Fernando
Alcoforado*
O
capitalismo é o sistema social baseado na divisão do trabalho e na propriedade
privada
dos meios de produção. Todos os agentes econômicos agem por conta própria.
Este
sistema é guiado pelo mercado que orienta as atividades dos agentes econômicos
por
caminhos que possibilitam melhor servir as expectativas dos investidores. O
Estado
utiliza o
seu poder coercitivo exclusivamente com o propósito de evitar que as pessoas
empreendam
ações lesivas à preservação e ao funcionamento regular da economia de
mercado.
Assim, o Estado cria e preserva o ambiente onde a economia de mercado pode funcionar
em segurança. O slogan marxista que caracteriza o sistema capitalista
como anárquico retrata corretamente essa estrutura social.
Na
economia de mercado, a maior parte da produção econômica (de bens e de
serviços) é resultante da decisão tomada por empresas privadas controladas por
cidadãos particulares na indústria, no comercio, na infraestrutura e na
prestação de serviços. Na economia de mercado, o Estado interfere na atividade
econômica basicamente para regulamentar e, em alguns países, prestar serviços
em setores como energia, segurança, educação, saúde, entre outros. O planejamento
estatal da economia é meramente indicativo. O padrão desejado de desempenho de
uma nação é medido na economia de mercado, basicamente, pelo que realiza no
campo da economia utilizando-se como referenciais de progresso o tamanho e o
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e a taxa de inflação.
O
capitalismo é um sistema complexo, dinâmico, adaptativo e não linear porque
possui
elementos
ou agentes em grande número que interagem entre si formando uma ou mais estruturas
que se originam das interações entre tais agentes. Os sistemas complexos são sistemas
que se caracterizam por serem dinâmicos que têm como características fundamentais
sua sensível dependência das condições iniciais pelas quais, mínimas diferenças
no início de um processo qualquer, podem levar a situações completamente opostas
ao longo do tempo.
A opinião
de Ervin Laszlo, Ph.D. pela Sorbonne e presidente do Clube de Budapeste,
apresentada
no livro O Ponto do Caos (São Paulo: Editora Cultrix, 2006), é a de que
“um
sistema dinâmico, quer ocorra na natureza, na sociedade ou em uma simulação de computador,
é governado por atratores. Estes definem ‘o retrato de fase’ do sistema:
a maneira como ele se comporta ao longo do tempo. Atratores estáveis puxam a
trajetória do desenvolvimento do sistema para dentro de um padrão recorrente e
reconhecível, levando-o a convergir em um dado ponto (se o sistema for
governado por atratores pontuais) ou a descrever ciclos através de diferentes
estados (quando ele está sob o comando de atratores periódicos). No entanto,
sistemas dinâmicos também podem alcançar um estado em que os atratores que
emergem não são estáveis, mas ‘estranhos’. São os atratores caóticos”.
Cabe
observar que um atrator é o conjunto de pontos no espaço de fase para o qual um
sistema tende a ir à medida que evolui. O atrator pode ser um único ponto, uma
curva fechada (ciclo limite) que descreve um sistema de comportamento
periódico, ou
um fractal
(também chamado de atrator estranho), quando o sistema apresenta caos. Em sistemas
caóticos o movimento nunca se repete, apesar de muitas vezes ter que ocorrer dentro
de certos limites. Assim, somente uma figura infinitamente complexa – um fractal
- pode dar conta de representar esta trajetória que nunca se repete no espaço
de fase. Mudança e Tempo são os dois aspectos fundamentais do Caos.
O Caos se
refere principalmente a algo que evolui ao longo do tempo. A Teoria do Caos
explica o
funcionamento de sistemas complexos e dinâmicos. Nesses sistemas,
inúmeros
elementos estão em interação de forma imprevisível e aleatória. Este é o caso da
economia de mercado capitalista porque não existe uma governança eficaz do
sistema
econômico. Cabe observar que Ilya Prigogine, comentando em “As leis do
Caos”
sobre pontos de bifurcação em reações químicas, afirma que “elas demonstram
que até
mesmo em nível macroscópico a nossa predição do futuro mistura determinismo e
probabilidade. No ponto de bifurcação, a predição tem caráter probabilístico,
ao passo que entre os pontos de bifurcação, podemos falar de leis
deterministas” (PRIGOGINE,
As
leis do caos. São Paulo: Editora da UNESP, 2002).
É de Ervin
Laszlo a tese de que “os sistemas entram em um estado de caos quando
flutuações
que eram, até então, corrigidas por realimentações negativas
auto
estabilizadoras ficam fora de controle. A trajetória de desenvolvimento
torna-se não linear: tendências predominantes colapsam e em seu lugar surgem
vários
desenvolvimentos
complexos. Raramente o caos é uma condição prolongada. Na maior parte dos
casos, é apenas uma época transitória entre estados mais estáveis. Quando as flutuações
no sistema atingem níveis de irreversibilidade, o sistema atinge um ponto crítico
em que ele colapsa em seus componentes individuais estáveis (colapso) ou passa por
uma evolução rápida em direção a um estado resistente às flutuações que o desestabilizaram
(avanço revolucionário). Se esse caminho do avanço revolucionário é selecionado,
o sistema evolui para um estado no qual ele tem uma capacidade de processamento
de informação intensificada e maior eficiência no uso da energia livre, bem
como mais flexibilidade, maior complexidade estrutural e níveis de organização adicionais”.
Quando
está sujeito a “flutuações”, um sistema dinâmico como o sistema econômico de um
país o leva a um ponto de bifurcação a partir do qual o sistema alcança uma
nova estabilidade dinâmica (avanço revolucionário) ou entra em colapso. No
ponto de
bifurcação,
o sistema tem que ser reestruturado ou entrará em colapso. Esta é a situação vivida
pela economia de muitos países, inclusive a do Brasil, que, após a crise que eclodiu
em 2008 nos Estados Unidos e se espraiou pelo planeta, não houve uma
reestruturação
dos sistemas econômicos nacionais e mundial.
O caminho
do avanço revolucionário, que levaria à superação da crise econômica
mundial
eclodida em 2008 e não foi resolvida até hoje, requereria a reestruturação do
sistema
econômico mundial transformando-o em um sistema complexo aberto, auto
organizável e sensível ao feedback que, contribuindo para a troca de insumo ou
energia com o ambiente, o tornaria suscetível às mudanças resultantes de feedback,
adaptando-se ao novo ambiente e aprendendo por meio de sua experiência.
Ao invés
do avanço revolucionário que levaria à superação da crise econômica global, o cenário
de colapso da economia mundial foi prognosticado pelo grande pensador e
economista
francês, Jacques Attali que prevê a ocorrência de quatro etapas para o
desdobramento
da crise econômica que eclodiu em 2008 nos Estados Unidos e que se
espraiou
pelo mundo: 1) As dívidas públicas se tornam mais pesadas; 2) A falência do
Euro e a
depressão mundial; 3) Falência do Dólar e retorno da inflação mundial; e, 4)
Depressão
e ruína da Ásia (ATTALI, J. Tous ruinés dans dix ans?- Dette publique: La
dernière chance. Librairie Arthème Fayard, 2010). No
momento atual, a economia
mundial se
defronta com a etapa 1 em que as dívidas públicas se avolumaram em todo o mundo. Segundo Jacques Attali, o sistema
financeiro internacional já não funciona mais. O modelo neoliberal que regeu o
mundo nos últimos 40 anos morreu e haverá depressão que durará muitos anos.
Diante da existência do caos que domina a economia mundial, é chegada a hora de
cada país e a humanidade se dotarem o mais urgentemente possível de instrumentos
necessários a terem o controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino
a humanidade precisa exercer a governabilidade de seus sistemas econômicos e da
economia mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana.
*Fernando
Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas
energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997),
De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São
Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG,
Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento
Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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