O rudimentar motor da alimentação dos nordestinos
Parelha de bois movendo o moedor
Engenho de açúcar, muitas
vezes abreviado para engenho, é o nome dado a uma unidade industrial especializada
na transformação da cana-sacarina em açúcar ou
outros derivados, como o melaço ou a aguardente de cana.
Já uma usina
processa a cana-de-açúcar de apenas um plantador, que poderá aceitar ou não
processar a cana-de-açúcar de terceiros.
Os modelos de
engenho central e usina passaram a ser utilizados no final do século XIX quando
houve necessidade de desativar os antigos engenhos das fazendas e produzir
açúcar em uma planta industrial moderna com economia de escala e controle de
qualidade rigoroso.
Um engenho
de cana-de-açúcar em Pernambuco colonial, pelo
pintor neerlandês Frans Post (século XVII).
O primeiro engenho
de açúcar registrado em território português pertenceu a Diogo Vaz de Teive, escudeiro do Infante D. Henrique, com contrato de construção datado de 5 de Dezembro de1452.
Localizava-se na Ilha da Madeira, no então
lugar da Ribeira Brava, Capitania do Funchal. A força
motriz deste engenho era a água da ribeira.
Os primeiros
engenhos da ilha eram todos movidos a água ou
pela força de parelha de bois, sendo os
cilindros construídos algumas vezes com madeira de til, nessa
época muito frequente. Além dos engenhos, existiam também as alçapremas ou prensas manuais.
Tachos de
fervura da garapa para reduzi-la a rapadura
O engenho de meu avo, Racine Facó, em Beberibe, pequeno distrito do
Município de Cascavel, Estado do Ceará, era movido por adestradas parelhas de
bois. Moía a cana-de-açúcar transformando-a em aguardente (alambique), em
garapa, que em seguida ia para os tachos onde se transformava em melaço, puxa
(ambos para o uso da propriedade) e finalmente em rapadura, Alimento que, em
raspas, misturado à farinha de mesa, servia de sucedâneo para matar a fome das
pessoas, nas longas estiagens (secas) da região. Consideravam-na, o ouro
amarelo alimentar do nordestino.
Não consta da
documentação qual o processo de que se serviram os proprietários de engenhos e
alçapremas para fabricar o açúcar, mas supõe-se que esse processo consistisse
em fazer cozer as garapas em caldeiras até
obter a consistência de um xarope espesso,
sendo neste ponto transferidas para vasos furados no fundo, onde se
depositariam os cristais, saindo o liquido pelos orifícios. Supõe-se também que
na purificação dos açucares fossem empregados a água de cal e o carvão animal, produtos
que a indústria moderna de produção açucareira igualmente utiliza.
A indústria da
refinação dos açucares floresceu na Madeira no século XV, passando
dali para Lisboa e
colónias do Reino. Acerca disto comentou o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, nas
Saudades da Terra, que na metrópole “criou tantas fortunas
particulares, com detrimento das colónias e da indústria sacarina mesma“.
Canavial
próximo ao engenho
Os primeiros
engenhos foram criados no Brasil para
atender a demanda europeia. Eram os
locais destinados à fabricação de açúcar,
propriamente a moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar. Todo o conjunto, chamado engenho-banguê,
passou com o tempo a ser assim denominado, incluindo as plantações, a casa-de-engenho ou moita (a
fábrica), a casa-grande (casa
do proprietário), a senzala (lugar
onde ficavam os escravos) e tudo
quanto pertencia à propriedade.
Foi em 1518 que
ocorreu a primeira instalação de um engenho no Brasil, época onde havia sido
registrada a entrada de açúcar brasileiro na alfândega de Lisboa. Contudo,
muitos consideram que a verdadeira indústria do açúcar foi implantada no Brasil
a partir de 1530, com a vinda de Martim Afonso de Souza. Em 1570 já havia 60
engenhos no Brasil.
Na época da
escravatura
A necessidade de
mão de obra levou os donos dos engenhos a tentar, sem sucesso, escravizar os
indígenas. Então optaram por trazer escravos da África. Décadas
depois, a cachaça, um
destilado dos subprodutos da produção do açúcar, melaço e
espumas fermentados, serviu de troca no comércio de escravos. Os senhores de
engenho dominaram a economia e a política brasileira por séculos, desde a época
colonial, passando pelo império e
chegando à república, embora ao
longo dessas épocas tenham tido fases de declínios e reerguimentos. Os
primitivos engenhos implantados no início do século XVI geraram no século vinte
o setor sucroalcooleiro, que no início do século XXI se posicionou em segundo
lugar na matriz energética brasileira...
Até meados do século XX os
engenhos eram a principal indústria sucro-alcooleira, esteio da economia do Brasil e, em especial, de Pernambuco, Piauí, Paraíba, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Ceará e São Paulo.
Com a evolução da
agroindústria e o aparecimento das usinas de açúcar e de álcool, os engenhos, obsoletos,
foram sendo desativados gradativamente.
A primeira etapa presente em todos os engenhos é a moagem da cana,
quando é extraído o suco conhecido como caldo de cana ou garapa. Esse
caldo é conduzido até um tanque, o parol, onde é armazenado.
Na produção de cachaça ou álcool, o
caldo-de-cana fica armazenado para fermentação. Depois é destilado em
alambique.
No Brasil, a
cachaça foi inicialmente obtida pela fermentação e posterior destilação dos
subprodutos da produção de açúcar como o melaço e as
espumas. Assim, o engenho de açúcar era também produtor de cachaça.
Posteriormente, em alguns engenhos, os subprodutos começaram a ser vendidos
para fabricantes de cachaça que os utilizavam na produção da bebida. Já no
século XX, com o emprego destes subprodutos em outras áreas industriais, os
donos de alambiques tiveram que plantar a cana de açúcar e a partir do caldo de
cana fermentado e depois destilado produziam (e ainda produzem) a cachaça.
Assim, a fabricação da bebida desvinculou-se dos antigos engenhos.
A rapadura nordestina
Já na produção de
açúcar, o caldo de cana é levado a grandes tachos de cobre, e submetido a fogo
brando até atingir o "ponto", ou seja, se transformar em mel. Esse
mel-de-engenho é transferido para um tanque onde será submetido a agitação,
para acelerar a cristalização do açúcar.
O mel, então, é
distribuído em formas cônicas, dispostas em uma bancada, onde fica até esfriar.
Após a cristalização, o mel excedente (não cristalizado), é extraído (por
decantação), através de um orifício na parte inferior da forma. Esse mel,
chamado mel-de-furo ou melaço, tem
outras utilizações, entre elas, também, a fabricação de cachaça, após
fermentação por alguns dias.
O açúcar
cristalizado, em forma de pão, que recebe o nome inicial de pão-de-açúcar, é
desenformado, chamando-se, então, açúcar bruto, ou mascavo, que é
comercializado para utilização nessa forma, em pedaços, ou submetido a
clareamento, na produção do açúcar. A transformação de mascavo em demerara era
feita nos engenhos pelo processo de purgação. O local onde se estocava esse
açúcar era chamado casa de purgar. A purgação era feita com água
colocada sobre uma camada de massapê aplicada
sobre o pão de açúcar, e escoada pelo orifício inferior, levando as impurezas.
A
aguardente - cachaça
Nas grandes usinas
de açúcar, atualmente, o processo de separação do açúcar e do melaço é por centrifugação. Antes, ao
caldo da cana moída, são adicionados alguns produtos químicos para auxílio na
decantação de sólidos insolúveis e retirar colóides, para clarear. Assim é
produzido o açúcar cristal e, com mais uma etapa de diluição,
O doce de
rapadura de engenho (quase em ponto de puxa)
tratamento da calda
e centrifugação, o açúcar refinado. Todo tratamento químico feito para
industrialização do açúcar é retirado durante o próprio processo.
O processo de
fabricação de rapadura é semelhante
ao ocorrido na produção de açúcar, nas etapas iniciais, porém a etapa para no
tanque de agitação, bem mais raso nesse caso, e ali é cristalizada a rapadura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário