Festas remanescentes
que ainda perduram em determinadas regiões
Bailes Pastoris
Folguedo dramático popular originado do teatro
religioso medieval, os bailes pastoris eram escritos por anônimos bi-letristas,
em representação a autos sagrados, e encenados no adro e dentro dos templos
católicos. Hoje, são representações familiares, de trama simples, mas ainda, em
sua maioria, de resguardo das heranças religiosas. O enredo culmina na chegada
de alguém trazendo a notícia do nascimento de Cristo, fazendo com que todo o
elenco ponha de lado as suas divergências para, em convergência unânime, conclamar
a plateia a fazer a peregrinação sagrada de respeito e adoração ao ilustre
filho de Deus.
A dramatização se divide em dois cordões rivais de
pastorinhas: azul e encarnado; cores votivas de Nossa Senhora e Jesus Cristo.
Os grupos disputam fervorosamente a preferência do público, cabendo à
moderadora Diana, metade azul e metade encarnado, apaziguá-los. As pastoras são
moçoilas trajadas de branco, com uma fita longa do cordão a tiracolo (conforme
a cor) e chapéu rústico de palha com abas largas enfeitadas por fitas. O cordão
encarnado é chefiado pela mestra e, o azul, pela contra-mestra. Figuram, ainda,
anjos e pastores, o velho (figura cômica), estrelas, as estações, as virtudes,
as flores, a Terra, o Sol e a Lua, a noite e, em geral, gente humilde –
peixeira, florista, camponesa, baiana, caçador, jardineiro…
As cantigas relacionadas exclusivamente com o motivo
sacro do Nascimento de Jesus, loas e jornadas delicadas, suaves e de fundo
sacro – introduzidas pelos jesuítas no século XVI – passaram a incluir, também,
canções profanas, sem nenhum nexo com a representação, mas que fazem parte do
imaginário popular local e continuam atraindo multidões com seus cânticos e
danças.
Os
bailes pastoris são destaque nas cidades de Prado, Canavieiras, Porto Seguro e
Salvador, em especial no mês de dezembro, com a proximidade dos festejos
natalinos.
“Lindro
amor”
Lindro Amor é um peditório que se faz em benefício
das festas de Nossa Senhora da Purificação ou São Cosme e Damião. O cortejo,
formado por mulheres, homens e crianças, sai em visitação às casas, rogando
saúde e prosperidade para os seus donos, professando a esperança de dias
melhores e levando algo que simbolize a devoção. As mulheres vão sempre no
meio, vestindo saias de roda estampadas e chapéus de palha, enfeitados com
tiras coloridas. Elas dançam e cantam, enquanto os homens seguem atrás, com
calças brancas, batucando o pandeiro, tocando a viola ou a sanfona. Na frente,
as crianças animam o saimento, carregando uma caixa vazia com a imagem dos
santos e onde serão depositadas as moedas para o preparo do caruru, a ser
realizado a partir dos próximos sábados até findar o mês de outubro.
A tradição tem suas origens nos tempos da
escravidão, quando os senhores de engenho permitiam que os escravos
festejassem. Com o passar do tempo, o Lindro Amor – originário da expressão
colonial portuguesa “Lindo Amor” – passou a ter conotações religiosas
associadas às procissões e petitórios, que antecedem os carurus oferecidos aos
santos e orixás irmãos. No caso de Nossa Senhora da Purificação, leva-se uma
coroa em uma bandeja florida, junto à bandeira, enquanto os participantes
entoam cânticos acompanhados do pandeiro e tambor.
Os
santos são exibidos em pequenos altares, decorados com papel crepom colorido e
flores. A doação é voluntária. Ao fim da primeira procissão, as imagens sacras
ficam na casa de um morador antigo e querido da comunidade, e segue se
revezando, de casa em casa, a cada nova vez. Conde, Candeias, Santo Amaro, São
Francisco do Conde e São Sebastião do Passe são as principais localidades onde
a manifestação se faz presente.
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