sábado, 23 de agosto de 2014

TRÁGICO E IMPREVISTO FIM DE EDUARDO CAMPOS

 POR CONSUELO PONDÉ


Para Machado de Assis: “O destino como os dramaturgos, não anuncia as peripécias e o desfecho”.
Quem assistiu as últimas apresentações de Eduardo Campos, na televisão brasileira, quando foi maltratado pelos entrevistadores da Globo e da Globo News, teve condições de avaliar o equilíbrio e a ponderação daquele moço de 49 anos, o derradeiro líder confiável nessa dura peleja eleitoral que se aproxima.
Até hoje não entendo a incerteza do seu trágico fim, considerando injusto o seu sacrifício, enquanto milhares de pilantras continuam a pleitear cargos eletivos, com uma sem-cerimônia, e o criminoso beneplácito dos manda-chuvas desta República apodrecida.
A dor da família de Eduardo Campos não tem cura. Porque, além de física é também moral, e a comoção provocada pelo seu precoce desenlace só poderia ser removida diante da esperança. Mas, esperança em que e em quem?

Eduardo Campos foi formado na escola política do seu avô, Miguel Arraes, alimentado pela bravura e pela coragem que herdara da sua gente, jamais tendo sobre ele recaído qualquer deslize, nem ser tocado pelo fanatismo de qualquer gênero. Fiel aos princípios que norteavam a sua breve vida, representou o povo pernambucano em mais de uma oportunidade, dele tendo recebido o testemunho do seu afeto e da sua confiança. Duas vezes governador, chegou a ser considerado o melhor do país.
Era, incontestavelmente, o mais expressivo líder da sua geração. Se iria alcançar o que pleiteava, nas eleições deste ano, parece-me duvidoso, mais é certo que estava semeando para colher no futuro.
Não tive o prazer e a honra de conhecê-lo pessoalmente, mas dele recebi preciosas informações por meio de Ariano Suassuna, quase seu parente, que com ele conviveu desde que era pequenino, amigo íntimo que era do seu avô, Miguel Arraes.
Ariano não apenas funcionava como seu conselheiro influente, como colaborou nas suas duas gestões como governador de Pernambuco. Fluente, culto, preciso nos seus argumentos, era de vê-lo na tribuna do Senado Federal com seu jogo astucioso de frases e imagens irrefutáveis. Destemido, sabia usar as palavras de maneira crítica e contundente como poucos.
Não tenho uma memória prodigiosa, para reproduzir tudo quanto disse no seu discurso de agradecimento na capital sergipana, mas estou lembrada de muitos trechos da sua oração pronunciada na Assembleia Legislativa de Sergipe, quando agradeceu o título de Cidadão Sergipano. Encontrava-me, com Luiza, minha filha, naquela cidade, e fiz questão de escutar-lhe o sugestivo pronunciamento.
Suas últimas palavras, antes da viagem da morte, reproduzidas pelas redes de televisão, foram de confiança no Brasil, de fé no seu futuro, de realização dos seus sonhos. Estamos carentes de líderes que empolguem as massas, incrédulos em relação ao futuro do nosso Brasil, incertos em relação ao destino da nossa gente, órfãos de ideias e de ideais. A nenhum partido político é conferido o verdadeiro patriotismo que a pátria reclama.
Por isso, não se arroguem ao direito exclusivo de defender o país os aproveitadores de carreira, os que nela apenas pensam para aproveitar-se das prerrogativas do poder.
Porque, acima da política deve pairar a consciência coletiva, o bem do povo, que Eduardo Campos trazia gravado no seu coração para contemplar a nossa sofrida e espoliada gente brasileira. 

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