Por JOACI GÓES
A cada quatro anos, renovam-se as especulações
sobre o impacto, nas eleições do Brasil, do resultado da Copa do Mundo de
futebol, sempre coincidentes, desde 1950, com as eleições gerais, aí incluídas,
algumas vezes, as presidenciais. Até hoje, essa influência, se existiu, não foi
percebida pelos analistas do processo eleitoral.
É verdade
que, até o presente momento, no plano de sua transcorrência, a Copa tem sido um
grande sucesso de público e de emoções, com vários recordes sendo batidos, além
de um equilíbrio entre os representantes dos diferentes continentes como
raramente se viu em encontros anteriores, registrando-se, porém, um certo
protagonismo das seleções sul-americanas.
Nem mesmo o
temor de boicotes oceânicos se materializou, reduzindo-se os protestos a
manifestações de pequena e minguante monta, o que não significa a destruição de
sua matriz genética. Ao contrário disso, estudiosos da cena social asseguram
que, finda a competição, os movimentos de massa recrudescerão, com o povo à frente
cobrando explicações que, já se sabe, nunca serão dadas de modo satisfatório.
A verdade
palmar, porém, que salta aos olhos, é que a sociedade decidiu curtir de modo
hedonístico e quase unânime os movimentos de participação popular com seu
cortejo de venturas e desenganos, como se fora uma representação
cronologicamente miniaturizada da própria vida. A vibração, portanto, parece
ser geral, não sendo impossível, antes será provável, que esta Copa venha a ser
considerada a mais empolgante de todas, até pela bizarrice de nosso meio social
carregado de tantas contradições, onde a mais forte das quais confronta o
acolhimento mais afetuoso com as possibilidades mais ominosas de violência
contra o patrimônio alheio e a segurança das pessoas.
Esta
fotografia de uma grande angular social não consegue elidir certas feridas
nascidas do despreparo geral para receber visitantes, de um modo minimamente
decente.
Aqui mesmo
em Salvador, jornalistas estrangeiros, guiados por um soteropolitano, foram
visitar o Centro Histórico. Quando buscaram o estacionamento que fica ao lado
da Ordem Terceira de São Francisco, na ladeira que liga o Pelourinho à Baixa
dos Sapateiros, foram assaltados pelo operador que afirmava agir em nome da
concessionária do estado, a Master Park, cobrando, adiantadamente, trinta
reais, por qualquer tempo utilizado, entre um minuto e um dia!
Temerosos
de que os que se apresentavam como responsáveis pelo estacionamento fossem
assaltantes, os jornalistas desistiram de estacionar. Como punição, os
meliantes mantiveram o veículo dos visitantes em cárcere privado, liberando-o,
somente, quando uma vítima que sucumbiu ao butim pedia passagem para sair.
Anote-se:
os operadores do estacionamento juravam agir em nome da concessionária.
Verdade ou
mentira? Em qualquer caso, no mínimo prevalece o princípio da culpa in
elegendo, consoante lição do Direito Romano incorporada pelo direito pátrio.
A verdade
que não quer calar é que com este tipo de serviço não há turismo nem imagem
nacional que se segure.
De qualquer
modo, o melhor é primeiro ganhar a Copa, e queixar-se depois ao bispo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário