quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O ROMANESCO MOTIM DE UM NAVIO INGLÊS

História


 HMS Bounty é o nome de um navio inglês no qual parte da tripulação se amotinou contra seu comandante, o tenente William Bligh. O fato se deu nas primeiras horas da manhã do dia 29 de Abril de 1789, quando o Bounty fazia sua viagem de regresso à Jamaica e depois Inglaterra, trazendo um carregamento de mais de mil (1000) mudas de fruta-pão. A ideia seria plantar esta fruta na Jamaica para fazer dela um alimento bom e barato para os escravos.



A tripulação era constituída por 42 homens e somente nove deles se rebelaram, sob a liderança do imediato Fletcher Christian.
A verdade é que William Bligh e Fletcher Christian eram amigos e já haviam navegado juntos. William Bligh foi o mestre de navegação do HMS Resolution, navio britânico comandado pelo famoso capitão James Cook, em sua última viagem. Após o assassinato de James Cook no Hawaii, William Bligh assumiu o comando e levou o HMS Resolution de volta à Inglaterra.


William Bligh era óptimo navegador e provavelmente foi escolhido para esta missão por sua experiência no Oceano Pacífico e por já conhecer o Tahiti. Só aconteceram oito açoitamentos nesta viagem, o que para os padrões da época era considerado pouco. O erro de William Bligh foi permanecer cinco meses no Tahiti e preocupar-se demais com a coleta de mudas de fruta-pão, esquecendo-se um pouco do navio e da disciplina.
William Bligh foi muito liberal no Tahiti permitindo que quase todos os seus homens estabelecessem ligações afetivas e sexuais com as mulheres nativas. Este descuido iria lhe custar caro! Ao iniciar a viagem de regresso percebeu que a tripulação havia perdido o adestramento e a disciplina. Muitos logo se mostraram saudosos das amantes deixadas no Tahiti e ficaram aborrecidos com o árduo trabalho do navio à vela. Certamente o mais nostálgico era Fletcher Christian, o imediato, o segundo na escala de comando.
A reação de William Bligh foi apertar mais a disciplina a bordo e ter tolerância zero para qualquer deslize, mesmo diminuto. Após três semanas a saudade pelo ócio e sexo fácil fez com que apenas nove homens tomassem as armas e se amotinassem. William Bligh foi colocado numa lancha de apenas 7 metros de comprimento e uma vela. Só 18 homens puderam acompanhar William Bligh em sua desdita, pois os restantes 15 não cabiam no escaler.
Nestas difíceis circunstâncias William Bligh provou que era exímio navegante e conseguiu a partir das imediações da ilha de Tofua, no arquipélago das Fidji, onde foi posto à deriva, atingirTimor Ocidental, naquela época uma possessão colonial holandesa. Nesta viagem percorreu mais de 3.000 milhas náuticas em 48 dias, com escassa quantidade de água potável e comida. Não dispunha de cartas náuticas e calculou a rota confiando na sua memória, tendo como instrumentos de navegação apenas um sextante e um relógio de bolso.
Na viagem atravessou o perigoso Estreito de Torres, entre a Austrália e a Papua, contornando a perigosa Grande barreira de coral do nordeste da Austrália. Na história moderna não há outra façanha náutica como esta, e ainda por cima realizada em condições tão adversas.

Uma réplica do Bounty

Se por um lado William Bligh errou em se concentrar somente na missão botânica e em ser descuidado com a tripulação, Fletcher Christian por outro lado também errou ao abandonar o antigo amigo e mais 18 homens à própria sorte, em alto mar e com imenso risco de naufrágio e morte. A pena para o motim era a forca.
Fletcher Christian conduziu o Bounty de volta ao Tahiti e desembarcou os quinze homens leais que não quiseram se arriscar nesta revolta. Mas sabendo que a Marinha Inglesa viria em seu encalço, Christian aceitou alguns homens taitianos para suprir a falta daqueles que desembarcaram e se fez ao mar novamente.
Os amotinados levavam consigo também várias mulheres taitianas e começaram a procurar um esconderijo. Por acaso chegaram a ilha de Pitcairn (Pacífico Sul) e Fletcher Christian logo percebeu um erro de quase 200 milhas na longitude marcada nas cartas da Marinha. Esperto, logo deduziu que a Ilha só seria achada novamente por acaso, pois todas as cartas náuticas inglesas deveriam ter o mesmo erro. Acertou em cheio!
Os amotinados estabeleceram-se na Ilha, retiraram tudo que havia de valor do Bounty e atearam fogo ao navio. Foi uma maneira de impedir que qualquer navio ao largo pudesse identificar o casco e os mastros da Bounty.
Uma fragata de guerra inglesa, com 25 canhões, HMS Pandora foi enviada para caçar os amotinados por todo Pacífico. Sabemos hoje que passaram a menos de 50 km de Pitcairn, mas não a perceberam.
A vida foi madrasta para os sublevados. Começaram a ter muitas brigas com os homens nativos do Tahiti e alguns ingleses conseguiram construir um rudimentar alambique e obter álcool para se embriagar. Ocorreram então várias disputas e assassinatos.


Somente depois de dezoito anos é que um navio baleeiro americano (em 1808, o Topaz) aportou na ilha. Em 17 de setembro de 1814 a comunidade da ilha foi novamente "descoberta" por duas fragatas inglesas. Surpresos pelo achado e impressionados pelo caráter dos residentes, optaram por permitir a permanência de John Adams - que havia se dedicado a administração da comunidade e se voltado à orientação religiosa da comunidade, utilizando a Bíblia de bordo do Bounty. Com ele estavam 11 mulheres e 23 crianças. Adams faleceu em 6 de março de 1829 com 63 anos, quarenta e dois anos depois da partida do Bounty em sua fatídica viagem.

Como uma comprovação desta impressionante história, pode-se encontrar em Pitcairn atualmente, muitos descendentes diretos dos marinheiros amotinados do Bounty. Esta população descende destes nove amotinados e suas esposas taitianas. Nenhum dos homens taitianos teve descendentes na ilha.

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