Com fama de repentista
entre os colegas da Universidade de Coimbra,
Gregório conquistou muitas
mulheres, até o fim da vida, ao som da viola de arame que fabricou.
Muito se
fala de Gregório (Boca do Inferno) poeta e pouco se sabe sobre sua estreita
relação com a música. Existem apenas algumas referências nas biografias sobre o
baiano que registram sua fama de repentista entre os colegas da Universidade de
Coimbra e suas viagens de boêmia pelo recôncavo levando debaixo do braço a
viola que teria sido fabricada pelo próprio. “O poeta satírico Gregório de
Mattos e Guerra conquistava (já velhote) muitas mulatinhas, cantando versos
frascários ao som de uma viola de arame por ele mesmo fabricada”, afirma José
Ramos Tinhorão, na publicação História da Música Popular Brasileira.
Citações de
outros autores que escreveram sobre Gregório se referem a ele como dublê de
violeiro e harpista e compositor de lundus, ritmo de origem africana que mais
tarde misturou-se com o viradinho do sul do país e deu origem à modinha. O
talento musical do poeta chegou a ser citado pelo contemporâneo Gonçalo Soares
da Fonseca na décima: “Com tanto primor
cantais, com tanta graça tangeis, que as potências suspendeis e os sentidos
elevais (...), pois tocais de Orfeu a lira e a pluma tendes de Apolo”.
As glosas,
cantigas e coplas seriam as especialidades de Gregório, numa forma de canto
falado. “A obra de Gregório de Mattos deveria ser estudada não como obra
poética, mas como versos de música popular urbana”, de fende Tinhorão. Segundo
ele, apenas 207 poesias atribuídas ao poeta são sonetos, considerados pouco
afeitos à música. Outros, ao contrário, se adequavam ao canto e alguns poemas
inclusive faziam referência a isso – “Um cruzado pede o homem, Anica, pelos
sapatos, mas eu ponho isso à viola na postura do cruzado: diz que são de sete
pontos, mas como eu tanjo rasgado, nem nesses sete pontos me meto, nem me tiro
desses tratos”. A interpretação seria que o poeta não tocava a viola por pontos
– de forma dedilhada – mas pelo método popular de ferir todas as cordas de uma
vez, o chamado toque rasgado.
Texto de Andréa
Nascimento
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