Colaboração
de Fernando Alcoforado*
As pesquisas
eleitorais realizadas após a morte de Eduardo Campos apontam a vitória de Marina Silva,
sua substituta como candidata do PSB à presidência da República, no segundo turno
das eleições presidenciais. A estratégia de Marina Silva para vencer as eleições e
assegurar a governabilidade pós-eleitoral já está delineada. Para vencer as eleições, Marina
Silva precisa granjear o apoio de amplos setores da população
acenando com a
perspectiva de mudanças visando a superação das fragilidades econômicas e
sociais do Brasil que se agravaram no governo Dilma Rousseff e o apoio também dos
detentores do capital especialmente do sistema financeiro com a manutenção do
credo neoliberal baseado na política do câmbio flutuante, da meta de inflação e da
disciplina fiscal estabelecida pelo governo Fernando Henrique Cardoso
(FHC) e mantida
pelos governos Lula e Dilma Rousseff.
Os governos FHC,
Lula e Dilma Rousseff estabeleceram como estratégia para alcançar a governabilidade
do país a troca de favores com os partidos aliados no Congresso Nacional,
especialmente com o PMDB. A troca de favores vem se traduzindo no loteamento de
cargos ministeriais e comissionados na estrutura do governo para acomodar
integrantes dos partidos aliados. Esta situação fez com que no governo Dilma
Rousseff o
número de ministérios chegasse a 39 e o de cargos comissionados a 22,6 mil. A conquista de
apoios por parte do governo FHC se fez também com a compra de votos parlamentares
para assegurar sua reeleição e pelo governo Lula da compra de votos parlamentares
para aprovarem os projetos do governo no Congresso Nacional como ficou comprovado
no processo do mensalão.
Para evitar a
adoção desta prática espúria considerada como “velha política” por Marina Silva, ela se
propõe a tornar como aliados Lula e FHC conforme afirmou um dos seus principais
conselheiros o economista Eduardo Giannetti em entrevista à Folha de S. Paulo (Ver a
matéria Queremos Lula e FHC como aliados, diz conselheiro econômico de Marina publicado no
website
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1505301-queremos-lula-e-fhc-comoaliados-diz-conselheiro-economico-de-marina.shtml>
no dia 25/08/2014). Em entrevista à Folha, Eduardo Giannetti afirma que, se for
eleita, Marina procurará pessoas do PT e do PSDB para formar sua equipe de
governo e garantir apoio a seus projetos no Congresso. Para Giannetti, até os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso poderiam
colaborar.
Eduardo
Giannetti afirmou que tentaria levar para o governo membros de siglas rivais. Segundo Giannetti,
o PSDB é um partido de muitos técnicos e pouca liderança e o PT também tem
técnicos de excelente qualidade, que trabalharam no primeiro mandato de Lula, e que
adoraria levá-los para integrar o futuro governo Marina Silva. Eduardo Giannetti
afirmou que a ideia é a de governar com os melhores na política e na gestão de políticas
públicas. Além de assegurar a governabilidade do futuro governo Marina Silva com a
constituição de um amplo governo, esta estratégia viria suprir uma das deficiências do
PSB e da Rede Sustentabilidade que é a de não dispor de quadros técnicos
competentes para assumir os encargos de governar o país.
A estratégia de
atrair o PSDB e o PT para comporem o futuro governo Marina Silva ao lado do
PSB, Rede Sustentabilidade e partidos aliados seria possível de se realizar
porque todos eles rezam no mesmo credo neoliberal baseado no conjunto de
medidas preconizado pelo FMI e pelo Banco Mundial — o Consenso de Washington
— que estabeleceu três passos a serem dados pelos governos no mundo na
seguinte ordem: 1) estabilização da economia (combate à inflação); 2)
realização de reformas estruturais (privatizações, desregulamentação de
mercados, liberalização financeira e comercial); 3) retomada dos investimentos
estrangeiros para alavancar o desenvolvimento. Eduardo Giannetti deixa bem claro
em sua entrevista que o governo Marina Silva pretende restabelecer o tripé macroeconômico
(câmbio flutuante, meta de inflação e disciplina fiscal) que tinha sido construído
no segundo mandato de FHC e foi confirmado e reforçado por Lula em seu primeiro
governo.
Segundo
Giannetti, durante o governo Dilma Roussef o Brasil deixou de cumprir por incompetência o
Consenso de Washington passando a enfrentar inflação alta, artificialmente
controlada e a lidar com o câmbio supervalorizado que prejudica a indústria brasileira.
Além disso, afirma que estamos com um déficit em conta corrente nas trocas com o
exterior de 3,2% do PIB, o que nos coloca de volta na vulnerabilidade externa
do primeiro mandato de FHC. E isso com o menor crescimento da era republicana,
excetuando os governos de Floriano Peixoto e Collor. O propósito do governo
Marina Silva é o de fazer com que o credo neoliberal volte a ser
competentemente executado no Brasil assegurando a independência do Banco
Central cujos presidentes e diretores teriam mandatos fixos e não estariam
sujeitos a ordens do presidente da República.
Tornar o Banco
Central independente significa, na prática, fazer com que sejam assegurados os
interesses do sistema financeiro nacional e internacional que foram mantidos pelos
governos FHC, Lula e Dilma Roussef, haja vista que os Bancos Centrais se constituem
em todo o mundo no quartel general do capital financeiro em todos os países.
Não é por acaso
que uma das principais conselheiras de Marina Silva é Neca Setúbal vinculada ao
grupo Itaú. Embora Marina Silva se apresente como uma alternativa ao PT e PSDB
na política brasileira, muito do que ela defende na economia representa uma
volta à rota proposta pelo PSDB e mantida pelo PT. Não há contradição de Marina
Silva com o PT no que concerne à manutenção de programas como o Bolsa Família
que, segundo, Giannetti, são intocáveis.
Segundo
Giannetti, o gasto com o Bolsa Família não é problemático. Em sua opinião, o gasto público
aumentou porque o governo deu isenções de impostos em torno de R$ 250 bilhões
para setores escolhidos. O incentivo do BNDES para um grupo seleto de empresas
é maior do que o gasto com o Bolsa Família. Giannetti defende a tese de que é
impensável aumentar impostos e de que é necessário ser muito criterioso nos
gastos públicos identificando onde eles vêm crescendo. A regra de ouro é que os
gastos correntes não podem crescer mais do que o PIB. Significa também rever
isenções tributárias. Giannetti afirma que o governo mexeu discricionariamente
em impostos com base na pressão de setores empresariais para obter benefícios,
não só de impostos como o IPI, mas também nas tarifas de importação. Com a economia
retomando o crescimento e com os gastos públicos crescendo menos do que o PIB,
no tempo, seria possível corrigir esta distorção. Este seria o caminho proposto
por Eduardo Giannetti para superar os problemas econômicos do Brasil.
Percebe-se, pelo
exposto, que o Brasil manterá lamentavelmente o “status quo” qualquer que seja
o vencedor das eleições presidenciais. Isto é, o modelo neoliberal inaugurado
por FHC e mantido pelos governos Lula e Dilma Rousseff seria revigorado. Isto
significa dizer que as taxas de juros Selic continuarão a crescer da mesma
forma que a dívida pública interna em benefício do sistema financeiro e em
detrimento do povo brasileiro que ficará carente dos serviços públicos de
educação, saúde, infraestrutura, entre outros, porquanto grande parte das
receitas do governo federal continuará a ser destinada ao pagamento do serviço
da dívida pública. Em 2013 quase metade do orçamento do governo federal foi destinado
ao pagamento dos encargos com a dívida pública. Trata-se de uma situação insustentável
que nenhum dos candidatos presidenciais se propôs a solucionar para não se atritar
com os detentores do sistema financeiro nacional e internacional. Diante deste
fato, tudo leva a crer que o Brasil será levado à bancarrota pelo fato de manter
em operação o falido modelo econômico neoliberal.
*Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de
Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a
Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário