Por
HELÔ SAMPAIO
Eh! Meu povo, o qué que a gente vai fazer, hein?
Salvador é uma cidade de Verão: é chover que a gente derrete. Baiano só sai de
casa se não tiver jeito. E essa chuva tem maltratado a nossa cidade: virou uma
poça d’água. Até faz um friozinho! Frio em Salvador da Bahia!? Ninguém
acredita. Parece piada. Fiz até uma foto, estes dias, e mandei pra Diego, lá em
Toronto, pra provar que Salvador também tem garoa e chuva.
Eu até tive
que tirar as teias de aranha de um velho baú para desencavar um casaco que eu
trouxe da Europa, bater no danado pra tirar o mofo, o bolor e o cheiro de
naftalina, pra desfilar com ele toda prosa e gostosa, aproveitando esse
friozinho safadinho antes que ele vá embora. Eu já quase não tinha mais
esperança de estrear o meu casaco europeu aqui.
Agora me
diga, meu bonito, se não existe alguma coisa errada com este país? Pense bem: São
Paulo está vivendo um drama com a falta de água. É Sumpaulo, meu fio, sem água
nem pra lavar a cara. Alagoas há poucos dias estava inundada, com enchente,
nadando pra todo lado. Sergipe fez frio dia desses, que quase neva; que nem
Salvador estes dias, quando a temperatura baixou um tiquinho, mas, para nós,
invernou geral. A gente não devia trabalhar nesses dias. Só tomar vinho,
saborear um fondue ou um caldo verde acompanhada de um chamego bonito; e depois
correr para debaixo do cobertor. Isso é que é vidão!
Mas ninguém
acredita quando dizemos que está frio na Bahia. O diacho é que ficamos
desmoralizados, pois quando a gente está se empolgando com o frio, põe uma
meia, um casaquinho e sai pra rua... o solzão aparece, o calorzão bate e em
pouco tempo a produção ‘invernosa’ vai pro ralo. O casaco vira um trambolho na
mão, mudamos do caldo verde para caldo de sururu, trocamos o fondue pela
casquinha de siri, e o vinho pela loirésima gelada. A ‘chiqueza’ desce por água
abaixo. A mudança dos petisco não importa, pois são igualmente saborosos. Mas
um friozinho faz bem até pra gente presepar um pouquinho, com umas roupinhas
mais quentinhas e aconchegantes. Ou não é?
Agora,
mudando de pau pra cacete, já viu que anão entrou na moda? O Brasil foi para a
Copa com a fama de gigante, temido até pelos grandes. Caiu pelas tabelas e saiu
achincalhado, apequenado, nanico. O técnico mudou de Felipão para Dunga (alguma
semelhança com o anão da Branca de Neve?). Tomamos sete gols (quantos eram
mesmo os anõezinhos da bela?). Outro dia, nós nos metemos com a guerra dos
outros, e um ‘carinha’, porta-voz de Israel, disse que o nosso Brasil era um
anão diplomático.
Já o FMI
diz que somos um país ‘vulnerável’ com queda no preço dos commodities,
prevendo o crescimento negativo da economia, ou seja, pra baixo, que nem rabo
de cavalo. Uma rede bancária está preocupada com o câmbio, e não adianta passar
‘mantega’. Afinal nós crescemos para baixo, somos anões com este tamanhão todo?
Oh! Dúvida cruel!
Ah! Eu nem
conto pra vocês a vergonha quando passei na Dorival Caymmi ontem. É que eu
vinha para a Setur, cantarolando no carro, pensando em abobrinhas. De repente,
quando levantei a vista, tomei um choque: vi um outdoor que me fez baixar os
olhos e esconder a cara embaixo do volante. Oxente! Como é que pode colocar um
outdoor assim, no meio da rua, sugerindo saliências, afrontando o pudor das
moças puras e virgens que nem eu!? Com o nomão bem grande lá em cima: Pau da
Rola. Leilão Pau da Rola! E leiloam isso? Em minha terra, só falar esse
nome faz com que nós, moçoilas pudorentas, fiquemos coradas que nem uma cenoura
(lá vem outro símbolo fálico. Vamos mudar para manga-rosa).
Fiquei
danada por não ter ninguém no carro para eu presepar. E já tem 15 anos que o
pau da rola é leiloado. Não pensem que eu deixei de ser moça pudica, casta e
pura, não. Até para falar isso, eu estou ruborizada. Mas dia 16 de agosto vou
estar às 20h no Parque de Exposições para ver quem vai arrematar o pau da rola
mangalarga. (Cá pra nós, amei este pau da rola. E ainda colocaram uma
rolinha bem simplezinha e lindinha na crina do cavalo).
Com um
assunto versando sobre um tema tão pujante, Tânia Feitosa, minha colega da
Setur, me convidou para almoçar e preparou, especialmente pra mim, um prato
especial. Essa Tânia sabe onde as corujas piam ou onde o pau da rola comeu.
Ponha o avental, minha bonitinha, e vamos executar a receita da Tânia, tendo
cuidado ao manipular os ingredientes. Olha o bilhetinho dela: “Helo, segue a
receita do prato que você comeu lá em casa. E adorou”.
Eeeeuuu?
Adoreeei? Tânia pirou. Sou moça fina, bem. Comi pra não fazer desfeita e lambi
os dedos porque gosto de agradar a amiga, mestre cuca. Mas fico acanhada até
para falar o nome do prato, pois sou moça de família. He-he!
Testículos de Boi Nordestino
Ingredientes
-- 12 unidades de testículos bovinos
-- 6 colheres (sopa) de azeite de dendê
-- 1 vidro de leite de coco
-- Sal a gosto
-- Tempero verde
-- 4 dentes de alho
-- Pimenta do reino preta, a gosto
-- 500 g de camarão seco
Modo de preparar
-- Aferventar
os testículos para retirar a pele. Colocar suco de limão ou vinagre para tirar
o cheiro forte.
-- A
seguir, ferver. Escorrer a água e cortar em pequenas rodelas. Misturar com o
sal, os temperos verdes e a pimenta e deixar marinando por 12 horas.
-- Depois,
levar ao forno com o leite de coco; acrescentar o azeite de dendê e o camarão
seco. Adicionar salsa picada ou coentro e os tomates em rodelas, sem sementes.
Servir com feijão de corda e arroz branco, mas observar como as pessoas ‘fundam
dentro’ do ingrediente principal.
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