Politica
Artigo de MARCO ANTONIO VILLA
Colaboração de Luiz Carlos Lopes
O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas
em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres.
Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é Dilma
Rousseff.
Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante
o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre
as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco
expressivas. Tentou fazer pós graduação em Economia na Unicamp, mas acabou
fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de
mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada como "doutora"
em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou.
Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias populares, conhecidas como
"de 1,99". Não deu certo. Teve logo de fechar as portas.
Caminharia para a obscuridade se vivesse num país
politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de
tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula
disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um
laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de
incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.
Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que
Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia. Deixou
como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas novamente foi
promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido
pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a pergunta: por quê? Para o
projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma
luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa um
projeto, uma ideia, foi alçada a sucessora de Lula.
Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante
da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente,
de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona,
implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma presidente a
primeira no imaginário popular.
Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A
tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica,
considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e
simpático à então candidata. Foi transformada em "mãe do PAC".
Acompanhou Lula por todo o País. Para ela e só para ela a campanha eleitoral
começou em 2008.Cada ato do governo foi motivo para um evento público, sempre
transformado em comício e com ampla cobertura da imprensa. Seu criador foi
apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a
enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o
seu tradutor, falando em nome dela e violando abertamente a legislação
eleitoral.
Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado
da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa
vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora
cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu
figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da corrupção.
Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso de um presidente
que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a demitir tantos ministros
acusados de atos lesivos ao interesse público.
Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no
final do século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo,
a presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração começou
a mostrar suas fraquezas. O crescimento do produto interno bruto (PIB de 7,5%
de 2010, que foi um componente importante para a vitória eleitoral, logo não
passou de uma recordação. Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o
crescimento foi negativo: -0,7%),apesar de todos os artifícios utilizados, em
2011 o crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em
2012 não tenha passado de 1%.Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só
ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização
aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%.
O saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho
dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em
24 anos. A inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle. E a
dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.
As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram.Os
milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou
notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura estão
atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais transformaram-se em
meros instrumentos políticos a Petrobrás é a mais afetada pelo desvario
dilmista.
Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o
óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso.E pusilânime: abre o baú e
recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política econômica. É
uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse ritmo, logo
veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o
aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.
Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande
Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia
que o presidente "devia unicamente saber ler e escrever; que nunca
tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não
tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total".
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