Nobre, soldado, aventureiro,
escravo, curandeiro, governador e escritor
Expedição de Cabeza de Vaca.
Álvar
Núñez Cabeza de Vaca (Jerez de la Frontera, 1488/1492 — Sevilla, 1558/1560) foi um conquistador espanhol, soldado, alcoviteiro, escravo dos nativos americanos, comerciante, curandeiro, governador da província do Rio da Prata, prisioneiro do
seu próprio povo e escritor,
conhecido por ter sido o primeiro europeu a descrever as Cataratas do Iguaçu e explorar o curso do Rio Paraguai.
Como escritor, produziu La
Relación (A Relação) e Naufragios (Naufrágios).
A
data de nascimento de Cabeza de Vaca é incerta, variando entre 1490 e 1492, nascido em Sevilha, Espanha, fazia parte de uma família de nobres sem recursos financeiros, o que era suficiente
para dar a Cabeza de Vaca acesso à educação e à corte. Filho de Teresa
Cabeza de Vaca e Zurita, neto de Pedro de
Vera (segundo a tradição
espanhola, o nome materno é colocado à posteriori ao nome paterno). O nome
Cabeza de Vaca provém do século XII, quando seu antepassado, Martin
Alhaja, auxiliou um ataque cristão sinalizando com uma cabeça de vaca uma
passagem secreta por uma montanha, passagem a qual viria a ser extremamente
útil em tal batalha.
Cabeza
de Vaca partiu para o Novo Mundo em 1527, ano o qual largou a vida construída na Espanha como soldado e alcoviteiro para
no dia 15 de Abril de 1528 desembarcar
em Tampa Bay, Flórida. Sua empreita mostrou-se extremamente arriscada
após poucos meses de ocupação do território Americano, quando viu-se sobrevivente de uma expedição de
600 homens, em que contando com ele, sobraram apenas 4 exploradores.
Pensando
estar próximo a minas de ouro, o comandante da expedição, Narváez, ignorou a vontade de Cabeza de Vaca e partiu
em busca do valioso metal, resultando em grandes baixas de homens e não
encontrando o tão precioso ouro. Perdidos, tiveram que assassinar seus cavalos
para se alimentarem, dentre outros sacrifícios realizados em prol da
sobrevivência, onde puderam compreender as durezas do Novo Mundo,
terra a qual prometia imensa fertilidade, mas que ao mesmo tempo parecia fazer
questão de agredir cada vez mais seus invasores, como ocorreu quando o grupo de
Cabeza de Vaca finalmente conseguiu materiais necessários para a construção de
cinco pequenas embarcações, com capacidade máxima para 50 pessoas cada (o grupo
era aproximado em 252 pessoas), para enfim, explorarem o México. Acabaram por chegar ao golfo do rio Mississípi,
onde foram recebidos por um tornado, que dispersou o grupo e resultou no
desaparecimento de diversas embarcações, dentre elas a capitaneada pelo chefe
da expedição, Narváez.
Com
a expedição reduzida a apenas 40 homens, e com todas as tentativas de reparo
das embarcações terem sido falhas, o grupo foi facilmente capturado,
escravizado e morto por diversas tribos indígenas, resultando num grupo de
sobreviventes composto apenas por Andrés
Dorantes de Carranza, Alonso
del Castillo Maldonado,
o marroquino Esteban e
o próprio Álvar Núñez Cabeza de Vaca. Como tornaram-se um grupo pequeno de
pessoas, reduzido originalmente de 600, para 4 pessoas, conseguiram fugir para
a Cidade do México, onde Cabeza de Vaca pôde retornar à Espanha em 1537.
Nesta
empreita, Cabeza de Vaca explorou o território hoje ocupado pelo estado
do Texas, Estados Unidos,
dentre outras áreas, como Arizona, Tamaulipas, Nuevo León e Coahuila. Não podemos afirmar que a primeira expedição
de Álvar Núñez Cabeza de Vaca foi totalmente perdida entre infortúnios e
desencontros, já que o mesmo adquiriu grande simpatia por diversas tribos indígenas,
principalmente as quais Cabeza de Vaca atuou como mercador.
É
complicado afirmar com certeza o caminho percorrido por Cabeza de Vaca, já que
o mesmo apenas escreveu suas memórias ao retornar para a Espanha e assim sua obra é plausível de erros e
equívocos, como a dificuldade do mapeamento do espaço percorrido e da definição
do período de tempo utilizado.
Placa comemorativa do descobrimento das
Cataratas do Iguaçu.
Após ter sido nomeado governador da
província de Rio da
Prata, Cabeza de Vaca voltou a América, em 1540, a fim de reestabelecer o assentamento de Buenos
Aires. Em sua segunda visita, Cabeza de Vaca desembarcou em terras hoje
pertencentes ao Brasil,
tendo chegado primeiramente à Ilha de Santa
Catarina, onde desembarcou com 250 homens e 26 cavalos, e iniciou sua jornada
pelo sertão brasileiro, através do Caminho de Peabiru, e foi o primeiro europeu
a descobrir as cataratas do Iguaçu.
Após
falhar em sua missão de reestabelecimento de Buenos Aires,
foi mandado de volta à Europa em 1545, foi preso por má administração (fora
aprisionado pelo seu próprio povo em 1546). Já na Europa, escreveu sobre sua segunda estadia na América,
gerando a obra La
Relación. Acabou por morrer pobre,
em Sevilha,
aproximadamente do ano de 1559.
Álvar
Núñez Cabeza de Vaca, em meados dos seus 15 anos, tornou-se um caballero de Jerez, a serviço do duque de Medina Sidonia.
Em seu mais de um quarto de século como caballero, teve como
inspiração para carreira militar o seu avó, Pedro
de Vera Mendoza, o conquistador da ilha
de Gran Canária, que veio a falecer em Abril de 1506.
Condecorado
pela bravura demonstrada em 11 de Abril de 1512, tornou-se alferes da cidade de Gaeta, a qual é localizada próxima à cidade de Nápoles. Dentre seus maiores feitos como militar, há de
ser destacado a luta contra os rebeldes do movimento comunero,
ajudando posteriormente a reconquistar o Alcázar de Sevilha. Encerrou sua carreira militar em 1522, na batalha de Puenta de
la Reina, em Navarra.
Após
tal batalha, retirou-se do serviço militar e foi tentar a sorte no Novo Mundo,
local o qual não participou de combates como soldado até que na província
do Rio da Prata, entrou em conflito contra índios guaicurus que haviam recusado sua proposta de paz.
Após
sofrer com um naufrágio (que será retratado posteriormente), Cabeza de Vaca
avistou um grupo conhecido de viajantes, sendo eles os capitães Andrés
Dorantes e Alonso del
Castilho, logo, Cabeza de Vaca pode
concluir que estaria livre da sua condição de sobrevivente e poderia
finalmente, chegar a Pánuco, província espanhola próxima, porém, não
conseguindo alcançar o grupo, permaneceu junto à uma tribo de índios e ali
tornou-se escravo.
Como
escravo, foi selecionado para realizar tarefas pesadas e desgastantes, como
colher raízes profundas do fundo d’agua ou da cana. Após passar mais de um ano
como escravo, optou por fugir para uma tribo vizinha, os Charrucos. Tornou-se
comerciante
na mesma região, estabelecendo-se ali por anos, enquanto tentava convencer o
seu companheiro Lope de
Oviedo a deixar a ilha fugir,
ideia a qual não era bem vinda por Oviedo, que não sabia nadar e tinha receio
de vir a falecer em tal empreita. Somente em 1533 que ambos deixaram a ilha e finalmente
encontraram seus companheiros, os mesmos capitães que Cabeza de Vaca e Oviedo
não conseguiram alcançar, Andrés
Dorantes e Alonso del
Castilho, que não diferentes de Cabeza
de Vaca e Oviedo, tornaram-se escravos de tribos indígenas distintas. Cabeza de
Vaca optou por permanecer com seus companheiros, opção a qual foi veementemente
refutada por Oviedo, que foi-se embora e nunca mais foi visto . Após seis meses
vivendo como escravos, todos os três companheiros de viagem (pois Oviedo havia
deixado o grupo), decidiram por fugir em uma situação oportuna, já que os
índios que os escravizavam entraram em conflito entre eles. Finalmente,
em 1534,
Álvar Núñez Cabeza de Vaca foge para a tribo dos avavares, com fama de espanhol curandeiro.
Na
ilha do Mau Fado (como foi batizada a ilha pelos
espanhóis), Álvar Núñez Cabeza de Vaca tornou-se curandeiro, não por opção
própria, não por vocação, e sim por imposição. Os índios dali estavam tão
desesperados por uma cura que diziam aos espanhóis os curarem, caso não fossem
capazes de tal feito, iriam cessar a alimentação dos mesmos, logo, após tais
pressões, decidiram por realizar rezas cristãs, como o pai-nosso, ave-maria e
rogações a Deus.
Álvar
Núñez Cabeza de Vaca diz no seu livro Naufragio, que por clemência divina,
todos que passaram pelas preces dos espanhóis diziam-se curados, fato o qual
acarretara em tratamento excepcional por parte dos índios para com os
espanhóis. Quando partiu em 1534 para a tribo dos avavares, chegou com fama de curandeiro e ali realizou
diversas outras “curas”, atingindo o ponto de atribuirem a ele uma
ressucitação. Sua fama de curandeiro alastrou-se com tamanha magnitude, que
quando reencontram os espanhóis, a milhares de quilômetros dali, quase quatro
mil índios eram seguidores de Álvar Núñez Cabeza de Vaca e seus companheiros.
Naufragios
(NUNEZ CABEZA DE VACA, Alvar; MAURA, Juan Francisco. Naufragios. 4. ed. Madrid:
Cátedra, c2000. 224p., il. [Letras Hispanicas; v. 306]. ) começa com uma
introdução feita por Juan
Francisco Maura, ele ressalta, de início, a
formação do imaginário de Álvar Núñez Cabeza de Vaca. Ele afirma que o Porto
de Sanlúcar de Barrameda está
somente a oito milhas deJerez,
cidade natal de Cabeza de Vaca, e que este porto era o principal porto de saída
para as índias . Em sua afirmação ele diz ser plausível que o jovem Álvar
tenha visto várias partidas de navios para as índias, e que isso tenha crescido
em sua persona e ampliado seu imaginário que um dia seria resgatado durante a
sua própria viagem.
Uma
das características mais importantes do texto de Cabeza de Vaca é a
credibilidade que o próprio da ao seu texto, buscando dessa forma deixar o mais
verdadeiro possível ao leitor, nesse caso, o atual rei da Espanha.
Essa forma de escrita é influênciada diretamente pelos relatos de Cortés, que já há muito tempo relatava sobre a
maravilhas do novo mundo, sobre sociedades vastas e cidades gigantes. Cabeza de
Vaca é nitidamente influênciado pela cultura na qual a Espanha estava emergida, a Espanha pós Cortés e a margem do novo mundo.
Cabeza
de Vaca nos apresenta uma visão imparcial dos índios, ele acredita que o relato expõe índios bons e
ruins, com as mesmas qualidades e defeitos dos visitantes espanhóis.
Esse ponto de vista pode ser fundamentando por dois trechos: o primeiro contato
no qual os índios explicam e guiam os espanhóis para Apalache, local supostamente com indícios de ouro .
Cabeza de Vaca relata nesse trecho que os índios não foram agressivos, e com a
ajuda de um tradutor, os ajudaram a chegar lá. O segundo ponto é que durante o
caminho, o autor relata que encontrou várias bandeiras da Espanha e espanhóis mortos
e sepultados em forma de ritual . Esse ponto é crucial para a formação da
consciência de Álvar, pois ele enxergou os índios passíveis de humor, vontade e
interesses, os quais não estariam supostos a serem subjulgados sem uma luta.
Um
detalhe que deve ser lembrado nas crônicas de Álvar Núñez é a maneira como ele
relata e tenta descrever as maravilhas que ele via, a natureza, os animais e
tudo mais que era diferente do seu lugar natal. O autor decreve ter visto leões
e outros animais e
plantas
que não existem na natureza do local . Esse conceito de apresentar a visão
de um mundo completamente desconhecido, utilizando conceitos prévios, formas de
imaginação que não são desse mundo novo é um conceito conhecido como alteridade.
De
certa forma, o naufrágio ilhou
Cabeza de Vaca e seus companheiros, os deixando a deriva na ilha, isso faz com
que eles tenham que procurar formas alternativas de alimentação e
sobrevivência. O fator decisivo para a sobrevivência de Cabeza de Vaca foi seu
conhecimento sobre medicina que ajudou ele a curar alguns índios e isso o
tornou o curandeiro não oficial da tribo.
Ele
afirma que os índios traziam para ele pela manhã em forma de pagamento, carne
de veado (alteridade)
. Ao se relatar como fazia as curas, lembrando que esse é um relato para
o rei da Espanha, ele afirma que não fazia nada mais que rezar, sentava próximo ao corpo
e pedia sinceramente à Deus que curasse a alma impura e perdida do índio, pois
eram ingênuos sobre a realidade do mundo.
E
após muito tempo vagando e vivendo pela Nova Espanha,
Cabeza de Vaca, consegue retornar a Espanha e relatar sua viagem para o rei e
publicar sua obra.
Fonte:
Wikipédia
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