quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

BOMBA RELÓGIO





Por Joaci Góes

Se era propósito dos que queriam evitar que a classe média voltasse às ruas, como o fez em junho
passado, para protestar contra a subversão de critérios de prioridade que colocaram o circo da Copa à frente de interesses mais caros à sociedade, o tiro terá saído, literalmente, pela culatra, sobretudo, na medida em que se comprovar ter sido de sua inspiração o fomento perturbador da presença dos agressivos integrantes dos blackblocs, identificados como responsáveis pela morte do cinegrafista da Band Santiago Andrade. 
A partir de agora, a polícia, respaldada pela opinião pública, agirá com força para não permitir que desordeiros de encomenda desestimulem a participação dos que desejam se manifestar ordeira e democraticamente na defesa de suas crenças e valores, como é prática das sociedades livres.
Os episódios que se desenrolarão ao longo do corrente ano comprovarão, mais uma vez, que o tempo é, de fato, o senhor da razão, como respondeu Jesus Cristo a Pedro Simão que o inquiria incrédulo por que lavava os pés dos discípulos: “Tu não sabes, agora, mas saberás depois”.
Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa e os próximos jogos olímpicos, em 2016, o presidente Lula, que creditava essas conquistas aos seus dons divinais, numa prova a mais de que tudo de bom que existe neste País foi criação do seu partido político, não teria como suspeitar que os excessos financeiros praticados na preparação da infraestrutura dos dois eventos viriam rivalizar com o Mensalão no desgosto popular. 
As dificuldades do governo recrudescerão quando a sociedade tomar conhecimento de que os custos com a preparação do País para receber a Copa são sensivelmente superiores aos que se imaginavam, como resultante dos superfaturamentos de obras financiadas com dinheiro público, como já se sabia que iria ocorrer. A novidade são os excessos.
Com uma educação ocupando o último lugar entre os 34 países que compõem a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com um serviço de saúde de péssima qualidade, com a violência campeando, com níveis intoleráveis de corrupção e impunidade, com uma infraestrutura social e física que entravam o seu desenvolvimento, o povo brasileiro, finalmente, acordou para reagir ao grave equívoco de uma opção que retarda a adoção de iniciativas indispensáveis à construção da maioridade nacional.
Vencido o verão e concluído o estado de férias com as festas do carnaval, a expectativa é a de que o movimento das ruas venha cobrar uma prestação de contas de difícil justificação, base provável das campanhas que se oporão aos que estiverem à frente dos governos, sejam quais forem os partidos, com ênfase especial contra os dirigentes do PT.
Como um mendigo a Júlio César, à entrada do Senado, no ano 44 A.C., o momento é oportuno para que se advirta a presidente Dilma com a célebre frase que resiste impávida à passagem dos séculos: “Cuidado com os idos de março”. 
Tudo democraticamente é claro. Sem mais gratuito derramamento de sangue.

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