Colaboração de JOÃO EUDES COSTA
Imortal da Academia de Letras de Quixadá – CE
Movidos
pela ambição de atingir o píncaro da glória nos faz caminhar pela vida olhando
somente para cima, buscando alvos que nem nossas retinas são capazes de
fotografar.
Apressados
e inquietos vamos passando por coisas importantes e que nos proporcionariam
momentos de intensa felicidade, porque não acreditamos que na simplicidade das
pessoas humildes possamos descobrir caminhos que nos conduzam à tranquilidade e
ao contentamento. Essas trilhas apagam-se com o peso de nossa insensatez e
insensibilidade por não acreditar que somos os únicos capazes de construir
nossa própria felicidade, pois Deus a coloca ao nosso alcance, mas o orgulho
não nos deixa enxergar.
Diariamente,
faço caminhada numa praça que acolhe pessoas de diferentes classes sociais,
embora todas capazes de nos ajudar encontrar a paz interior. Inutilmente,
procuramos no castelo da luxúria, onde residem os que são julgados pelo
tribunal leviano da sociedade, que põe no trono os detentores do dinheiro e do
poder e aprisionam nas senzalas os irmãos indefesos escravos da prepotência da
influente burguesia escravista.
Num
dos bancos da praça, sempre estava sentado um velho solitário, que jamais havia
recebido de mim sequer uma saudação. Apesar da indiferença como era tratado
pelos freqüentadores da praça, o velho anônimo não demonstrava tristeza. Seu
rosto, cujas rugas deviam escrever a história de sua vida, não revelava
infelicidade, nem aquela solidão impedia que um eterno sorriso acompanhasse o
olhar cheio de esperança, como se aguardasse, a qualquer momento, um
cumprimento cordial e amigo.
Certa
vez, senti um estranho cansaço, o que não era normal experimentar num trajeto
que fazia todos os dias. Parei exatamente em frente ao banco do velho
solitário, que notou que algo de anormal estava acontecendo comigo.
Levantou-se, com dificuldade pelo peso dos anos, pegou em meu braço e disse
carinhosamente: “Moço sente-se, descanse um pouco, respire profundamente que
sua palidez desaparece e você continua a caminhada com a mesma impetuosidade de
todos os dias”.
Sem
nada responder, fiz o que o meu anjo da guarda recomendou. Em pouco tempo
estava recuperado e pronto para concluir a minha jornada matinal. Algo, porém,
pediu-me que permanecesse ali para ouvir a sabedoria do grande mestre que
estava ao meu lado. Meu companheiro, com a prudência dos sábios não interrompeu
a tranquilidade necessária à minha recuperação.
Fui
eu quem interrompeu o silêncio. O Senhor sempre está neste local sozinho, mas
parece muito alegre. O velho, abrindo um sorriso, respondeu: “Sim todos os dias
venho buscar felicidade nesta praça.” Vendo-me surpreso explicou: “Filho, não
tenho família. Vivo aparentemente sozinho, mas Jesus está sempre ao meu lado e
me guiou para este local porque sabe que aqui me sinto feliz e não há solidão.
Embora ninguém note a minha presença, fico alegre com a felicidade dos jovens
que passam sorridentes desenhando a beleza da juventude. Contento-me com a
felicidade dos casais que riem construindo seus castelos do amor. Abro longo
sorriso com as crianças que apanham as bolas presas aos meus pés e eu as
entrego e elas agradecem chamando-me de vovô.”
Depois
de uma pequena pausa continuou: “Os que passam tensos e apressados ou com
passadas lentas enxugando as lágrimas que escrevem em seus rostos a torturante
angústia, fico apreensivo, porque quero que todos aqui sejam felizes
como eu.”
Naquele
dia, um desconforto físico levou-me descobrir o caminho da verdadeira felicidade,
que veste roupas modestas, pronuncia palavras simples, mas acolhedora e fala
olhando com profundidade para os nossos olhos, fazendo a bendita transfusão da
alegria de viver.
As
palavras do velho erudito foram luzes que me mostraram novos caminhos. Minha
caminhada tomou outro rumo, porque viver a nossa e a felicidade dos outros dá
outra dimensão à vida. Descobri que ninguém é feliz buscando alegria apenas
para si e que Jesus nos acompanha em todo momento, mesmo quando ignoramos ou
duvidamos de sua presença.
Foi Ele quem me colocou ao lado do humilde sábio. Até
então, na minha arrogância e insensibilidade jamais admitia que a felicidade
estivesse tão perto de mim, pois sempre a procurei nas alturas inatingíveis de
minha ambição.
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