Colaboração do literato sergipano EDSON VALADARES
Edson Valadares vivendo
seus fecundos 90 anos
Acredita a cega e tola humanidade
Que sois incorpórea entidade,
Onisciente, Onipotente e
Onipresente;
Espírito perfeito – inteligente.
Acredita, ainda, que vós,
sozinho,
Sois Criador deste infinito
“ninho”
A que chamamos de Universo,
Usando como instrumento apenas o
vosso verbo.
Pensa que sois fonte de amor e de
bondade;
Como é insensata esta vã
humanidade!
Crê, ainda, que sois generoso e
causa do bem,
Porém eu acredito que sois mau
também.
As escrituras dizem que sois meu
Pai,
Mas por que não dizeis ao filho
aonde vai?
Vivo envolto nas brumas da
ignorância,
Num mundo violento e sem
esperança!
Aflito, vos pergunto: por que
criastes a humanidade?
Dizei-me, respondei-me por vossa
piedade!
Oh Deus! Por que não me
respondeis?
Por que no anonimato vos
escondeis?
Eu digo que sois mau, perverso,
E que vossas leis nos ameaçam com
o inferno.
Pergunto: por que guardais vossa
origem com mistério?
E nos condenais a morrer e morar
num cemitério?
Pouso meu espírito austero
Lá no alto, nos píncaros do
Etéreo,
E observo as maldades que
fizestes:
Terremotos, vulcões, incêndios, a
peste!
Oh Deus! Se de fato existirdes,
sois malvado.
Incutistes na mente humana a
ideia do pecado
E enviastes vosso filho Jesus
para aqui nascer
E salvar do inferno nossas almas.
Por quê?
Sois orgulhoso por quererdes ser
adorado
E exigirdes dos homens ser amado,
Oferecendo vosso céu apenas aos
afortunados
E entregando os descrentes, como
eu, ao Diabo.
Compreendo que vós, Deus,
construís,
Mas, no passar do tempo, a tudo
destruís.
Até o homem, vosso filho, não
amais.
Porque vós, o Pai algoz, também o
matais.
Há rumores de vossa morte nas
trevas dos anos,
Deixando-nos aqui sozinhos, em
desenganos,
Navegando como loucos nesta nave
espacial,
Vivendo a eterna luta do bem
contra o mal.
O homem, pela fé – essa crença
irracional e cega –,
Ignorante do eterno mistério que
o cerca,
Crê que vós existis, Deus,
Porém, por vossa culpa, eu juro:
sou ateu!
Ilhéus, 10/08/1998
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