Por CONSUELO PONDÉ
Quando penso na tensão dinâmica,
incessante, que tenho imprimido à minha vida, sempre acelerada e inquietante,
imagino que esse feitio pessoal só desaparecerá com a morte, caso não seja
surpreendida por uma invalidez paralisante.
Essa
inquietação de espírito, que veio de berço, faz parte do meu DNA, e sempre me
motivou a empreender feitos. Todavia, em consonância com a trepidação, não me permito
dar continuidade a muitos dos meus planos.
Durmo
pouco desde criança e, no decorrer do tempo, tenho tido ainda muito menos sono.
Se ficar “ativada” no computador, no cinema, numa festa ou na TV, aí então é
que perco o interesse de recolher-me ao leito de Procusto.
Gosto
de receber em casa, de ter meus filhos aos domingos e feriados, de festas de
modo geral, embora não me sinta mais em condição de dançar.
Costumava
fazer “cooper” na Barra, deslocando-me do Porto até o Morro do Cristo. Contudo,
a violência do local, aliada à presença de pessoas “suspeitas”, recomendam toda
cautela aos idosos.
Observo,
entretanto, que, a caminho do final da trajetória, estou mais acomodada às
alegrias familiares e entediada com as solicitações dos múltiplos eventos
sociais.
Tudo
me parece cansativo nessas reuniões mundanas, findas as quais passo a
experimentar o travo da perda de tempo.
Melhor
seria, imagino eu, que ficasse a ler os inúmeros livros à minha espera, ou
mesmo assistir a programas de debate nos canais fechados. Tenho receio de não
dar conta de ler as publicações que compro ou recebo, pois o dia tem apenas 24
horas.
Novelas?
Claro que acompanho uma ou outra para ter conhecimento das mensagens que estão
sendo divulgadas, ou o que estão impingindo nas mentes em formação. Um horror
de mau-caratismo, adultério, trapaça, vingança, sordidez, corrupção, enfim, a
escória da escória, o de que mais degradante da miséria humana.
Nesses
últimos tempos, desde o primeiro capítulo, as “estórias” das novelas apresentam
tipos estranhos: “picaretas”, “periguetes”, bandidos das mais variadas
espécies. De referência aos problemas de conteúdo político, que muito aprecio,
contemplam a presença de muitas personalidades ilustres. Com toda certeza estou
atenta para o fato de que não existe imparcialidade na discussão desses temas.
Os fatos são debatidos de acordo com a posição política de cada debatedor ou do
grupo a que pertence. São, frequentemente, tendenciosos e advogam causas das
empresas ou dos partidos a que se filiam ou servem. Pior quando postulam em
“causa própria” e defendem condutas espúrias, atitudes condenáveis, e adotam
expedientes nocivos à comunidade.
Nessa
quadra da vida é muito salutar manter amizades antigas, reencontrar velhos
companheiros de jornada, visitar parentes e aderentes (hábito pouco comum
nestes dias).
Atualmente,
as senhoras estão indo para as “festas” dançantes, pagando aos cavalheiros,
conhecidos como “personal dancers”, a fim de bailar a noite inteira. Desse
modo, ficam leves, ágeis e alegres, pois não se sentem desprezadas, muito ao
contrário, desinibidas e dispostas com o bom divertimento.
Quanto
a mim, prefiro ficar no meu canto, ler os meus livros, estar com parentes e
amigos, frequentar os cinemas de arte de Salvador, e assistir programas de
rádio e de televisão. Tudo isso está de bom tamanho.
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