Por Luiz Carlos Facó
A Bahia é
festiva. O seu povo, festeiro.
Em nenhum
outro lugar do BRASIL fazem-se tantas festas. Cívicas ou religiosas, sempre
impregnadas de alto cunho popular. Algumas com caráter tão regional que jamais
transpuseram as linhas de demarcação do seu território. Como as famosas
lavagens. Uma infinidade delas. Cada ano prenhe da mais algumas. É do
espírito
do baiano dar-lhes vida. Eça de Queiróz, um dos maiores escritores da língua
portuguesa, parece referir-se aos nossos conterrâneos quando diz: “Não há
profissão mais absorvente do que a vadiagem”.
Para avivar
a memória do leitor, vou roteirizar e dar o nome das nossas principais festas
típicas, apontando as datas em que se realizam:
1º de
Janeiro – Procissão do Bom Senhor Jesus
dos Navegantes;
5/6 de
janeiro – Festa dos Reis Magos;
2 de
fevereiro – Festa de Iemanjá;
Fevereiro ou
março – Carnaval (uma semana inteira);
Março ou
abril – 3ª quinta-feira após a Quaresma – Micareta;
13 de junho
– Festa de Sto. Antônio (o mês completo);
23/24 junho
– São João;
28/29 junho
– São Pedro;
2 de julho –
Festejos em homenagem à nossa independência;
26 de julho
– Festa de Nanã (Senhora Santana), no terreiro do Gantois;
28 de agosto
– Festa na Casa Branca ou Ilê Iyá Nassô, ciclo de Oxalá, que vai até o 3º
domingo de setembro;
27 de
setembro – Festa de Cosme e Damião (todo o mês de setembro);
4 de
novembro – Festa de Santa Bárbara ou Iansã;
8 de dezmbro
– Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia nove dias).
Indicar a
mais importante seria impossível, duas, no entanto, merecem destaque especial.
A dedicada a Iemanjá, cantada em prosa e verso por Dorival Caymmi, e a da
Conceição da Praia, que, apesar de religiosa, dá partida as de caráter
carnavalesco.
Depois dela,
sucedem-se inúmeras lavagens, a da Pituba, Itapoã, os gritos de Carnaval, os
ensaios dos blocos, numa prévia do que acontecerá no período momesco, em
priscas eras denominado tríduo carnavalesco.
Mas o que
sempre me encantavam eram as festas de Santo Antônio e São João. Principalmente
a de São João. Comemorada com fogos de artifício, fogueiras, comida farta:
manauê, amendoim, milho verde cozido, canjica quente e de cortar, bolo de puba,
carimã, doces de jenipapo, batata, tamarindo, ambrosia. Acepipes acompanhados
de famosos licores de jenipapo, leite, chocolate, maracujá.
Numa festa
animada por um fole de sete gaitas, um triângulo e uma zabumba. Tocando músicas
nordestinas, onde predominavam o baião, xote, xaxado. Composições com uma
construção rítmica tão alegre e envolvente, que contagiava a todos levando-os a
rodopiarem pelo salão em passos marcados, principalmente quando se aventuravam
a dançar quadrilha.
A
originalidade da festança, contudo, ficava por conta das brincadeiras,
cantorias, simpatias, e balões multicoloridos que subiam aos céus levando
nossos desejos e orações.
Um casal que
pulasse de mãos dadas a fogueira crepitante tornava-se compadre. As moças que
recitassem a ladainha, que abaixo transcrevo, casavam-se na certa:
São Bartolomeu Casar-me eu quero
São Ludovico Com moço muito rico
São Nicolau Que ele não seja
mau
São Benedito Que ele seja bonito
São Vicente Que não seja
impertinente
Santa Felicidade Que me
faça vontade
São Benjamim Que tenha
paixão por mim
São Miguel Que dure a lua de
mel
São Bento Que não seja
ciumento
Santa Margarida Que me
traga bem vestida
Santíssima Trindade Que me dê
felicidade
AMÉM
Com o passar
do tempo aqueles costumes se perderam. As bandeirolas que enfeitavam as
residências, reverenciando São João, desbotaram, sumiram. As “sortes”, regalos
distribuídos entre os convidados, sucumbiram diante das diversas crises
econômicas pelas quais atravessamos.
Restaram os fogos
de artifício, apesar dos perigos que impõem aos usuários. Perduraram, creio eu,
pela beleza que espargem, deixando o céu mais luminoso, bonito e alegre.
E as danças.
Porque baiano a elas jamais renuncia.
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