quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

NA BUSCA DA AUTOESTIMA



Por Conrado Matos


            O caminho da iluminação é uma busca para nos conhecer e nos transformar – é o caminho da liberação mental, e tomando como exemplos os ensinamentos de Dalai Lama, adquirimos três tipos de sabedoria: a sabedoria derivada do ato de ouvir, a sabedoria que se origina do pensamento e a
sabedoria decorrente da meditação – a busca da liberação.
            Em uma série de conferências em agosto de 1981 na Universidade de Havard, o budista Dalai Lama, em sua obra “Sobre o Budismo e a paz de espírito”, aponta para os ensinamentos de Buda com referência ao caminho da liberação, que é admitido a partir do próprio ser humano a sua liberação mental. Isso quer dizer, cujo indivíduo é mestre de si mesmo – ele mesmo busca pela autodeterminação para enfrentar desafios.
Para mim, também, o caminho da liberação está em uma tomada de pensamentos pelo indivíduo de natureza inconsciente para viver uma nova angústia, mas com objetivos de melhora mental. Esta nova angústia manifestada durante a análise, contribui para o analisando pela psicanálise a remoção dos sintomas anteriores – traumas passados que tanto se queixa.
A transferência, por exemplo, é uma neurose de dependência, porém bem conduzida e interpretada analiticamente na terapia psicanalítica, tende o sujeito alcançar a maturidade, capacitando a autoestima a uma nova compreensão das suas atitudes e ideias, que eram infantis – edípicas. É inevitável a transferência do analisando para o psicanalista – é com a transferência que à análise pode se desenvolver e atingir êxito no tratamento.
Em uma crítica construtiva do psicanalista Erich Fromm, que em outrora fez parte da Escola de Frankfurt, disse Fromm em seu trabalho “Psicanálise e Zen-Budismo”, que Freud deu importância para os pensamentos inconscientes, rompendo com o sistema de pensamentos conscientes através do seu método psicanalítico “livre associação de ideias”. A associação livre contornaria o pensamento lógico, consciente, convencional.
Portanto, Fromm discutiu “a associação livre”, considerando o oposto do pensamento lógico da mente, percebendo em Freud o seu modo racionalista ocidental, uma profunda relação muito mais voltada para o pensamento do Oriente.
Seguindo essa linha do pensamento Freudiano, se deduz que para atingir a liberação de acordo com o método de Buda, é mesmo através do inconsciente, como já fazem os espirituais Zen-budistas através do Nirvana, Satori ou Samâdhi, verdadeiras fontes iluminadas.
Para concordar com a opinião de Fromm sobre essa semelhança em parte do Budismo com a psicanálise em alguns aspectos estruturais sobre o inconsciente, é só procurar compreender a teoria do vazio do Zen-budismo. Com base no conceito do Zen-budismo, vazio é mente livre e farta – altamente criativa e superior.
O compromisso terapêutico da psicanálise é oferecer ao analisando em longo tempo de análise essa mente livre. Freud dizia que a intenção da psicanálise é reforçar o Ego, tornando-o mais independente do Superego. Eu afirmo mais profundamente de acordo com a teoria do vazio do Zen-budista, através do Satori sobre a dissolução do ego – o eu intoxica o Zen, e penso que o objetivo da psicanálise no resultante da sua terapêutica final é dissolver os dois elementos imperfeitos da estrutura mental do analisando, ego, superego e objetos maus, e tornar o analisando desapegado dos objetos internos e externos imperfeitos, como faz o Zen-budista. Talvez se Freud tivesse tido uma estreita aproximação com o Budismo, poderia ter até pensado dessa maneira, como penso. Isso é só uma hipótese, e não uma afirmação. Fromm lamentou de Freud não ter procurado o budismo, ou seja, o pensamento espiritual do Oriente, como fez o próprio Fromm e o psicanalista Carl Gustav Jung.
Fromm, como um autêntico freudiano, disse que ao passo que a religião e a filosofia tinham adotado objetivos de autocontrole de uma forma que se poderia denominar utópica, Freud foi o primeiro a dá através da investigação detalhada do inconsciente uma base científica, mostrando assim o caminho da sua realização. Devemos a Freud este novo conceito de inconsciente, mas se buscarmos conhecer a espiritualidade do Zen-budismo a respeito do vazio pode também reconhecê-la como libertação e realização do inconsciente, e acrescentar na psicanálise, já que Freud não acrescentou. A questão não é fazer Budismo na psicanálise prática, porém aproveitar as ferramentas teóricas e filosóficas do pensamento budista – aproveitar o que há de bom para a estrutura mental na doutrina Zen-budismo para a psicanálise, com todo cuidado para não torná-la mística, evitando distorcer os fundamentos da técnica psicanalítica.
Desta forma, para atingirmos o caminho da liberação que Buda nos orientou, é preciso desenvolver atitude de mestre, responsável pelas nossas próprias mudanças, atitudes e desapegos dos objetos. Só assim podemos construir uma autoestima elevada, saudável e verdadeira. Só o inconsciente pode mostrar o caminho da liberdade – a psicanálise talvez possa ajudar.

 Conrado de Matos é Psicanalista, Com Consultório em Salvador (BA). Pós-graduado em teoria psicanalítica.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com ou Tels: (71) 8717-3210 / 8103-9431/9910-6845

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