sexta-feira, 20 de junho de 2014

ERREI, JULGAVA NÃO SER IMPORTANTE

Colaboração de JOÃO EUDES COSTA

Imortal da Academia de Letras de Quixadá – CE





Movidos pela ambição de atingir o píncaro da glória nos faz caminhar pela vida olhando somente para cima, buscando alvos que nem nossas retinas são capazes de fotografar.

Apressados e inquietos vamos passando por coisas importantes e que nos proporcionariam momentos de intensa felicidade, porque não acreditamos que na simplicidade das pessoas humildes possamos descobrir caminhos que nos conduzam à tranquilidade e ao contentamento. Essas trilhas apagam-se com o peso de nossa insensatez e insensibilidade por não acreditar que somos os únicos capazes de construir nossa própria felicidade, pois Deus a coloca ao nosso alcance, mas o orgulho não nos deixa enxergar.

Diariamente, faço caminhada numa praça que acolhe pessoas de diferentes classes sociais, embora todas capazes de nos ajudar encontrar a paz interior. Inutilmente, procuramos no castelo da luxúria, onde residem os que são julgados pelo tribunal leviano da sociedade, que põe no trono os detentores do dinheiro e do poder e aprisionam nas senzalas os irmãos indefesos escravos da prepotência da influente burguesia escravista.

Num dos bancos da praça, sempre estava sentado um velho solitário, que jamais havia recebido de mim sequer uma saudação. Apesar da indiferença como era tratado pelos freqüentadores da praça, o velho anônimo não demonstrava tristeza. Seu rosto, cujas rugas deviam escrever a história de sua vida, não revelava infelicidade, nem aquela solidão impedia que um eterno sorriso acompanhasse o olhar cheio de esperança, como se aguardasse, a qualquer momento, um cumprimento cordial e amigo.

Certa vez, senti um estranho cansaço, o que não era normal experimentar num trajeto que fazia todos os dias. Parei exatamente em frente ao banco do velho solitário, que notou que algo de anormal estava acontecendo comigo. Levantou-se, com dificuldade pelo peso dos anos, pegou em meu braço e disse carinhosamente: “Moço sente-se, descanse um pouco, respire profundamente que sua palidez desaparece e você continua a caminhada com a mesma impetuosidade de todos os dias”.

Sem nada responder, fiz o que o meu anjo da guarda recomendou. Em pouco tempo estava recuperado e pronto para concluir a minha jornada matinal. Algo, porém, pediu-me que permanecesse ali para ouvir a sabedoria do grande mestre que estava ao meu lado. Meu companheiro, com a prudência dos sábios não interrompeu a tranquilidade necessária à minha recuperação.

Fui eu quem interrompeu o silêncio. O Senhor sempre está neste local sozinho, mas parece muito alegre. O velho, abrindo um sorriso, respondeu: “Sim todos os dias venho buscar felicidade nesta praça.” Vendo-me surpreso explicou: “Filho, não tenho família. Vivo aparentemente sozinho, mas Jesus está sempre ao meu lado e me guiou para este local porque sabe que aqui me sinto feliz e não há solidão. Embora ninguém note a minha presença, fico alegre com a felicidade dos jovens que passam sorridentes desenhando a beleza da juventude. Contento-me com a felicidade dos casais que riem construindo seus castelos do amor. Abro longo sorriso com as crianças que apanham as bolas presas aos meus pés e eu as entrego e elas agradecem chamando-me de vovô.”

Depois de uma pequena pausa continuou: “Os que passam tensos e apressados ou com passadas lentas enxugando as lágrimas que escrevem em seus rostos a torturante angústia, fico apreensivo, porque quero que todos aqui sejam  felizes como eu.”

Naquele dia, um desconforto físico levou-me descobrir o caminho da verdadeira felicidade, que veste roupas modestas, pronuncia palavras simples, mas acolhedora e fala olhando com profundidade para os nossos olhos, fazendo a bendita transfusão da alegria de viver.

As palavras do velho erudito foram luzes que me mostraram novos caminhos. Minha caminhada tomou outro rumo, porque viver a nossa e a felicidade dos outros dá outra dimensão à vida. Descobri que ninguém é feliz buscando alegria apenas para si e que Jesus nos acompanha em todo momento, mesmo quando ignoramos ou duvidamos de sua presença.

Foi Ele quem me colocou ao lado do humilde sábio. Até então, na minha arrogância e insensibilidade jamais admitia que a felicidade estivesse tão perto de mim, pois sempre a procurei nas alturas inatingíveis de minha ambição. 

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