Por Conrado Matos
O
caminho da iluminação é uma busca para nos conhecer e nos transformar – é o
caminho da liberação mental, e tomando como exemplos os ensinamentos de Dalai
Lama, adquirimos três tipos de sabedoria: a sabedoria derivada do ato de ouvir,
a sabedoria que se origina do pensamento e a
sabedoria decorrente da meditação
– a busca da liberação.
Em
uma série de conferências em agosto de 1981 na Universidade de Havard, o
budista Dalai Lama, em sua obra “Sobre o Budismo e a paz de espírito”, aponta
para os ensinamentos de Buda com referência ao caminho da liberação, que é
admitido a partir do próprio ser humano a sua liberação mental. Isso quer
dizer, cujo indivíduo é mestre de si mesmo – ele mesmo busca pela autodeterminação
para enfrentar desafios.
Para
mim, também, o caminho da liberação está em uma tomada de pensamentos pelo
indivíduo de natureza inconsciente para viver uma nova angústia, mas com
objetivos de melhora mental. Esta nova angústia manifestada durante a análise,
contribui para o analisando pela psicanálise a remoção dos sintomas anteriores
– traumas passados que tanto se queixa.
A
transferência, por exemplo, é uma neurose de dependência, porém bem conduzida e
interpretada analiticamente na terapia psicanalítica, tende o sujeito alcançar
a maturidade, capacitando a autoestima a uma nova compreensão das suas atitudes
e ideias, que eram infantis – edípicas. É inevitável a transferência do
analisando para o psicanalista – é com a transferência que à análise pode se
desenvolver e atingir êxito no tratamento.
Em uma
crítica construtiva do psicanalista Erich Fromm, que em outrora fez parte da
Escola de Frankfurt, disse Fromm em seu trabalho “Psicanálise e Zen-Budismo”,
que Freud deu importância para os pensamentos inconscientes, rompendo com o
sistema de pensamentos conscientes através do seu método psicanalítico “livre
associação de ideias”. A associação livre contornaria o pensamento lógico,
consciente, convencional.
Portanto,
Fromm discutiu “a associação livre”, considerando o oposto do pensamento lógico
da mente, percebendo em Freud o seu modo racionalista ocidental, uma profunda
relação muito mais voltada para o pensamento do Oriente.
Seguindo
essa linha do pensamento Freudiano, se deduz que para atingir a liberação de
acordo com o método de Buda, é mesmo através do inconsciente, como já fazem os
espirituais Zen-budistas através do Nirvana, Satori ou Samâdhi, verdadeiras
fontes iluminadas.
Para
concordar com a opinião de Fromm sobre essa semelhança em parte do Budismo com
a psicanálise em alguns aspectos estruturais sobre o inconsciente, é só
procurar compreender a teoria do vazio do Zen-budismo. Com base no conceito do
Zen-budismo, vazio é mente livre e farta – altamente criativa e superior.
O
compromisso terapêutico da psicanálise é oferecer ao analisando em longo tempo
de análise essa mente livre. Freud dizia que a intenção da psicanálise é
reforçar o Ego, tornando-o mais independente do Superego. Eu afirmo mais
profundamente de acordo com a teoria do vazio do Zen-budista, através do Satori
sobre a dissolução do ego – o eu intoxica o Zen, e penso que o objetivo da
psicanálise no resultante da sua terapêutica final é dissolver os dois
elementos imperfeitos da estrutura mental do analisando, ego, superego e
objetos maus, e tornar o analisando desapegado dos objetos internos e externos
imperfeitos, como faz o Zen-budista. Talvez se Freud tivesse tido uma estreita
aproximação com o Budismo, poderia ter até pensado dessa maneira, como penso.
Isso é só uma hipótese, e não uma afirmação. Fromm lamentou de Freud não ter
procurado o budismo, ou seja, o pensamento espiritual do Oriente, como fez o
próprio Fromm e o psicanalista Carl Gustav Jung.
Fromm,
como um autêntico freudiano, disse que ao passo que a religião e a filosofia
tinham adotado objetivos de autocontrole de uma forma que se poderia denominar
utópica, Freud foi o primeiro a dá através da investigação detalhada do
inconsciente uma base científica, mostrando assim o caminho da sua realização.
Devemos a Freud este novo conceito de inconsciente, mas se buscarmos conhecer a
espiritualidade do Zen-budismo a respeito do vazio pode também reconhecê-la
como libertação e realização do inconsciente, e acrescentar na psicanálise, já
que Freud não acrescentou. A questão não é fazer Budismo na psicanálise
prática, porém aproveitar as ferramentas teóricas e filosóficas do pensamento
budista – aproveitar o que há de bom para a estrutura mental na doutrina
Zen-budismo para a psicanálise, com todo cuidado para não torná-la mística, evitando
distorcer os fundamentos da técnica psicanalítica.
Desta
forma, para atingirmos o caminho da liberação que Buda nos orientou, é preciso
desenvolver atitude de mestre, responsável pelas nossas próprias mudanças,
atitudes e desapegos dos objetos. Só assim podemos construir uma autoestima
elevada, saudável e verdadeira. Só o inconsciente pode mostrar o caminho da
liberdade – a psicanálise talvez possa ajudar.
Conrado de Matos é Psicanalista, Com
Consultório em Salvador (BA). Pós-graduado em teoria psicanalítica.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com ou Tels: (71) 8717-3210 /
8103-9431/9910-6845
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