sexta-feira, 19 de setembro de 2014

HÁ UM GRANDE DESACORDO ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE

 Por
Luiz Augusto Amoedo


As oito maiores incorporadores do país - Cyrela, PDG, Gafisa/Tenda, MRV, Rossi, Direcional, Eztec e Even - estão com R$29 bilhões em imóveis prontos ou em fase de conclusão e não têm a quem vender. É um estoque considerável, e entre junho de 2013 e junho de 2014 houve um incremento de 16% nesse quadro. De imediato, percebe-se que a crise no setor é grande e engloba a Bahia, que este ano talvez fique sem o Salão Imobiliário.


A crise da indústria imobiliária é parte de uma maior, que se mostra em praticamente todos segmentos, da indústria ao comércio, passando pelo turismo. É um problema impactado pelos baixos índices de confiança do consumidor e dos empresários, o endividamento da população, consequentemente a inadimplência, inflação alta e crédito mais restrito. Além disso, a situação foi agravada pelos cancelamentos de vendas e das incertezas quanto ao futuro da economia.
As construtoras estão sendo obrigadas a desmontar seu quadros técnicos e de gerenciamento, um ativo no qual foram investidos uma grande soma de recursos e que de repente deixa de gerar dividendos.



Em entrevista ao Estadão, o analista do Banco JP Morgan, Marcelo Motta, disse que a tendência é de alta nos estoques nos próximos meses. “Ainda estamos num momento em que as empresas estão com dificuldades para vender, e os distratos vêm crescendo pelo que vimos na apresentação dos balanços das companhias”.
Isto tem gerado uma enorme pressão sobre as incorporadoras, que buscam o cliente a todo custo, oferecendo descontos, mas sem conseguir realizar o negócio. O levantamento realizado pelo JPMorgan mostra que, do estoque total, 13,7% são apartamentos prontos e 35,7% serão finalizados até o fim de 2015. O problema é que, quando as unidades são concluídas, passam a gerar gastos de manutenção e condomínio, corroendo a lucratividade das incorporadoras.

Com o PIB se aproximando de zero, o que significa uma economia sem geração de riqueza, o quadro tende a se agravar. De nada adianta estarmos em pleno emprego – embora as demissões já tenham começado, de modo lento, mas gradual - se o consumidor está com medo de perder o posto de trabalho, porque as empresas deixaram de absorver mão de obra, estão dando férias coletivas, suspendendo o contrato de trabalho e fazendo acordo com trabalhadores qualificados, no que tange a remuneração salarial, para evitar a demissão.
Não se pode única e exclusivamente colocar a culpa na crise internacional, esquecendo de que não estamos fazendo o dever de casa, ou seja, em lugar de termos uma política econômica consistente, com princípio meio e fim, trabalhamos na base do improviso.

Dados da Pesquisa Secovi de São Paulo, que retrata o mercado imobiliário residencial paulista, realizada mensalmente pelo Departamento de Economia e Estatística do sindicato, mostram que as venda de imóveis residenciais novos na cidade atingiu 736 unidades em julho de 2014, uma queda de 31,3% na comparação com o mês de junho. Já em relação a julho de 2013, quando foram comercializadas 1,674 mil unidades, o recuo foi de 56%.
O fato é que a economia brasileira vai de mal a pior e não é trocando de ministro ou inventando falsas polêmicas sobre a independência ou não do Banco Central que vamos restaurar a confiança do empresário e dos consumidores.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, disse ontem que há uma angústia frente à perspectiva de recessão, desemprego e falta de investimento.
“Existe uma divergência entre o que percebemos que é realidade com os números apresentados pelo governo e economistas, que não refletem a realidade da produção e do emprego”. Bom, pela colocação de Steinbruch, percebe-se que não se trata de pessimismo, porque há uma grande desacordo entre o discurso na praça e a realidade.

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