Seriam mesmo de Shakespeare as obras que lhes são atribuídas?
Acredita-se que
William Shakespeare foi filho de John Shakespeare, um
bem-sucedido luveiro e subprefeito
de Stratford (depois comerciante de lãs), vindo de
Snitterfild, e Mary Arden, filha
afluente de um rico proprietário de terras. Embora a sua data de nascimento
seja desconhecida, admite-se a de 23 de Abril de 1564 com base no registro de
seu batizado, a 26 do mesmo mês, devido ao costume, à época, de se batizarem as
crianças três dias após o nascimento. Shakespeare foi o terceiro filho de uma
prole de oito e o mais velho a sobreviver.
Muitos concordam
que William foi educado em uma excelente grammar schools da
época, um tipo de preparação para a Universidade. No
entanto, Park Honan conta, em Shakespeare, uma vida que John
foi obrigado a tirá-lo desta escola, quando William deveria ter quinze ou
dezesseis anos (algumas fontes citam doze anos). Na década de 1570, John passou
a ter um declínio econômico que o impossibilitou junto aos credores e da
sociedade. Acredita-se que, por causa disso, o jovem Shakespeare possuiu uma formação
colegial incompleta. Segundo certos biógrafos, Shakespeare precisou trabalhar
cedo para ajudar a família, aprendendo, inclusive, a tarefa de esquartejar bois
e até abater carneiros.
Aos 18 anos de
idade, casou-se com Anne Hathaway, uma
mulher de 26 anos, que estava grávida. Há fontes que dizem que Shakespeare
queria ter uma vida mais favorável ao lado de uma esposa rica. O casal teve uma
filha, Susanna, e dois anos depois, os gêmeos Hamnet e Judith.
As tentativas de
explicar por onde andou William Shakespeare durante esses seis anos foi o
motivo pelo qual surgiram dezenas de anedotas envolvendo o dramaturgo. Nicholagas Rowe, o primeiro biógrafo de
Shakespeare, conta que ele fugiu de Stratford para Londres devido a uma
acusação envolvendo a morte de um veado numa caça furtiva, em propriedade
alheia (provavelmente de Thomas Lucy). Outra história do século XVIII é a de que
Shakespeare começou uma carreira teatral com os Lord Chamberlains.
Biógrafos sugerem
que sua carreira deve ter começado em qualquer momento a partir de meados dos anos
1580. Ao lado do The Globe, haveria um matadouro, onde aprendizes
do açougue deveriam trabalhar. Ao chegar em Londres, há uma tradição que diz
que Shakespeare não tinha amigos, dinheiro e estava pobre, completamente
arruinado. Segundo um biógrafo do século XVIII, ele foi recebido pela
companhia, começando num serviço pequeno, e logo fora subindo de cargo,
chegando provavelmente à carreira de ator. Há referências que apresentam
Shakespeare como um cavalariço. Ele dividiria seu emprego entre tomar conta dos
cavalos dos espectadores do teatro, atuar no palco e auxiliar nos bastidores.
Segundo Rowe, Shakespeare entrou no teatro como ponto, encarregado de avisar os
atores o momento de entrarem em cena. O então cavalariço provavelmente tinha
vontade mesmo era de atuar e de escrever.
Seu talento
limitante como ator teria o inspirado a conhecer como funcionava o teatro e seu
poeta interior foi floreando, floreando, foi lembrando-se dos textos dos
mestres dramáticos da escola, e começou a experimentar como seria escrever para
o teatro. Desde 1594, as peças de Shakespeare foram realizadas apenas pelo Lord
Chamberlain's Men. Com a morte de Elizabeth I, em 1603,
a companhia passou a atribuir uma patente real ao novo rei, James I da Inglaterra, mudando seu nome para King's Men (Homens
do Rei).
Todas as fontes marcam o ano de 1599 como o ano da fundação oficial do Globe Theatre. Fundado por James Burbage, ostentava
uma insígnia de Hércules sustentando
o globo terrestre. Registros de propriedades, compras, investimentos de
Shakespeare o tornou um homem rico. William era sócio do Globe, um edifício que
tinha forma octogonal, com abertura no centro. Não existia cortina e, por causa
disso, os personagens mortos deveriam ser retirados por soldados, como
mostra-se em Hamlet.
Inclusive, todos os papéis eram representados pelos homens, sendo os mais
jovens os encarregados de fazerem papéis femininos. Em 1597, fontes dizem que
ele comprou a segunda maior casa em Stratford, a New Place. De 1601 a
1608, especula-se que ele esteve motivado para escrever Hamlet, Otelo e Macbeth. Em 1613, O Globe Theatre foi destruído pelo fogo.
Alguns biógrafos dizem que foi durante a representação da peça Henry VIII.
Shakespeare teria estado bem cansado e por esse motivo resolveu desligar-se
do Globe e voltar para Stratford, onde a família o esperava.
Após 1606-7,
Shakespeare escreveu peças menores, que jamais são atribuídas como suas após
1613.
Em
Stratford, a tumba de Shakespeare.
Então, Rowe foi o
primeiro biógrafo a dizer que Shakespeare teria voltado para Stratford algum
tempo antes de sua morte; mas a aposentadoria de todo o trabalho era rara
naquela época; e Shakespeare continuou a visitar Londres. Em 1612, foi chamado
como testemunha em um processo judicial relativo ao casamento de sua filha
Susanna. Em março de 1613, comprou uma gatehouse no priorado de Blackfriars;
a partir de novembro de 1614, ficou várias semanas em Londres ao lado de seu
genro John Hall.
William Shakespeare
morreu em 23 de Abril de 1616, mesmo dia de seu aniversário. Susanna havia se
casado com um médico, John Hall, em 1607, e Judith tinha se casado com Thomas
Quiney, um vinificador, dois
meses antes da morte do pai. A morte de
Shakespeare envolve mistério ainda hoje. No entanto, é óbvio que existam
diversas anedotas. A que mais se
propagou é a de que Shakespeare estaria com uma forte febre, causada pela
embriaguez. Recebendo a visita de Ben Jonson e de Michael Drayton,
Shakespeare bebeu demais e, segundo diversos biógrafos, seu estado se agravou.
Admite-se que Shakespeare deixou como herança sua segunda melhor cama
para a esposa. Sabe-se, entretanto, que a "second best
bed", no testamento, é simplesmente a cama de casal, sendo a melhor cama,
conforme os costumes da época, a do quarto de hóspedes. Ao que parece, o testamento não teria sido redigido pelo dramaturgo,
que só o assinou; certas expressões religiosas fizeram recentemente
descobrir-se que se trata de uma fórmula legal, então em uso e até prescrita.
Em sua vontade, ele deixou a maior parte de sua propriedade à sua filha mais
velha, Susanna. Essa herança intriga biógrafos e estudiosos porque, afinal,
como Anne Hathaway aguentaria viver mais ou menos vinte anos cuidando de seus
filhos, enquanto Shakespeare fazia fortuna em Londres? O escritor inglês
Anthony Burgess tem uma explicação ficcional sobre esse assunto. Em Nada
como o Sol, um livro de sua autoria, ele cita Shakespeare espantado em um
quarto diante de seu irmão Richard e de sua esposa Anne; estavam nus e
abraçados.
Os restos mortais
de Shakespeare foram sepultados na igreja da Santíssima Trindade (Holy Trinity
Church) em Stratford-upon-Avon. Seu túmulo mostra uma estátua vibrante, em
pose de literário, mais vivo do que nunca. A cada ano, na comemoração de seu
nascimento, é colocada uma nova pena de ave na mão direita de sua estátua. Acredita-se que Shakespeare temia o costume
de sua época, em que provavelmente havia a necessidade de esvaziar as mais
antigas sepulturas para abrir espaços à novas e, por isso, há um epitáfio na
sua lápide, que anuncia a maldição de quem mover seus ossos.
Após a morte de
Shakespeare, a Inglaterra passou por alguns importantes momentos políticos e
religiosos. Jaime I morreu em 27 de março de 1625, em Theobalds House, e tão
logo sua morte foi anunciada, Carlos I, seu filho com Ana da Dinamarca, assumiu o
reinado. É válido lembrar que, com a morte de Elizabeth I, Shakespeare e os
demais dramaturgos da época não foram prejudicados. Jaime I, o sucessor da
rainha, contribuiu para o florescimento artístico e cultural inglês; era um
apaixonado por teatro.
Em 1649, a Câmara
dos Comuns cria uma corte para o julgamento de Carlos I. Era a primeira vez que
um monarca seria julgado na história da Inglaterra. No dia 29 de janeiro do
mesmo ano, Carlos I foi condenado a morte por decapitação. Ele foi decapitado
no dia seguinte. Foi enterrado no dia 7 de fevereiro na
Capela de St.George do Castelo de Windsor em uma cerimônia privada.
Nota: É bem conhecida a coincidência das datas de morte
de dois dos grandes escritores da humanidade, Miguel de Cervantes e William Shakespeare, ambos com data de
falecimento em23 de Abril de 1616). Porém, é importante notar que o Calendário gregoriano já era utilizado na Espanha desde o século XVI, enquanto que na Inglaterra sua
adoção somente ocorreu em 1751.
Em 1623, John
Heminges e Henry
Condell, dois amigos de Shakespeare no King's Men,
publicaram uma compilação póstuma das obras teatrais de Shakespeare, conhecida
como First
Folio. Contém 36 textos, sendo que 18 impressos
pela primeira vez. Não há evidências de que Shakespeare tenha aprovado essa
edição, que o First Folio define como "stol'n and
surreptitious copies". No entanto, é nele em que se encontram um material
extenso e rico do trabalho de Shakespeare.
As peças shakespearianas são peculiares, complexas, misteriosas e
com um fundo psicológico espantoso. Uma das qualidades do trabalho de
Shakespeare foi justamente sua capacidade de individualizar todos seus
personagens, fazendo com que cada um se tornasse facilmente identificado.
Shakespeare também era excêntrico e se adaptava a gêneros diferentes.
Trabalhando com o sombrio e com o divertido ou cômico, Shakespeare conseguiu
chegar perto da unanimidade.
Diversos filósofos e psicanalistas estudaram as obras de
Shakespeare e a maioria encontrou uma riqueza psicológica e existencial. Entre eles, Arthur Schopenhauer, Freud e Goethe são os que mais se destacam. No
Brasil, Machado de Assis foi muito influenciado pelo dramaturgo. Diversas fontes alegam
que Bentinho, de Dom Casmurro, seja a versão tropical de Otelo. A revolta dos canjicas,
em O Alienista, é provavelmente uma outra versão da revolta
fracassada do Jack Cage, descrita em Henrique
IV. Na introdução de A Cartomante, Assis utiliza a frase "há mais coisas
entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia", frase que pode ser
encontrada em Hamlet.
Publicado em 1609, a obra Sonetos foi o último trabalho publicado de
Shakespeare sem fins dramáticos. Os estudiosos não estão certos de quando cada
um dos 154 sonetos da obra foram compostos, mas evidências sugerem que
Shakespeare as escreveu durante toda sua carreira para leitores particulares.
Ainda fica incerto se estes números
todos representam pessoas reais, ou se abordam a vida particular de
Shakespeare, embora Wordsworth acredite que os sonetos abriram suas
emoções. A edição de 1609 foi dedicada a "Mr. WH", creditado como o
único procriados dos poemas. Não se sabe se isso foi escrito por Shakespeare ou
pelo seu editor Thomas Thorpe, cuja sigla aparece no pé da página
da dedicação; nem se sabe quem foi Mr. WH, apesar de inúmeras teorias terem
surgido a respeito.
Os críticos elogiam os sonetos e
comentam que são uma profunda meditação sobre a natureza do amor, a paixão
sexual, a procriação, a morte e o tempo.
Alguns estudiosos e pesquisadores acreditam na hipótese de que Shakespeare
não seja realmente o autor das próprias obras, discutindo a questão da identidade
de Shakespeare.
Edward de Vere, 17º conde de Oxford, tem sido apontado como o
autor das obras creditadas a William Shakespeare.
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