Uma retrospectiva de sua obra será exposta em New York a partir de 16 de
maio próximo (16.05.14)
Lygia Clark iniciou
seus estudos artísticos em 1947, no Rio de
Janeiro, sob a orientação de Roberto Burle Marx e Zélia Salgado. Em 1950, Clark viajou a Paris, onde estudou com Arpad
Szènes, Dobrinsky e Léger. A artista
dedicou-se ao estudo de escadas e desenhos de seus filhos, assim como realizou
os seus primeiros óleos. Após sua primeira exposição individual, noInstitut
Endoplastique, em Paris, no ano de 1952, a artista retornou ao Rio de
Janeiro e expõe no Ministério da Educação e Cultura.
Clark é uma das
fundadoras do Grupo Frente, em 1954:
dedicando-se ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo, ela se une a Décio Vieira, Rubem Ludolf, Abraham Palatnik, João José da Costa, entre outros, e apresenta as suas “Superfícies
Moduladas, 1952-57” e “Planos em Superfície Modulada, 1956-58”. Estas séries
caminhavam para longe do espaço claustrofóbico da moldura, queriam estar
livres. É aquilo que Lygia queria como linha-luz, como módulo construtor do plano.
Cada figura geométrica projeta-se para além dos limites do suporte, ampliando a
extensão de suas áreas. Lygia ainda participa, em 1954, com a série
“Composições”, da Bienal de Veneza –
fato que se repetirá, em 1968, quando é convidada a expor, em sala especial,
toda a sua trajetória artística até aquele momento.
Em 1959, integra a
I Exposição de Arte Neoconcreta, assinando o Manifesto Neoconcreto, ao lado
de Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis. Clark
propõe com a sua obra, que a pintura não
se sustenta mais em seu suporte tradicional. Procura novos voos. Nas “Unidades,
1959”, moldura e
“espaço pictórico”
se confundem, um invadindo o outro, quando Clark pinta a moldura da cor da
tela. É o que a artista chama de “linha orgânica”, em 1954: não é uma pintura
fechada nela mesma; a superfície se expande igualmente sobre a tela, separando
um espaço, se reunindo nele e se sustentando como um todo.
As obras querem
ganhar o espaço. O trabalho com a pintura resulta na construção do novo suporte
para o objeto. Destas novas proposições nascem os “Casulos, 1959”. Feitos em
metal, o material permite que o plano seja dobrado, assumindo uma busca da
tridimensionalidade pelo plano, deixando-o mais próximo do próprio espaço do
mundo. Em 1960, Lygia cria a série “Bichos”: esculturas, feitas em alumínio,
possuidoras de dobradiças, que promovem a articulação das diferentes partes que
compõem o seu “corpo”. O espectador, agora transformando em participador, é
convidado a descobrir as inúmeras formas que esta estrutura aberta oferece. Com
esta série, Clark torna-se uma das pioneiras na arte participativa mundial. Em 1961, ganha o
prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de Arte de São Paulo, com os “Bichos”.
A experiência com a
maleabilidade de materiais duros converte-se em material flexível. Lygia Clark chega
à matéria mole: deixa de lado a matéria dura (a madeira), passa pelo metal
flexível dos “Bichos” e chega à borracha na “Obra Mole, 1964”. A transferência
de poder, do artista para o propositor, tem um novo limite em “Caminhando,
1963”. Cortar a fita significava, além da questão da “poética da
transferência”, desligar-se da tradição da arte concreta, já que a “Unidade
Tripartida, 1948-49”, de Max Bill, ícone da herança construtivista no Brasil,
era constituída simbolicamente por uma fita de Moebius. Esta fita
distorcida na “Obra Mole” agora é recortada no “Caminhando”. Era uma situação
limite e o início claro de num novo paradigma nas Artes Visuais brasileiras. O
objeto não estava mais fora do corpo, mas era o próprio “corpo” que interessava
a Lygia.
A trajetória de
Lygia Clark faz dela uma artista atemporal e sem um lugar muito bem definido
dentro da História da Arte. Tanto ela quanto sua obra fogem de categorias ou
situações em que podemos facilmente embalar; Lygia estabelece um vínculo com a
vida, e podemos observar este novo estado nos seus "Objetos sensoriais,
1966-1968”: a proposta de utilizar objetos do nosso cotidiano (água, conchas,
borracha, sementes), já aponta no trabalho de Lygia, por exemplo, uma intenção
de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de Arte, e
aproximá-lo de um estado, onde o mundo se molda, passa a ser constante
transformação.
Em 1968 apresenta,
pela primeira vez, no MAM-RJ, "A
casa é o corpo", uma instalação de oito metros, que permite a passagem das
pessoas por seu interior, para que elas tenham a sensação de penetração,
ovulação, germinação e expulsão do ser vivo. Nesse mesmo ano, Lygia muda-se
para Paris. O corpo dessexualizado é apresentado na série “roupa-corpo-roupa: O
Eu e o Tu, 1967”. Um homem e uma mulher vestem pesados uniformes de tecido
plastificado: o homem, veste o macacão da mulher; e ela, o do homem. Tateando
um ao outro, são encontradas cavidades. Aberturas, na forma de fecho ecler, que
possibilitam a exploração tátil, o reconhecimento do corpo: “os fechos são para
mim como cicatrizes do próprio corpo”, diria a artista, no seu diário.
Em 1972, é
convidada a ministrar um curso sobre comunicação gestual na Sorbonne. Suas
aulas eram verdadeiras experiências coletivas apoiadas na manipulação dos
sentidos, transformando estes jovens em objetos de suas próprias sensações. São
dessa época as proposições “Arquiteturas biológicas, 1969", “Rede de
elástico, 1973", “Baba antropofágica, 1973" e “Relaxação, 1974".
Tratam de integrar arte e vida, incorporando a criatividade do outro e dando ao
propositor o suporte para que se exprima. Em 1976, Lygia Clark volta
definitivamente ao Rio de Janeiro. Abandona, então, as experiências com grupos
e inicia uma nova fase com fins terapêuticos, com uma abordagem individual para
cada pessoa, usando os “Objetos relacionais": na dualidade destes objetos
(leves/pesados, moles/duros, cheios/vazios), Lygia trabalha o “arquivo de
memórias” dos seus pacientes, os seus medos e fragilidades, através do
sensorial. Ela não se limita apenas ao campo estético, mas sobretudo ao
atravessamento de territórios da Arte. Lygia Clark desloca-se para fora do
sistema do qual a arte é parte integrante, porque sua atitude incorpora, acima
de tudo, um exercício para a vida. Como afirma Lygia:
“Se a pessoa,
depois de fizer essa série de coisas que eu dou, se ela consegue viver de uma
maneira mais livre, usar o corpo de uma maneira mais sensual, se expressar
melhor, amar melhor, comer melhor, isso no fundo me interessa muito mais como
resultado do que a própria coisa em si que eu proponho a vocês” (Cf. O Mundo de
Lygia Clark, 1973, filme dirigido por Eduardo Clark, PLUG Produções).
Em 1981, Lygia
diminui paulatinamente o ritmo de suas atividades. Em 1983 é
publicado, numa edição limitada de 24 exemplares, o “Livro Obra", uma
verdadeira obra aberta que acompanha, por meio de textos escritos pela própria
artista e de
estruturas
manipuláveis, a trajetória da obra de Lygia desde as suas primeiras criações até
o final de sua fase neoconcreta.
Em 1986,
realiza-se, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, o IX
Salão de Artes Plásticas, com uma sala especial dedicada a Hélio Oiticica e
Lygia Clark. A exposição constitui a única grande retrospectiva dedicada a
Lygia Clark ainda em atividade artística. Em abril de 1988, Lygia Clark falece.
Fonte: Wikipédia
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