Mulheres de vida simples, nada fácl, e
modesta, de sorriso fácil e tímido, com histórias de vida de muito trabalho,
mas também de conquistas. Assim são as marisqueiras das comunidades de Cajaiba
e Maricoabo, município de Valença, no baixo sul da Bahia, que tiram dos
manguezais o sustento de suas famílias, praticando o ofício passado de geração
a geração.
“Sou marisqueira há 55 anos e
comecei essa atividade ainda menina, quando minha mãe me levava para o mangue
para ajudar na mariscagem, e desde aquele tempo não parei mais. Hoje, com 64
anos, aposentada, continuo mariscando porque sou feliz e amo o que faço”,
declarou Sônia Pereira do Rosário.
O trabalho dessas mulheres é definido pela captura de moluscos e crustáceos presentes nos manguezais, a exemplo de caranguejos, guaiamuns, siris, lambretas, sururus e ostras.
“Estas mulheres são lutadoras e vitoriosas, trabalham com amor e dedicação, com papel fundamental junto a suas famílias, contribuindo com a renda familiar”.
Os trabalhos das marisqueiras são divididos em três etapas: a primeira, que começa muitas vezes antes do sol nascer, consiste na ida aos manguezais em busca do melhor marisco; a segunda etapa é quando elas começam o trabalho de beneficiamento dos mariscos, a partir do catado de caranguejos, siris e aratus, finalizando o processo com a lavagem dos produtos, embalagem, peso, refrigeração e comercialização, geralmente para cabanas de praia, bares e restaurantes da região.
O trabalho do catado conta com uma força extra, a mão de obra familiar, onde filhas, sobrinhas e netas se unem para ajudar no serviço. Janaildes Andrade, 29 anos, marisqueira conhecida como “Rainha do Sururu”, chega a catar 10 quilos de marisco por dia, com uma jornada de trabalho de seis horas. “As pessoas me perguntam como faço isso, mas nem eu mesmo sei explicar. Acho que faço esse trabalho com tanto amor que nem vejo a hora passar”, comentou Janailde.
As comunidades de marisqueiras em Valença, abrigam, hoje, 300 marisqueiras que, em muitos casos, garantem a renda de sua família. Maria José dos Santos é uma dessas: viúva há 10 anos, Maria cria oito filhos sozinha. “Desde que meu esposo morreu, eu tive que garantir o sustento da casa, a escola dos meninos, e tudo que as crianças necessitam. Vou para o mangue cedo e só saio de lá quando o balde está cheio”, afirmou a marisqueira.
Nem só de sofrimento vivem as mulheres dessas comunidades. Amores, casamentos, filhos e netos são as alegrias da vida dessas marisqueiras. Em meio a depoimentos espontâneos, Janailde Andrade comenta que se apaixonou por seu esposo, Cássio Pereira, quando estava com suas primas mariscando na ilha do Galeão, nas proximidades de Morro São Paulo. “Estava mariscando quando o vi em uma canoa
pescando. No primeiro momento
achei ele tão bonito e valente, enfrentando uma forte chuva e muito vento, o
que dificultava aquele dia de trabalho. Hoje, sou casada há 13 anos e tenho
dois filhos. Posso dizer que foi um amor que surgiu nas margens do manguezal”,
complementou Janaildes, com um sorriso de satisfação.
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