Para os amigos era simplesmente o JU.
João Ubaldo Osório
Pimentel Ribeiro (Itaparica, 23 de janeiro de 1941 — Rio de Janeiro, 18 de julho de 2014) foi
um escritor, jornalista, roteirista e professor brasileiro, formado
em direito e
membro da Academia Brasileira de Letras. Foi ganhador
do Prêmio Camões de 2008, maior premiação para autores de língua portuguesa. Ubaldo Ribeiro teve algumas obras adaptadas
para a televisão e
para o cinema, além de
ter sido distinguido em outros países, como a Alemanha. É
autor de romances como Sargento Getúlio, O Sorriso do Lagarto, A Casa dos Budas Ditosos, que causou
polêmica e ficou proibido em alguns estabelecimentos, e Viva o Povo Brasileiro, tendo sido, esse
último, destacado como samba-enredo pela escola de samba Império da Tijuca, no Carnaval de 1987. É
pai do ator e Ex-VJ da MTV Bento Ribeiro. Faleceu na madrugada de hoje dia 18 de Julho em
sua casa, no Leblon, vitima de uma embolia pulmonar.
Nascido na Bahia na
casa do avô materno, quando completou dois meses de idade a família mudou-se
para Aracaju, Sergipe, onde
passou parte da infância. Seu pai, Manuel Ribeiro, advogado de renome na
capital baiana, veio a ser o fundador e diretor do curso de Direito da Universidade Católica de Salvador. Sua mãe
Maria Filipa Osório Pimentel deu à luz mais dois filhos: Sônia Maria e Manuel.
Seu pai, por ser
professor, não suportava a ideia de ter um filho analfabeto e João iniciou
seus estudos com um professor particular, em 1947. Alfabetizado, ingressou no
Instituto Ipiranga, em 1948, ano em que leu muitos livros infantis,
principalmente a obra de Monteiro Lobato. O
pai de João sempre fora exigente, o que fez do garoto se empenhar intensamente
nos estudos.
Em 1951 ingressou
no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, na capital sergipana. Prestava ao pai,
diariamente, contas sobre os textos que havia lido e, algumas vezes, era
obrigado a resumi-los e a traduzir alguns de seus trechos. Afirma ter feito
essas tarefas com prazer e, nas férias, estudava também o latim. Seu
pai era chefe da Polícia Militar, e nessa
época, passa a sofrer pressões políticas, o que o faz transferir-se com a família
para Salvador. Na capital baiana João Ubaldo é matriculado no
Colégio Sofia Costa Pinto. Em 1955 matriculou-se no curso clássico do Colégio
da Bahia, conhecido como Colégio
Central, onde conheceu seu colega Glauber Rocha. Em 1958
iniciou seu Curso de
Direito na Universidade Federal da Bahia.
Em 1964, João
Ubaldo parte para os Estados Unidos, através de uma bolsa de estudos conseguida
junto à Embaixada norte-americana, para fazer seu mestrado em Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul.
Em 1957 estreia
no jornalismo,
trabalhando como repórter no Jornal da Bahia, sendo
depois transferido para a Tribuna da Bahia, onde
chegaria a exercer o posto de editor-chefe. Editou juntamente com Glauber
Rocha, revistas e jornais culturais e participa do movimento estudantil (1958).
Apesar de nunca ter exercido a profissão de advogado, foi aluno exemplar. Nessa
mesma Universidade, concluído o curso de Direito, faz pós-graduação em Administração Pública.
Atualmente, João
colabora nos editais O Globo, Frankfurter Rundschau (na
Alemanha), Jornal da Bahia, Die Zeit (Alemanha), The
Times Literary Supplement (Inglaterra), O Jornal(Portugal), Jornal de Letras (Portugal), O Estado de São Paulo, A Tarde e
muitos outros, exteriores e nacionais.
João Ubaldo Ribeiro
durante a recepção « O Rei da Noite » na ilha e cidade de Itaparica
Seu primeiro
casamento foi em 1960 com Maria Beatriz Moreira Caldas, sua colega na Faculdade
de Direito. Separaram-se após nove anos de vida conjugal. João passou boa parte
de sua vida no exterior, em países como nos Estados Unidos (como
estudante e, posteriormente, como professor convidado), em Portugal (editando
em parceria com o jornalista Tarso de Castro a
revista Careta) e na Alemanha (publicando
crônicas semanais para o jornal Frankfurter Rundschau, além de
produzir peças para o rádio).
Em 1964 partiu para
os Estados Unidos, através de uma bolsa de estudos conseguida junto à Embaixada norte-americana,
para fazer seu mestrado em Administração Pública e Ciência Política na Universidade da Califórnia do
Sul. Na sua ausência, teve até sua fotografia divulgada pela televisão baiana,
encimada com a palavra Procura-se.
Voltou ao Brasil em
1965 e começou a lecionar Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia. Ali
permaneceu por seis anos, mas desistiu da carreira acadêmica e retornou ao
jornalismo. Em 1969 casou-se com a historiadora Mônica Maria Roters, com quem
tem duas filhas, Emília e Manuela. O casamento acabaria em 1978. Em 1980
casou-se com a fisioterapeuta Berenice Batella, com quem tem dois filhos, Bento e Francisca. Participa, em Cuba, do júri
do concurso Casa das Américas, juntamente com o critico literário Antônio Cândido e o
ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri. O primeiro prêmio
foi concedido à brasileira Ana Maria Machado. Residindo
em Portugal edita com o jornalista Tarso de Castro, a revista Careta.
Volta a residir
no Rio de Janeiro em 1991 e, em 1994, é eleito para a Academia
Brasileira de Letras. Participa no mesmo ano da Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha,
recebendo o Prêmio Anna Seghers, concedido somente a escritores alemães e
latino-americanos.
Em 1959 participou
da antologia Panorama
do Conto Baiano, com o conto Lugar e Circunstância; a antologia é
publicada pela Imprensa Oficial da Bahia. Nesse período trabalha na Prefeitura
de Salvador como office-boy do Gabinete e logo em seguida como
redator do Departamento de Turismo. Em 1961, participa da coletânea de
contos Reunião, editada pela Universidade Federal da Bahia, com os
contos Josefina, Decalião e O Campeão.
Em 1963 escreveu
seu primeiro romance, Setembro Não Faz Sentido, com prefácio do
colega Glauber Rocha e apadrinhamento de Jorge Amado. O título
original seria A Semema da Pátria, mas por sugestão da editora,
João alterou o título.
A Editora
Civilização Brasileira lança, em 1971, o romance Sargento Getúlio, feito que garantiu a João o Prêmio Jabuti de 1972 concedido
pela Câmara Brasileira do Livro, na categoria
"Revelação de Autor". Segundo a crítica da época, o livro contém o
melhor de Graciliano Ramos e o melhor de Guimarães Rosa.
Publicou, em 1974,
o livro de contos Vencecavalo e o outro povo, cujo título inicial era A
guerra dos Pananaguás, pela Editora Artenova. Com
tradução feita pelo próprio autor, vários romances tornaram-se famosos no
exterior, entre eles o Sargento Getúlio que, lançado nos
Estados Unidos em 1978, ganhou receptividade pela crítica do país. Em 1981
muda-se para Lisboa, Portugal e, voltando
ao Brasil, publica Política - livro ainda adotado em
faculdades e republicado como Já Podeis da Pátria Filhos -,
além de iniciar colaboração no jornal O Globo. Sua
produção jornalística nessa época foi reunida em 1988 no livro Sempre
aos Domingos.
Em 1982 inicia o
romance Viva o Povo Brasileiro (intitulado primeiramente
como Alto lá, meu general). Nesse ano participou do Festival
Internacional de Escritores, em Toronto, Canadá. Viva
o povo Brasileiro é finalmente editado em 1984, e recebe o Prêmio Jabuti na
categoria "Romance" e o Golfinho de Ouro, do Governo do Rio de Janeiro. Inicia a
tradução do livro para a língua inglesa, tarefa
que lhe consumiu dois anos de trabalho, a partir do qual preferiu utilizar
o computador. Ao lado
dos escritores Jorge Luis Borges e Gabriel Garcia Marquez, participa de uma
série de nove filmes produzidos pela TV estatal canadense sobre a literatura
na América Latina.
Em 1983, estreia
na literatura infanto-juvenil com o
livro Vida e paixão de Pandonar, o cruel. Em 1989
lança o romance O sorriso do lagarto. Sua segunda experiência na
literatura infanto-juvenil apresenta-se em 1990 com o livro A Vingança
de Charles Tiburone.
Neste ano João
participa do já citado Frankfurter Rundschau e, retornando em
1991 ao país de origem, hospeda-se no Rio de Janeiro. Em 1994 lança o livro de
crônicas Um brasileiro em Berlim, sobre sua estada na cidade.
Publica, em 1997, o romance O feitiço da Ilha do Pavão, pela Editora Nova Fronteira. No mesmo ano,
antes da publicação deste romance, João é hospitalizado com fortes dores de
cabeça devido uma queda. Fora escolhido, em 1999, um dos escritores em
todo mundo para dar um depoimento ao jornal francês "Libération"
sobre o milênio que se aproximava na época.
Em 2000, saíram
várias reedições de seus livros na Alemanha, incluindo uma nova edição de bolso
de Sargento Getúlio. O sorriso do lagarto foi
publicado na França. "A casa dos Budas ditosos" foi traduzido para o
inglês, nos Estados Unidos. Viva o povo brasileiro foi
indicado para o exame de Agrégation, um concurso nacional realizado na França
para os detentores de diploma de graduação.
Seus principais
romances são Sargento Getúlio, Viva o Povo Brasileiro e O Sorriso do Lagarto, no qual expressa
com bastante vivacidade e imaginação exuberante aspectos políticos e sociais da
vida nordestina e brasileira.
Um dos grandes
criadores de artigos jornalísticos no Jornal Bahia (Jornal a Tarde), onde esses
além de serem críticos-educativos, fortalecem a construção política da
sociedade que tem acesso aos seus materiais.
João é detentor da
cátedra de Poetik Dozentur (Docente em poesia) na Universidade
de Tübigen, Alemanha e também consagrado na Avenida Marquês de Sapucaí. Seu livro Viva o povo brasileiro foi
escolhido como samba-enredo da escola Império da Tijuca para
o carnaval do ano de 1987. Em 1993 foi eleito para a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, na vaga aberta
com a morte do jornalista Carlos Castello Branco. Participou em
1994 da Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha,
recebendo o Prêmio Anna Seghers, concedido
somente a escritores alemães e latino-americanos. Em 2008 recebeu o Prêmio Camões pelo "alto nível de sua obra
literária", "especialmente densa das culturas portuguesa, africanas e
dos habitantes originais do Brasil". Ele foi o oitavo brasileiro a
ganhar o prêmio. Especula-se que o valor do prêmio foi 100 mil euros,
semelhante ao que foi pago a António Lobo Antunes, ganhador do Camões de 2007.
O estilo literário de João Ubaldo Ribeiro é basicamente traçado
pela ironia e
pelo contexto
social do Brasil, abrangendo também cultura portuguesa e cultura africana. Antônio Olinto,
escritor, crítico literário, diplomata e
também membro da Academia Brasileira de Letras, diz que Ubaldo
constrói sua estrutura muitas vezes começando a história pelo meio, como se ela
já houvesse existido antes. "Mas como falar deste país sem o lanho do
humor? Em tudo insere João Ubaldo a visão do humorista, que vê o que não
aparece, identifica a nudez das gentes, entende os pensamentos ocultos",
diz Olinto, no mesmo artigo. Segundo ele, em Ubaldo Ribeiro o humor atinge
seu auge em Vencecavalo e o Outro Povo.
Olinto também
reforça que "no fundo, chega João Ubaldo à criação de um país e de um
povo, país dele e povo dele, mas também país que existe fora das palavras e
povo que ri fora e dentro das palavras. As duas realidades - a real, que
envolve o caminho de cada brasileiro e a realidade não menos real, mas com
outras vestiduras - mesclam-se na obra de João Ubaldo de tal maneira que ele
acaba promovendo uma invenção do Brasil e uma invenção de cada um de nós. Nisso
- e no modo como pega no país para o mostrar pelo avesso, e nas gentes desse
país, para mostrá-las de cara lavada - provoca uma reação de espanto e
incredulidade." Para Antonio, João Ubaldo é o "porta-voz" do
Brasil, devido os inúmeros materiais produzidos por ele quanto às condições
sociais que condizem com a atualidade nacional. Essas análises, não só
encontradas em livros, podem ser descobertas também na grande gama de artigos
escritos por Ubaldo em diversos jornais do país. No artigo, Olinto termina
dizendo que "inventando um país, João Ubaldo inventou-se a si mesmo e foi
eleito pelos seus leitores o porta-voz deste país."
João teve várias de
suas obras adaptadas para o cinema e para a televisão, tendo, inclusive,
participado no processo de criação delas:
Seu livro Sargento
Getúlio tornou-se um filme premiado em 1983, dirigido por Hermano
Penna e protagonizado por Lima Duarte (Sargento Getúlio (filme));
Quando voltou a
residir no Rio de Janeiro em 1991, voltando do exterior, seu romance O
sorriso do lagarto foi adaptado para uma minissérie na Rede Globo, tendo
como protagonistas os atores Tony Ramos, Maitê Proença e José Lewgoy;
Em 1993
adaptou O santo que não acreditava em Deus para a série Caso
Especial, da Rede Globo, que teve Lima Duarte no papel principal;
Em 1997, ano em que
foi internado devido às dores de cabeça, o cineasta Cacá Diegues comprou
os direitos de filmagem do livro Já podeis da pátria filhos, embora
o filme não tenha sido produzido;
Em 1998, vendeu os
direitos autorais de Viva o povo brasileiro para o cineasta
André Luis Oliveira;
No ano seguinte,
juntamente com Cacá Diegues, escreveu o roteiro de Deus é Brasileiro, em cima de seu conto O santo que não
acreditava em Deus.
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