Por
Luiz Augusto Amoedo
As oito
maiores incorporadores do país - Cyrela, PDG, Gafisa/Tenda, MRV, Rossi,
Direcional, Eztec e Even - estão com R$29 bilhões em imóveis prontos ou em fase
de conclusão e não têm a quem vender. É um estoque considerável, e entre junho de 2013
e junho de 2014 houve um incremento de 16% nesse quadro. De imediato,
percebe-se que a crise no setor é grande e engloba a Bahia, que este ano talvez
fique sem o Salão Imobiliário.
A crise da
indústria imobiliária é parte de uma maior, que se mostra em praticamente todos
segmentos, da indústria ao comércio, passando pelo turismo. É um problema impactado
pelos baixos índices de confiança do consumidor e dos empresários, o
endividamento da população, consequentemente a inadimplência, inflação alta e
crédito mais restrito. Além disso, a situação foi agravada pelos cancelamentos
de vendas e das incertezas quanto ao futuro da economia.
As construtoras estão sendo obrigadas a desmontar
seu quadros técnicos e de gerenciamento, um ativo no qual foram investidos uma
grande soma de recursos e que de repente deixa de gerar dividendos.
Em entrevista ao Estadão, o analista do Banco JP
Morgan, Marcelo Motta, disse que a tendência é de alta nos estoques nos
próximos meses. “Ainda estamos num momento em que as empresas estão com
dificuldades para vender, e os distratos vêm crescendo pelo que vimos na
apresentação dos balanços das companhias”.
Isto tem gerado uma enorme pressão sobre as
incorporadoras, que buscam o cliente a todo custo, oferecendo descontos, mas
sem conseguir realizar o negócio. O levantamento realizado pelo JPMorgan mostra
que, do estoque total, 13,7% são apartamentos prontos e 35,7% serão finalizados
até o fim de 2015. O problema é que, quando as unidades são concluídas, passam
a gerar gastos de manutenção e condomínio, corroendo a lucratividade das
incorporadoras.
Com o PIB
se aproximando de zero, o que significa uma economia sem geração de riqueza, o
quadro tende a se agravar. De nada adianta estarmos em pleno emprego – embora
as demissões já tenham começado, de modo lento, mas gradual - se o consumidor
está com medo de perder o posto de trabalho, porque as empresas deixaram de
absorver mão de obra, estão dando férias coletivas, suspendendo o contrato de
trabalho e fazendo acordo com trabalhadores qualificados, no que tange a remuneração salarial, para evitar
a demissão.
Não se pode única e exclusivamente colocar a culpa
na crise internacional, esquecendo de que não estamos fazendo o dever de casa,
ou seja, em lugar de termos uma política econômica consistente, com princípio
meio e fim, trabalhamos na base do improviso.
Dados da
Pesquisa Secovi de São Paulo, que retrata o mercado imobiliário residencial
paulista, realizada mensalmente pelo Departamento de Economia e Estatística do
sindicato, mostram que as venda de imóveis residenciais novos na cidade atingiu
736 unidades em julho de 2014, uma queda de 31,3% na comparação com o mês de junho. Já em relação a julho de
2013, quando foram comercializadas 1,674 mil unidades, o recuo foi de 56%.
O fato é que a economia brasileira vai de mal a
pior e não é trocando de ministro ou inventando falsas polêmicas sobre a
independência ou não do Banco Central que vamos restaurar a confiança do
empresário e dos consumidores.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, disse ontem que há uma angústia
frente à perspectiva de recessão, desemprego e falta de investimento.
“Existe uma divergência entre o que percebemos que
é realidade com os números apresentados pelo governo e economistas, que não
refletem a realidade da produção e do emprego”. Bom, pela colocação de
Steinbruch, percebe-se que não se trata de pessimismo, porque há uma grande
desacordo entre o discurso na praça e a realidade.
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