História
J’accuse! (Eu acuso!): “Como poderias querer a
verdade e a justiça, quando enxovalham a tal ponto todas as tuas virtudes
lendárias?” Emile Zola
Alfred Dreyfus
O Caso
Dreyfus (em francês: Affaire Dreyfus) foi
um escândalo político
que dividiu a França por
muitos anos, durante o final do século XIX.
Centrava-se na condenação por alta traição de Alfred Dreyfus em 1894, um oficial de artilharia do exército francês, de origem judaica. O acusado sofreu um processo fraudulento conduzido a portas fechadas.
Dreyfus era, em verdade, inocente: a condenação baseava-se em documentos
falsos. Quando os oficiais de alta-patente[desambiguação necessária] franceses
se aperceberam disto, tentaram ocultar o erro judicial. A farsa foi
acobertada por uma onda de nacionalismo e xenofobia que
invadiu a Europa no
final do século XIX.
Para o historiador
Edward McNall Burns, "o efeito do caso Dreyfus foi desmantelar por
completo o movimento monarquista na França". Assim, "o caso Dreyfus
não foi senão um dos episódios de uma luta mais vasta em torno da questão da
Igreja e do Estado". Desde sua fundação, a Terceira República apresentava
certa vocação anticlerical. A própria ascensão do nacionalismo militante tendia
a conflitar com o poder temporal da
Igreja. A
hierarquia católica favorecia os monarquistas, que conspiravam contra a
República.
Em 1894, Madame
Bastian, empregada da limpeza na embaixada alemã em Paris descobriu
uma carta suspeita no cesto do lixo do adido militar alemão,
o tenente-coronel Schwarzkoppen. Madame Bastian entregou os
papéis aos serviços secretos franceses, que logo concluíram que existia um
traidor entre os oficiais franceses, que fazia espionagem para os alemães.
Quando o caso se tornou conhecido, a carta passou a ser conhecida como "le bordereau" .
Alfred Dreyfus era
o único oficial judeu entre
os que poderiam ter escrito a carta. Por isto, foi considerado o principal
suspeito e levado a julgamento. O memorandum foi usado como instrumento de
acusação contra Alfred Dreyfus.
Em Novembro de
1897, seu irmão Mathieu Dreyfus, descobre
que Charles Esterhazy é o
verdadeiro culpado. Em 1898, as evidências da inocência de Dreyfus
possibilitaram um segundo julgamento. A permanência da sentença anterior
provocou a indignação de Émile Zola. O
escritor expôs o escândalo ao público geral no jornal literário L'Aurore numa
famosa carta aberta ao Presidente da República Félix Faure,
intitulada J'accuse! (Eu
acuso!) em 13 de Janeiro de 1898. Uma reprimenda endereçada à França: "Como
poderias querer a verdade e a justiça, quando enxovalham a tal ponto todas as
tuas virtudes lendárias?". Nas palavras da historiadora Barbara W. Tuchman, o caso Dreyfus foi "uma das grandes
comoções da história".
Emile Zola
Outro literato bastante
conhecido na época, Anatole France, defendeu
abertamente Dreyfus e os judeus. Em seu livro O Anel de Ametista são
descritos os manifestos populares, a perseguição daqueles que discordavam da
sentença, os bastidores do jornal L´Aurore, etc. Já reconhecia o caso como
"grande erro" e criticava a confiança cega que os franceses tinham em
instituições como o exército e o clero.
Bernard Lazare e Scheurer tinham sido até então uns dos poucos
defensores de Dreyfus. O jornalista Theodor Herzl, que
posteriormente se tornaria o criador do sionismo fora
cobrir o caso do julgamento de Dreyfus para um jornal austro-húngaro e
ficou impressionado com o antissemitismo na
França. Após o segundo julgamento houve manifestações em Paris em que muitos
cantaram "Morte aos Judeus" pelas ruas.
Alfred
Dreyfus em 1935, o ano de seu falecimento.
Theodor Herzl e
Émile Zola partiram para o ataque, denunciando os culpados pela farsa. O caso
Dreyfus dividiu a França entre os dreyfusards (os
apoiantes de Alfred Dreyfus) e os anti-dreyfusards (contra
ele). A disputa foi particularmente violenta, uma vez que envolvia vários
assuntos no clima controverso e agitado de então. De certa forma, estas
divisões seguiam a linha de demarcação entre uma direita apoiando frequentemente o retorno à monarquia - e
uma ala esquerda apoiando a República. Uma boa
parte da virulência das paixões levantadas pelo caso deveu-se ao antissemitismo
existente na França, onde, em 1886, havia sido publicado o livro anti-semita
de Edouard Drumont, "La France Juive".
Vários intelectuais
- professores, estudantes, artistas, escritores - aliaram-se aos dreyfusards e
assinaram pedidos intercedendo por Dreyfus. Em suas demonstrações gritavam
"Vive Dreyfus! Vive Zola!". Do outro lado da barricada, os
gritos eram de "Vive l'Armée! Conspuez Zola! Mort aux Juifs!".
Houve pilhagens de lojas de judeus, verdadeiros pogroms na Argélia (em Boufarik, Mostaganem, Blida, Médéa, Bab el-Oued) com
estupros, mortos e feridos.
Uma revisão do processo de Dreyfus em 1906 mostrou que Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy,
outro major do
exército francês, fora o verdadeiro autor das cartas e que agia como espião dos
alemães.
Dreyfus foi
restabelecido parcialmente no exército. Seus cinco anos de aprisionamento não
foram considerados para a reconstituição da sua carreira. Esta decisão
tirou-lhe qualquer esperança de uma carreira digna dos seus sucessos anteriores
à sua detenção de 1894. Por conseguinte foi forçado a uma dolorosa demissão em
junho de 1907. Dreyfus nunca pediu nenhuma compensação ao estado francês pela
injustiça militar,
Anatole
France
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