segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

SALÃO BRASIL

A Propósito | Marcelo Alcoforado
 Oscar Wilde, o grande escritor irlandês, afirmava que “demasiada maquiagem e muito pouca roupa para vestir é sempre um sinal de desespero para a mulher.” Vivo fosse, concluiria que sua frase também é
aplicável a governos.
No cotidiano brasileiro, por exemplo, há, sem dúvida, excesso de “make-up” estatístico. Quer ver?
O Diário de Pernambuco do último domingo registrou a possibilidade de recursos do SUS terem sido usados pelo governo federal para compor o superávit primário de 2013. Para reforçar a possibilidade, pela primeira vez em 12 anos nenhum dos estados da Federação recebeu as verbas de dezembro. Graças à excelência em cosmética, porém, o tal superávit – R$ 75 bilhões – teria ultrapassado a meta em R$ 2 bilhões. Excelente notícia para um ano eleitoral, concorda?
Em outra clara aplicação de “pancake”, a Caixa Econômica Federal vitaminou seu balanço anual com as contas de poupança encerradas por apresentar CPFs irregulares. Tudo bem, norma é norma, e como tal deve ser cumprida, mas algo é anormal. Foram encerradas quase 500 mil contas irregulares, importando em R$ 719 milhões de cosméticos, melhor dizendo, de reais, que aumentaram o lucro líquido da instituição em R$ 420 milhões. Pura cosmética ou, se você preferir, lucro artificial. Ainda bem que o BC determinou desfazer a movimentação e retirar o valor que representa em torno de 7% do lucro da instituição.
Quer mais? Na sua fala de fim de ano a presidente Dilma Rousseff ufanou-se do pleno emprego brasileiro, verificando-se aumento de vagas mesmo com os empresários reclamando dos negócios... Acontece que, disse o IBGE, o aumento da inatividade explica a queda do desemprego para a mínima histórica. Como corolário, no entanto, cresce para 16,8 milhões o número de brasileiros que não trabalha nem quer emprego.
Simplificando, a redução da taxa de desemprego na passagem de outubro para novembro foi resultado da migração de indivíduos para a inatividade, e não pela geração de postos de trabalho, apontou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. "O que a gente vê aqui é a redução da desocupação em função do aumento da inatividade. Então não houve aumento do número de postos de trabalho. O que houve foi aumento das pessoas que passaram para a inatividade", ressaltou Cimar Azeredo, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento da autarquia.
Por falar em Salão Brasil, Oscar Wilde também afirmou que “a maquiagem diz-nos mais que o rosto”.

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