Colaboração de Conrado Matos
O que faremos para recomeçar depois de termos vivenciado a dor da
perda, mesmo não a esquecendo nunca mais? A perda de um ente querido. Que diga
de passagem - como dói! A perda é dolorosa. Quem já sentiu sabe muito bem.
Mesmo assim, precisamos reservar muito gás para continuar lutando
instintivamente pela nossa sobrevivência, estando ciente de que não nos
livramos de outras perdas, de outras decepções. Enquanto existe vida,
presenciamos perdas, derrotas e vitórias. O bom da vida é não perder a cabeça.
Tudo isso passa. A vida só tem graça quando passamos pela dor da frustração, e
pelo prazer de tudo que conquistamos. O mal e o bem andam juntos, e vivenciamos
a experiência dos dois. O certo é não se desesperar, para não fazer besteiras
na vida.
A perda é ingrata. Mãe má, do leite mal de Klein ( Melanie Klein –
psicanalista que aprimorou a psicanálise infantil), que nos deixa frustrados e
decepcionados. Mas com seu amargo psicossomático, vivenciamos o enigma, a dor
da angústia real, a que nos motiva a viver um tormento psíquico, para poder
mudar de foco.
A perda de um amor, por exemplo, pode nos fazer refletir o quanto
fomos egoístas e desumanos. O quanto faltamos com a arte do bom relacionamento,
e por pouca experiência interpessoal, não fizemos as trocas devidas. A perda de
um emprego pode provocar um estalo grandioso em nossa mente, e nos fazer pensar
que devemos mudar de foco, criar novas estratégias, e nos especializarmos
profissionalmente com muita urgência, para não cometermos as mesmas falhas e os
mesmos deslizes. Ou quem sabe, a perda de um ente querido, que pode nos fazer
refletir e buscarmos por maneiras mais humanas, fraternas e calorosas.
Só sei que, com a perda, vamos passar pela provação de alguma
coisa desastrosa ou desagradável em nossa vida. Seja para o bem, ou para o mal.
Tudo depende de como se encontra o nosso psiquismo, ou o nosso próprio eu, como
maior gerenciador da nossa consciência.
Perder nunca é bom. Às vezes, quando perdemos algo, nos dá uma dor
de cabeça danada. Haja analgésico para tranquilizar a dor. A dor presente, mas
que lá no passado, existiu a outra dor – a dor do trauma; a dor do inconsciente
– a dor psicossomática.
Tem gente que quando perde dinheiro, não dorme bem. Tem torcedor
de futebol que quando seu time perde, fica agressivo e parte para o vandalismo.
Já existiram pessoas que suicidaram diante de uma perda. Mas há daqueles que já
romperam com uma relação amorosa, e disseram-me, em análise, que se livraram de
um tormento. Pois é, tem perda que nos faz muita falta, mas tem algumas que
foram mesmo que se livrar de um dente estragado, que nos atormentou durante a
noite.
A perda é assim, ingrata e boa. Quem não já passou pela
experiência de ter perdido uma namorada para alguém, às vezes, um conhecido ou
um irmão. Ou por ter perdido uma aposta, porque seu time perdeu. Ou porque
perdeu muito dinheiro na Bolsa de Valores.
Aprendemos com coisas boas e com coisas ruins. Até por uma má
escolha de um político que acreditávamos em sua boa fé. Quantas experiências já
passamos de ter feito tantas escolhas erradas, mesmo assim, continuamos
errando. Batemos em portas e recebemos muitos não’s e muitos sim’s. A vida é
assim mesmo – frustrante. É na frustração que a desafiamos mais. A vida é boa e
ruim, oscila para frustração, quando perdemos, e oscila para o prazer, quando
ganhamos. O mundo é de perdas e de ganhos.
O bom é que, se aproveitarmos cada uma dessas experiências, boas e
ruins da vida, dos seus encantos e desencantos, nunca devemos deixar de vista,
que um dia podemos recomeçar.
Conrado Matos é Psicanalista,
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Escritor: e-mail:
psicanaliseconrado@hotmail.com
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