NR/ Veja obras mestras do acervo do pintor ao final desta crônica


Morei em criança na Rua Franco Velasco, depois rebatizada com o nome original de Ladeira do Desterro. Com essa providência, desconheço se nova homenagem foi prestada ao notável artista baiano.

Julgando a pertinência de ressuscitar- lhe a memória, relembro-o hoje para que se mantenham reavivadas algumas referências a seu respeito.


Antonio Joaquim Franco Velasco era filho legítimo de Mateus Franco da Silva e Molina Velasco. Nasceu na freguesia de São Pedro, onde foi levado a pia batismal no dia 3 de outubro de 1780. Ficou órfão de pai muito cedo. Contudo, foi muito bem orientado por sua mãe, que lhe deu educação esmerada, advinhando-lhe também expressiva tendência para as letras.

Pontificava na Bahia, àquela altura, o pintor José Joaquim da Rocha, natural de Minas Gerais, que, em Portugal, havia feito curso de pintura.  O notável artista mineiro foi encarregado das pinturas de tetos de muitas igrejas, criando, em torno de sua oficina de trabalho, uma verdadeira Escola de pintura.

Este pintor é um dos nomes mais expressivos da pintura baiana. Seguindo o modelo das igrejas portuguesas em perspectiva, nelas se inspirou quando pintou sua obra prima nesse campo – o magnífico teto da Igreja da Conceição da Praia, conforme escreve Carlos Ott, no seu livro: “A Escola Bahiana de Pintura”. Foi responsável pela formação de inúmeros pintores, tendo sido seu discípulo predileto José Teófilo de Jesus.

José Joaquim da Rocha nasceu em 1737 e morreu em 1807, com setenta anos de idade. Não cursou qualquer Escola de Belas Artes, pois a de Lisboa, onde aprendeu o ofício, só foi fundada em 1780. Aprendeu, portanto, sob orientação de algum mestre, da mesma forma que, mais tarde, ensinou na Bahia.

Discípulo, igualmente, desse grande pintor foi Antonio Franco Velasco sobre quem estou tecendo essas considerações, seguia-lhe os passos com grande desvelo. Homem dado à leitura, além de conhecedor de algumas línguas estrangeiras, estudou a vida de muitos pintores célebres, as escolas em que militaram, entusiasmando-se sobremaneira com a Flamenga, na busca da natureza em seu contato direto, abandonando, portanto, o costume da época de copiar estampas.

Dentro de pouco tempo Velasco passou a ser reconhecido pelos conterrâneos como competente artista. Por conta desse conceito, foi encarregado de pintar o teto da igreja da freguesia de Santana do Sacramento e da decoração dos quadros nela existentes.

Pouco depois foi incumbido de pintar o teto da Capela da Freguesia da Vila de Itaparica. Também foi autor do retrato, em tamanho natural, do Conde dos Arcos, que se encontrava no salão da Associação Comercial da Bahia. Lamentavelmente, porém, o quadro foi queimado em praça pública  por desafetos  do Conde dos Arcos, não sendo de sua autoria  o que se encontra no belo Palácio da Associação Comercial.

Consta que quando da visita de D. Pedro I à Bahia, Velasco foi incumbido de retratá-lo. Todavia esse quadro não se encontra em nosso meio. Fez muitos retratos de personalidades da época, como os dos arcebispos D. Damásio e D. Romualdo, tendo também executado o de Jerônimo Bonaparte quando passou por Salvador.

Grande retratista recebeu várias encomendas de retratos para o estrangeiro, especialmente para Portugal. Sua pintura se insere no estilo rococó com nítida passagem para o néo clássico. Teve vários discípulos, dentre os quais se destaca Bento Capinan.

Em 1816 foi incumbido de executar os quadros da Igreja do Bomfim, dos quadros encaixados nos nichos dos seis altares colaterais, bem assim do majestoso teto. É, igualmente, de sua autoria o grande quadro do centro. Dezesseis anos depois, em 1832, foi encarregado de todas as pinturas da Ordem Terceira de São Francisco, inclusive o teto, cujos esboços havia traçado , quando lhe sobreveio a morte, aos 53 anos de idade, em 20 de março de 1883.

Reconhecendo-se incapacitado de realizar a obra, transferiu essa responsabilidade ao discípulo José Rodrigues Nunes que efetuou o trabalho. Tendo sido o autor de quadro oferecido a D. João VI, foi nomeado substituto da Cadeira de Desenho, em 1815, efetivado nessa função depois do 2 de julho de 1823.

Reconhecido como um dos mais ilustres brasileiros do seu tempo, casou-se com D. Feliciana Delfina Ribeiro Sanchez, de cujo matrimônio nasceram sete filhos.

Lembrar Franco Velasco é recordar um artista baiano, injustamente, esquecido pelos conterrâneos, cujo valioso autorretrato faz parte da pinacoteca do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.


A pintura de Franco Velasco:










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