Informações sobre
promoção e difusão da língua portuguesa
Há quem considere “preocupante” que professores deem
erros, que não há desculpas. Mas também há vozes que questionam as “condições”
em que a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) dos docentes
foi feita e que dizem que os erros registados no exame se devem a casos em que
não foi respeitado o novo Acordo Ortográfico, o que era penalizado.
Certo é que mais de seis em cada dez
docentes deram erros ortográficos e isso está a gerar polémica. “São dados
preocupantes”, diz João Costa, professor da Universidade Nova e antigo
presidente da Associação Portuguesa de Linguística, para quem as condições em
que a prova foi feita, marcada por boicotes e tumultos, ou o facto de no exame
só ser considerada correcta a grafia que segue o novo acordo, não desculpam os
números.
Na PACC, cujos resultados foram
divulgados na segunda-feira e na qual 85,6% dos candidatos passaram, uma das
partes implicava escrever um texto. Neste grupo, 62,8% das respostas acusaram
um ou mais erros ortográficos; 66,6% um ou mais erros de pontuação; e 52,9% um
ou mais erros de sintaxe.
“Pressupõe-se que um aluno à saída do
ensino secundário seja capaz de escrever sem erros, parece-me natural que um
professor de qualquer área domine a ortografia, a pontuação e a sintaxe. E a
pontuação e a sintaxe não têm a ver com o acordo”, diz João Costa que concorda
que os critérios de correcção incluam o novo acordo, uma vez que quem quer dar
aulas vai ter de o aplicar nas escolas.
O PÚBLICO perguntou ao Instituto de
Avaliação Educativa (IAVE) se os erros ortográficos registados na prova são, na
maioria, por incumprimento do novo acordo ou não, mas o IAVE respondeu que “não
existem dados específicos que possam responder a essa questão”. Lembrou que o
novo acordo “está em vigor nas escolas”, pelo que “é coerente que seja exigido
aos candidatos a professores” que escrevam segundo essa grafia e ressalvou que
a pontuação e a sintaxe “não têm qualquer relação com o acordo”.
O IAVE disse ainda que nos casos em
que tal é permitido, foi “respeitada e aceite a dupla grafia”.
Sintaxe
é mais “importante”
O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, discorda que os professores sejam penalizados se optarem por não escrever segundo o novo acordo. Alega que “não é obrigatório” por lei usar o novo acordo e que, embora tenha sido adoptado nas escolas, os docentes “não tiveram formação” nem para escrever, nem para ensinar segundo as novas regras.
“Não estou a justificar ou desculpar,
professores não podem dar erros. Mas acho que teria utilidade perceber se são
erros de aplicação do acordo, se são gralhas, ou se são erros de quem não sabe
escrever”, argumenta. E garante que vai “divulgar os erros ortográficos dos
documentos” que a Fenprof recebe do Ministério da Educação e Ciência (MEC): “Se
fez essa divulgação dos erros, também deve achar inadmissível dá-los nos seus
documentos.”
Cerca de 15% dos professores deram
cinco ou mais erros ortográficos; 18% deram três ou quatro erros e 30% um ou
dois; 37% não deram nenhum.
Já para o antigo presidente da
Associação de Professores de Português, Paulo Feytor Pinto, “a ortografia
oficial do país” é a do novo acordo, é a seguida nas escolas, a que é exigida
nos exames aos alunos, e, por isso, “faz sentido” que na correção da prova dos
professores se penalize quem não escreva segundo essas regras.
Ainda assim, gostava que o IAVE
divulgasse o tipo de erros de que se está a falar, porque podem ter “a ver com
a formação inicial” dos docentes ou, então, podem dizer “apenas se os
professores aderiram ou não ao acordo”. Para Paulo Feytor Pinto, os docentes já
tiveram tempo de dominar a grafia do novo acordo e se não dominam é “porque não
querem”.
Porém, ressalva, “a ortografia é a
parte mais visível da escrita, mas não é a mais importante”: “É tão pouco
importante que pode mudar por lei, o que mostra o nível superficial da
ortografia. Já a sintaxe não se muda por lei. Na sintaxe é que está a
estruturação e ordenação do texto. Onde passa o raciocínio do autor é na
sintaxe. Preocupa-me mais que uma pessoa não saiba pôr duas ideias seguidas do que
troque um ‘s’ por um ‘z’. ‘Quiser’ há 100 anos escrevia-se com ‘z’, a lei pode
mudar isso”, defende.
Foi na sintaxe que os docentes se
saíram melhor: nas respostas de 47,1% nada há a apontar. “A sintaxe é o mais
importante, por isso não estou aflito. A ortografia pode ter a ver com um
problema de aceitação dos professores [do novo acordo], é um problema
superficial”, diz Paulo Feytor Pinto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário