segunda-feira, 23 de junho de 2014

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

POR JOACI GÓES



Aqui mesmo, neste espaço, escrevemos três artigos, entre 2010 e 2011, considerando, como vitória de Pirro, a realização da Copa no Brasil.
As razões do nosso inconformismo eram, essencialmente, as mesmas que levaram multidões às ruas, há precisamente um ano: inversão de prioridades, quando temos questões básicas que clamam por soluções nas áreas de infraestrutura física e social, como rodovias, portos, aeroportos, saneamento básico, segurança pública, saúde e educação.
Acrescentamos, também, naqueles artigos, a quase certeza de que  o momentoso evento daria ensejo ao aumento da bitola do propinoduto para encher as burras das quadrilhas que, desgraçadamente, estão encasteladas no poder. Facilitando as coisas, o Congresso Nacional aprovou, em caráter de urgência, a lei que criou o Regime Diferenciado de Contratação, rapidamente sancionada pelo Planalto, arguidamente, para assegurar a celeridade das obras.
Como os fatos vêm demonstrando, à larga, não deu outra. Os custos da realização da Copa no Brasil são os mais altos da história, alcançando o superfaturamento das obras níveis estratosféricos, sem que tenhamos conquistado qualquer dos grandes benefícios anunciados, como um grande afluxo de turistas, projetando o País aos olhos do mundo, a elevação da autoestima popular e a realização de obras destinadas a melhorar a mobilidade urbana dos grandes centros nacionais. O resultado é o que aí está: os turistas cancelando reservas, com medo da violência endêmica, o povo revoltado e o trânsito ruim como nunca.
Para agravar, ainda mais, o humor popular, a má qualidade de serviços essenciais ao presente e ao futuro das pessoas, como saúde, segurança e educação, contribuindo para generalizar o pânico, coincide com a pilhagem desenfreada do Erário, de que o escândalo da compra da refinaria de Passadena, nos Estados Unidos, por valores trinta vezes superiores ao preço de mercado, é o exemplo mais emblemático. Quando a Nação se debruçar sobre o escândalo da Refinaria Lima e Abreu, em Pernambuco, que já custa dez vezes mais o orçamento inicial, os monges de pedra corarão de vergonha.
Não integramos o exército do quanto pior melhor, como mecanismo para chegar ao poder, como tem sido a prática do partido que empolgou as massas com o discurso da ética e da honradez, decaindo, agora, no apreço popular, em razão das barbaridades, sem nome, que comprometem, irremediavelmente, sua biografia. Por isso, desejamos que a competição que, dentro em pouco, se realizará em nosso País transcorra em ambiente da mais completa normalidade.

Melhor, ainda, se o Brasil levantar o caneco pela sexta vez e o povo mandar os malfeitores embora.
    


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