A nudez original, a
"nudez" dos indígenas sul-americanos e dos aborígenes, e as vestes
dos indígenas da América do Norte, Incas, Maias e Astecas
Indígenas
do Pará, ainda sem contato regular com o homem branco, 1894.
Antes de nos
determos em explanar sobre o vestuário, devemos - até por uma questão
cronológica - dissertar brevemente sobre a nudez, já que se constitui, ainda
que de forma involuntária, no primeiro modismo.
Dentre as várias
formas de nudez que a humanidade experimentou (a nudez como contingência da
natureza, a nudez como realização do ideal do belo, a nudez como forma de
protesto, etc.) podemos facilmente diferenciar as suas primeiras expressões:
“A nudez dos indígenas ou dos homens das cavernas nada tem em comum com a nudez
dos gregos e romanos. No primeiro caso trata-se de uma contingência imposta
pelas condições materiais de vida e adaptação ao meio-ambiente, enquanto no
segundo caso trata-se de uma solução da ordem da estética, com amplo lastro da
filosofia e da doutrina moral então dominante."
Explicitando melhor
as razões e a manifestação da nudez no homem primitivo (primeira forma de
nudez) podemos afirmar que: "Num momento em que a cultura ainda não
existia e que o ser humano era coletor e nômade, antes da terceira glaciação, a
nossa espécie era regida pela mesma lei que as demais espécies animais, a
seleção natural. Os indivíduos mais fortes e mais adaptáveis sobrevivem,
enquanto os mais fracos e menos adaptáveis transformam-se em alimento para
animais maiores.
Alimentando de
vegetais, frutas e tubérculos, vivendo em bandos e migrando através das
pastagens e savanas primitivas atrás de alimento, o ser humano primitivo dava
plena vazão aos seus instintos e, neste sentido, não devia ter grandes escolhas
em relação ao objeto do seu desejo. Tanto indivíduos machos quanto fêmeas eram
então completamente bissexuais, pois não havia diferenças anatômicas tão
marcantes em relação aos sexos e também a busca
constante de alimentos e a fuga de animais carnívoros limitavam bastante as
oportunidades de acasalamento.
Estes indivíduos
evidentemente ainda não haviam estabelecido um vínculo causal entre a cópula e
a reprodução, ou seja, a razão pela qual as fêmeas engravidavam e davam a luz
era tão vaga para eles quanto a razão do sol nascer aparecer e desaparecer no
horizonte todos os dias. Num momento em que o sexo estava desvinculado da
reprodução não havia qualquer sanção moral a qualquer modalidade sexual, até
porque a moral ainda não havia sido inventada.
Durante a terceira glaciação este panorama edênico se altera drasticamente; grandes porções do planeta são cobertas pelo avanço das geleiras, o que restringe o habitat humano. O homem tem de procurar abrigo nas cavernas e, após descobrir o fogo, passa a se alimentar também de carne, tornando-se caçador. Para suprir a falta de garras e de presas produz os primeiros instrumentos de pedra, tornando-se artesão. Como subproduto da caça e da sua nova dieta alimentar produz as primeiras vestimentas, utilizando o couro e a pele dos animais abatidos. Além de proteger do frio, as roupas passaram também a proteger a genitália, especialmente a masculina, que o fato do homem ter se tornado exclusivamente bípede, tornara muito exposta, vulnerável a impactos e atrito."
Um bom filme para
ilustrar o período das primeiras incursões do homem primitivo no período das
cavernas é A Guerra do Fogo, de 1981. Ainda que os produtores estadunidenses
não ousem expor as personagens da tribo "menos desenvolvida" nuas -
como de fato elas deveriam estar - as vestimentas da tribo "mais
avançada" mantém alguma ligação com a realidade, como tem demonstrado a arqueologia.
Se considerarmos a
produção de ornamentos como parte que compõe um vestuário, os indígenas
sul-americanos e aborígenes australianos não estão realmente nus, pois utilizam
- em doses fartas - de cores e de texturas em sua pintura corporal, cocares,
cintos, brincos e outros adornos.
Os
"adereços" utilizados visam se constituir em atrativo e apelo erótico
em relação ao sexo oposto, têm função religiosa (ritual) ou social (no sentido
de danças e eventos de socialização da tribo).
O que fez com que o
colonizador europeu julgasse estarem nus foi o fato de que eles não tem, via de
regra, nenhuma preocupação em ocultar a genitália. Pelo contrário, várias
tribos a valorizam, através do uso de uma espécie de "estojo"
peniano, ou então, tanto homens quanto mulheres, depilam-se e utilizam adereços
coloridos para valorizar a região pubiana.
Para ilustrar o choque cultural que
se produziu do encontro entre brancos (europeus) e indígenas sugerimos dois
filmes, que estão entre as melhores produções do cinema brasileiro: Como Era Gostoso o Meu Francês, de 1970,
e Hans Staden, de 1999. Em ambos os filmes entramos em contato
com a maneira de "vestir" (adornar) dos tupinambás, um
universo colorido engendrado pela fauna e flora tropicais, tão ricas em
pigmentos (como o urucum), fibras
(como a juta) e
materiais diversos para a confecção de adornos e adereços (como as coloridas
penas de araras e de tucanos).
Acreditamos que
estes costumes estão inseridos num contexto muito maior, que visa perpetuar as
tribos, tanto enquanto singularidades como enquanto culturas. Neste sentido,
fica mais fácil a escolha do parceiro para a procriação, e a genitália depilada
(tanto masculina quanto feminina) tem uma conotação mais higiênica.
Nos povos
"primitivos", como vemos, a moda desempenha funções evidentemente
pragmáticas.
Maias e
astecas
Ao contrário dos
povos indígenas sul-americanos, os indígenas da América do Norte sempre
utilizaram roupas, no sentido contemporâneo do termo, apesar de também
utilizarem cocares e outros adereços.
O uso de
vestimentas "tradicionais" (para nossos padrões, ocidentais e
cristãos) deve-se em parte ao clima temperado e em parte à proximidade em
relação a duas grandes e antigas civilizações: os Maias e os Astecas.
O filme O Homem chamado Cavalo, de 1970, é muito
preciso na recriação das roupas dos índios Sioux e Crow. Tal
como nos filmes brasileiros, citados no tópico anterior, o filme mostra o
choque entre duas culturas distintas (e por vezes antagônicas) e a
possibilidade de adaptação individual ou de síntese cultural.
As três grandes
civilizações da América Pré-Colombiana (Incas, Maias e
Astecas) possuíam em comum o gosto pelas vestes elaboradas (tais como túnicas,
mantos e capas), a tecelagem bastante desenvolvida (no caso específico dos
Incas, utilizando-se inclusive da lã das lhamas e vicunhas) e o fato
dos trajes mais vistosos e coloridos serem destinados aos homens, bem como
brincos, bandanas, pulseiras e demais ornamentos. As vestes femininas eram
geralmente monocromáticas e de corte reto.
Os quechuas e aymaras, na
América do Sul, preservam ainda hoje muitos dos hábitos dos antigos incas.
Fonte: Wikipédia
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