Salvador 465 anos
Por
Daniela Pereira
Morar em uma cidade histórica, com 171 monumentos
entre bustos, fontes e estátuas, e participar dos festejos civis, nem sempre
significa conhecimento. Diariamente, as pessoas costumam passar por essas
peças
artísticas, mas poucos conhecem a carga histórica para a cidade. Basta uma
rápida circulada na capital baiana para isso ficar comprovado. Em alguns casos,
turistas “dão um show” de conhecimento ao contar a história das lutas e
personalidades de Salvador.
Em diversos
pontos da cidade, um pouco da história baiana e brasileira é contada. Foi em
1815 que Salvador ganhou o primeiro monumento, marcando a chegada de Dom João
VI e da família real portuguesa à Bahia. Inicialmente, o obelisco de mármore
foi colocado no Passeio Público e mais tarde transferido para a Praça do Campo
Grande. De lá para cá, muitas outras peças foram inauguradas na cidade com
imenso valor histórico e cultural.
“A
gente passa todo dia por essas estátuas, mas na correria do dia nem paramos
para observar direito e nem ler quem é o homenageado”, disse Maria Cecília
Batista, 43 anos, enquanto aguardava um ônibus na região da Sete Portas, local
que abriga um dos mais antigos mercados da cidade, construído pelo empresário
Manoel Pinto de Aguiar.
E não é só
Maria Cecília que pensa dessa forma. Na região da Cidade Baixa, onde se
concentram grande parte dos pontos turísticos da cidade, muitos não conhecem a
história do local. “O Mercado Modelo era o lugar onde viviam os escravos, mas
para onde eles iam daqui eu não sei”, diz o vendedor de água, Maurício Bonfim,
32, que trabalha em frente ao mercado citado. “Toda vez que visito Salvador
sempre venho ao Mercado Modelo. A história daqui é fascinante. Sempre olho para
a rampa e imagino um monte de vendedores e navios atracados. Além disso, também
me fascinam as lendas urbanas sobre os gritos e barulhos de correntes
arrastadas vindo do subsolo do Mercado, onde ficavam os escravos”, contou a
professora pernambucana, Maísa Tito, 37.
Ainda na
Praça Cayru, a alguns metros do Mercado, está o Elevador Lacerda e o monumento
Mário Cravo, em homenagem ao escultor, pintor, gravador e desenhista Mário
Cravo Júnior. Subindo o Elevador, podemos encontrar outra peça de autoria de artista:
a Cruz Caída. Inaugurada em 1999, a peça de aço inox, foi uma homenagem ao
aniversário de Salvador. A Praça Tiradentes, Comércio, também abriga a
Escultura da Mão, símbolo da união entre raças. “É uma pena uma escultura tão
bonita está toda pichada e abandonada desse jeito. Sempre que passo por lá vejo
algum morador de rua dormindo ou guardando objetos entre as duas ‘mãos’. De
qualquer forma a cidade ainda continua muito bonita”, afirma Tito.
Na região
da Garibaldi, outro monumento, recentemente vitimado pelo vandalismo, também
passa despercebido pelos soteropolitanos. “Sei que o nome é Clériston Andrade,
mas sei quem ele foi”, disse Raquel Pereira, 17 anos, referindo-se a efígie em
homenageia ao ex-prefeito de Salvador, que morreu às vésperas de concorrer o
cargo do Executivo.
Abandono faz parte da paisagem
Ação do
tempo ou vandalismo são principais agentes motivadores da degradação das peças
artísticas e históricas da cidade. O monumento Clériston Andrade, recentemente
incendiado por moradores de rua que se abrigavam no local, ainda permanece sem
reparação. A escultura das mãos entrelaçadas sofre com o desgaste da pintura e
pichações.
Recentemente,
a Tribuna divulgou matéria sobre a degradação da Praça Almeida
Couto, em Nazaré. As placas de bronze e os bustos foram roubados e as pedras de
mármore, quebradas. Segundo moradores e comerciantes do local, as ações de
criminosas são cometidas por usuários de crack e desocupados, ainda não
identificados.
Fonte:
Tribuna da Bahia
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