sábado, 28 de junho de 2014

AS ELEIÇÕES E A COPA

Por JOACI GÓES




A cada quatro anos, renovam-se as especulações sobre o impacto, nas eleições do Brasil, do resultado da Copa do Mundo de futebol, sempre coincidentes, desde 1950, com as eleições gerais, aí incluídas, algumas vezes, as presidenciais. Até hoje, essa influência, se existiu, não foi percebida pelos analistas do processo eleitoral.
No caso da atual Copa, o que se pode depreender é que uma eventual vitória do Brasil não beneficiará qualquer dos disputantes do processo político brasileiro, sendo, porém, provável que um resultado negativo será debitado ao governo atual como um componente adicional da revolta coletiva com os superfaturamentos abusivos em praticamente todas as obras destinadas à infraestrutura do mega evento.
É verdade que, até o presente momento, no plano de sua transcorrência, a Copa tem sido um grande sucesso de público e de emoções, com vários recordes sendo batidos, além de um equilíbrio entre os representantes dos diferentes continentes como raramente se viu em encontros anteriores, registrando-se, porém, um certo protagonismo das seleções sul-americanas. 
Nem mesmo o temor de boicotes oceânicos se materializou, reduzindo-se os protestos a manifestações de pequena e minguante monta, o que não significa a destruição de sua matriz genética. Ao contrário disso, estudiosos da cena social asseguram que, finda a competição, os movimentos de massa recrudescerão, com o povo à frente cobrando explicações que, já se sabe, nunca serão dadas de modo satisfatório.
A verdade palmar, porém, que salta aos olhos, é que a sociedade decidiu curtir de modo hedonístico e quase unânime os movimentos de participação popular com seu cortejo de venturas e desenganos, como se fora uma representação cronologicamente miniaturizada da própria vida. A vibração, portanto, parece ser geral, não sendo impossível, antes será provável, que esta Copa venha a ser considerada a mais empolgante de todas, até pela bizarrice de nosso meio social carregado de tantas contradições, onde a mais forte das quais confronta o acolhimento mais afetuoso com as possibilidades mais ominosas de violência contra o patrimônio alheio e a segurança das pessoas.
Esta fotografia de uma grande angular social não consegue elidir certas feridas nascidas do despreparo geral para receber visitantes, de um modo minimamente decente.
Aqui mesmo em Salvador, jornalistas estrangeiros, guiados por um soteropolitano, foram visitar o Centro Histórico. Quando buscaram o estacionamento que fica ao lado da Ordem Terceira de São Francisco, na ladeira que liga o Pelourinho à Baixa dos Sapateiros, foram assaltados pelo operador que afirmava agir em nome da concessionária do estado, a Master Park, cobrando, adiantadamente, trinta reais, por qualquer tempo utilizado, entre um minuto e um dia!
Temerosos de que os que se apresentavam como responsáveis pelo estacionamento fossem assaltantes, os jornalistas desistiram de estacionar. Como punição, os meliantes mantiveram o veículo dos visitantes em cárcere privado, liberando-o, somente, quando uma vítima que sucumbiu ao butim pedia passagem para sair.
Anote-se: os operadores do estacionamento juravam agir em nome da concessionária.
Verdade ou mentira? Em qualquer caso, no mínimo prevalece o princípio da culpa in elegendo, consoante lição do Direito Romano incorporada pelo direito pátrio.
A verdade que não quer calar é que com este tipo de serviço não há turismo nem imagem nacional que se segure.
De qualquer modo, o melhor é primeiro ganhar a Copa, e queixar-se depois ao bispo. 

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