História
HMS Bounty é o
nome de um navio inglês no
qual parte da tripulação se amotinou contra seu comandante, o tenente William Bligh. O fato se deu nas primeiras horas da manhã
do dia 29 de Abril de 1789, quando
o Bounty fazia sua viagem de regresso à Jamaica e
depois Inglaterra, trazendo um carregamento de mais de mil (1000) mudas de fruta-pão. A ideia seria plantar esta fruta na Jamaica para
fazer dela um alimento bom e barato para os escravos.
A tripulação era
constituída por 42 homens e somente nove deles se rebelaram, sob a liderança do
imediato Fletcher Christian.
A verdade é que
William Bligh e Fletcher Christian eram amigos e já haviam navegado juntos.
William Bligh foi o mestre de navegação do HMS Resolution, navio
britânico comandado pelo famoso capitão James Cook, em sua
última viagem. Após o assassinato de James Cook no Hawaii, William
Bligh assumiu o comando e levou o HMS Resolution de volta à
Inglaterra.
William Bligh era
óptimo navegador e provavelmente foi escolhido para esta missão por sua
experiência no Oceano Pacífico e por
já conhecer o Tahiti. Só
aconteceram oito açoitamentos nesta viagem, o que para os padrões da época era
considerado pouco. O erro de William Bligh foi permanecer cinco meses no Tahiti e
preocupar-se demais com a coleta de mudas de fruta-pão,
esquecendo-se um pouco do navio e da disciplina.
William Bligh foi
muito liberal no Tahiti permitindo
que quase todos os seus homens estabelecessem ligações afetivas e sexuais com
as mulheres nativas. Este descuido iria lhe custar caro! Ao iniciar a viagem de
regresso percebeu que a tripulação havia perdido o adestramento e a disciplina.
Muitos logo se mostraram saudosos das amantes deixadas no Tahiti e
ficaram aborrecidos com o árduo trabalho do navio à vela. Certamente o mais
nostálgico era Fletcher Christian, o imediato, o segundo na escala de comando.
A reação de William Bligh foi
apertar mais a disciplina a bordo e ter tolerância zero para qualquer deslize,
mesmo diminuto. Após três semanas a saudade pelo ócio e sexo fácil fez com que
apenas nove homens tomassem as armas e se amotinassem. William Bligh foi
colocado numa lancha de apenas 7 metros de comprimento e uma vela. Só 18 homens
puderam acompanhar William Bligh em sua desdita, pois os restantes 15 não
cabiam no escaler.
Nestas difíceis
circunstâncias William Bligh provou que era exímio navegante e conseguiu a
partir das imediações da ilha de Tofua, no arquipélago das Fidji, onde foi
posto à deriva, atingirTimor Ocidental,
naquela época uma possessão colonial holandesa. Nesta viagem percorreu mais de
3.000 milhas náuticas em 48 dias, com escassa quantidade de água
potável e comida. Não dispunha de cartas náuticas e calculou a rota confiando
na sua memória, tendo como instrumentos de navegação apenas um sextante e um
relógio de bolso.
Na viagem
atravessou o perigoso Estreito de Torres, entre a Austrália e
a Papua,
contornando a perigosa Grande barreira de coral do nordeste
da Austrália. Na história moderna não há
outra façanha náutica como esta, e ainda por cima realizada em condições tão
adversas.
Uma réplica
do Bounty
Se por um lado
William Bligh errou em se concentrar somente na missão botânica e em ser
descuidado com a tripulação, Fletcher Christian por outro lado também errou ao
abandonar o antigo amigo e mais 18 homens à própria sorte, em alto mar e com
imenso risco de naufrágio e morte. A pena para o motim era a forca.
Fletcher Christian
conduziu o Bounty de volta ao Tahiti e
desembarcou os quinze homens leais que não quiseram se arriscar nesta revolta.
Mas sabendo que a Marinha Inglesa viria em seu encalço, Christian aceitou
alguns homens taitianos para suprir a falta daqueles que desembarcaram e se fez
ao mar novamente.
Os amotinados
levavam consigo também várias mulheres taitianas e começaram a procurar um
esconderijo. Por acaso chegaram a ilha de Pitcairn (Pacífico
Sul) e Fletcher Christian logo percebeu um erro de quase 200 milhas na
longitude marcada nas cartas da Marinha. Esperto, logo deduziu que a Ilha só
seria achada novamente por acaso, pois todas as cartas náuticas inglesas
deveriam ter o mesmo erro. Acertou em cheio!
Os amotinados
estabeleceram-se na Ilha, retiraram tudo que havia de valor do Bounty e atearam
fogo ao navio. Foi uma maneira de impedir que qualquer navio ao largo pudesse
identificar o casco e os mastros da Bounty.
Uma fragata de
guerra inglesa, com 25 canhões, HMS Pandora foi enviada para
caçar os amotinados por todo Pacífico. Sabemos hoje que passaram a menos de
50 km de Pitcairn, mas não a
perceberam.
A vida foi madrasta
para os sublevados. Começaram a ter muitas brigas com os homens nativos
do Tahiti e
alguns ingleses conseguiram construir um rudimentar alambique e obter álcool
para se embriagar. Ocorreram então várias disputas e assassinatos.
Somente depois de
dezoito anos é que um navio baleeiro americano (em 1808, o Topaz) aportou na
ilha. Em 17 de setembro de 1814 a comunidade da ilha foi novamente
"descoberta" por duas fragatas inglesas. Surpresos pelo achado e
impressionados pelo caráter dos residentes, optaram por permitir a permanência
de John Adams - que havia se dedicado a administração da comunidade e se
voltado à orientação religiosa da comunidade, utilizando a Bíblia de
bordo do Bounty. Com ele estavam 11 mulheres e 23 crianças. Adams faleceu em 6
de março de 1829 com 63 anos, quarenta e dois anos depois da partida do Bounty
em sua fatídica viagem.
Como uma
comprovação desta impressionante história, pode-se encontrar em Pitcairn
atualmente, muitos descendentes diretos dos marinheiros amotinados do Bounty.
Esta população descende destes nove amotinados e suas esposas taitianas. Nenhum
dos homens taitianos teve descendentes na ilha.
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