segunda-feira, 11 de agosto de 2014

HÁBITOS DA IDADE

Por CONSUELO PONDÉ

Quando penso na tensão dinâmica, incessante, que tenho imprimido à minha vida, sempre acelerada e inquietante, imagino que esse feitio pessoal só desaparecerá com a morte, caso não seja surpreendida por uma invalidez paralisante.
Essa inquietação de espírito, que veio de berço, faz parte do meu DNA, e sempre me motivou a empreender feitos. Todavia, em consonância com a trepidação, não me permito dar continuidade a muitos dos meus planos. 
Durmo pouco desde criança e, no decorrer do tempo, tenho tido ainda muito menos sono. Se ficar “ativada” no computador, no cinema, numa festa ou na TV, aí então é que perco o interesse de recolher-me ao leito de Procusto. 
Gosto de receber em casa, de ter meus filhos aos domingos e feriados, de festas de modo geral, embora não me sinta mais em condição de dançar.
Costumava fazer “cooper” na Barra, deslocando-me do Porto até o Morro do Cristo. Contudo, a violência do local, aliada à presença de pessoas “suspeitas”, recomendam toda cautela aos idosos.
Atualmente, apesar de não ser muito ligada a atividades físicas, para melhorar meu condicionamento, frequento a hidroginástica de Pererê, na Rua Flórida (Graça), durante três dias da semana.
Observo, entretanto, que, a caminho do final da trajetória, estou mais acomodada às alegrias familiares e entediada com as solicitações dos múltiplos eventos sociais. 
Tudo me parece cansativo nessas reuniões mundanas, findas as quais passo a experimentar o travo da perda de tempo.
Melhor seria, imagino eu, que ficasse a ler os inúmeros livros à minha espera, ou mesmo assistir a programas de debate nos canais fechados. Tenho receio de não dar conta de ler as publicações que compro ou recebo, pois o dia tem apenas 24 horas.
Novelas? Claro que acompanho uma ou outra para ter conhecimento das mensagens que estão sendo divulgadas, ou o que estão impingindo nas mentes em formação. Um horror de mau-caratismo, adultério, trapaça, vingança, sordidez, corrupção, enfim, a escória da escória, o de que mais degradante da miséria humana. 
Nesses últimos tempos, desde o primeiro capítulo, as “estórias” das novelas apresentam tipos estranhos: “picaretas”, “periguetes”, bandidos das mais variadas espécies. De referência aos problemas de conteúdo político, que muito aprecio, contemplam a presença de muitas personalidades ilustres. Com toda certeza estou atenta para o fato de que não existe imparcialidade na discussão desses temas. Os fatos são debatidos de acordo com a posição política de cada debatedor ou do grupo a que pertence. São, frequentemente, tendenciosos e advogam causas das empresas ou dos partidos a que se filiam ou servem. Pior quando postulam em “causa própria” e defendem condutas espúrias, atitudes condenáveis, e adotam expedientes nocivos à comunidade.
Nessa quadra da vida é muito salutar manter amizades antigas, reencontrar velhos companheiros de jornada, visitar parentes e aderentes (hábito pouco comum nestes dias).
Atualmente, as senhoras estão indo para as “festas” dançantes, pagando aos cavalheiros, conhecidos como “personal dancers”, a fim de bailar a noite inteira. Desse modo, ficam leves, ágeis e alegres, pois não se sentem desprezadas, muito ao contrário, desinibidas e dispostas com o bom divertimento. 
Quanto a mim, prefiro ficar no meu canto, ler os meus livros, estar com parentes e amigos, frequentar os cinemas de arte de Salvador, e assistir programas de rádio e de televisão. Tudo isso está de bom tamanho. 

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