quarta-feira, 9 de abril de 2014

GREGÓRIO DE MATTOS, DUBLÊ DE VIOLEIRO E COMPOSITOR.

Com fama de repentista entre os colegas da Universidade de Coimbra,
Gregório conquistou muitas mulheres, até o fim da vida, ao som da viola de arame que fabricou.




Muito se fala de Gregório (Boca do Inferno) poeta e pouco se sabe sobre sua estreita relação com a música. Existem apenas algumas referências nas biografias sobre o baiano que registram sua fama de repentista entre os colegas da Universidade de Coimbra e suas viagens de boêmia pelo recôncavo levando debaixo do braço a viola que teria sido fabricada pelo próprio. “O poeta satírico Gregório de Mattos e Guerra conquistava (já velhote) muitas mulatinhas, cantando versos frascários ao som de uma viola de arame por ele mesmo fabricada”, afirma José Ramos Tinhorão, na publicação História da Música Popular Brasileira.
Citações de outros autores que escreveram sobre Gregório se referem a ele como dublê de violeiro e harpista e compositor de lundus, ritmo de origem africana que mais tarde misturou-se com o viradinho do sul do país e deu origem à modinha. O talento musical do poeta chegou a ser citado pelo contemporâneo Gonçalo Soares da Fonseca na décima: “Com tanto primor cantais, com tanta graça tangeis, que as potências suspendeis e os sentidos elevais (...), pois tocais de Orfeu a lira e a pluma tendes de Apolo”.
As glosas, cantigas e coplas seriam as especialidades de Gregório, numa forma de canto falado. “A obra de Gregório de Mattos deveria ser estudada não como obra poética, mas como versos de música popular urbana”, de fende Tinhorão. Segundo ele, apenas 207 poesias atribuídas ao poeta são sonetos, considerados pouco afeitos à música. Outros, ao contrário, se adequavam ao canto e alguns poemas inclusive faziam referência a isso – “Um cruzado pede o homem, Anica, pelos sapatos, mas eu ponho isso à viola na postura do cruzado: diz que são de sete pontos, mas como eu tanjo rasgado, nem nesses sete pontos me meto, nem me tiro desses tratos”. A interpretação seria que o poeta não tocava a viola por pontos – de forma dedilhada – mas pelo método popular de ferir todas as cordas de uma vez, o chamado toque rasgado.
Texto de Andréa Nascimento

  

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