quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ADAMASTOR

Mitologia grega


Adamastor é um mítico gigante baseado na mitologia greco-romana, referido por Luís de Camões em Os Lusíadas, também referido por Fernando Pessoa no poema O Mostrengo, chamando-lhe Mostrengo. Representa as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma tempestade, ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo da Boa Esperança e penetrasse no Oceano Índico, os alegados domínios de Adamastor. 




É o nome atribuído a um dos gigantes, filhos de Gaia, que se rebelou contra Zeus. Fulminados por este, ficaram dispersos e reduzidos a promontóriosilhas e penhascos. O seu nome surge, certamente, pela primeira vez com Sidónio Apolinário.
 O gigante foi listado por Rabelais, em Gargantua e Pantagruel.
Foi popularizado ao ser usado com verdadeira mestria pelo poeta português Luís de Camões, no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, e cuja figura se desfazia em lágrimas, que eram as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico. O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria.

Adamastorescultura de Júlio Vaz Júnior no miradouro de Santa Catarina, LisboaPortugal

Representação em areia de Adamastor no FIESA 2007

O Adamastor tem não só o papel de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho do Restelo. Também dá ênfase ao «mais que humano feito» (feito sobre-humano) referido na proposição. Realçando a coragem do Herói, individual ou coletivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios superiores do poder do Homem, porque renega a sua emoção seguindo a ordem de el-rei.


Na continuação do episódio, o narrador mostra-nos como este gigante tem uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso ser padece dessa doença benigna que é o amor.
A sul do Cabo Bojador erguia-se um conjunto de lendas e superstições que a imaginação mito gênica criara a partir do mundo desconhecido. Os marinheiros quatrocentistas não podiam deixar de sentir o mistério que envolvia a transposição de tais obstáculos. As lendas representavam o medo do que havia no tenebroso cabo e para além dele.
À custa de uma experimentação contínua, os marinheiros portugueses aprenderam a recusar esses mitos e chegaram com Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, conhecido pela impossibilidade de se navegar, e que, passando a se chamar Cabo da Boa Esperança, lhes abria as portas da Índia. Os mares desse cabo serviram muitas


vezes de sepultura a naus e a gentes carregadas de riquezas e de desilusões, como que comprovando as profecias do Adamastor. Bocage escreveu um belo soneto relativo às profecias do Adamastor:
Adamastor cruel!... De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores!
Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Com a esposa, e com os filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Vênus e os Amores.
Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.
Bem te vingaste em nós do afouto Gama!
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor! Maldita fama!


É mencionado por Voltaire no capítulo dedicado a Camões do Essai sur la poésie épique. Aparece também na obra de Victor Hugo por duas vezes: em Os Miseráveis (Tomo III, Marius, cap III) e num poema dedicado a Lamartine (Les Feuilles d'automne, cap IX). Alexandre Dumas refere o gigante por seis vezes nas suas obras: em O Conde de Monte Cristo (cap. XXXI), Vinte anos depois (cap. LXXVII),Georges (cap I), Bontekoe, Les drames de la mer, (cap I), Causeries (cap. IX) e Mes Mémoires (cap. CCXVIII). É também mencionado por Saramago em Intermitências da Morte (pág 65).

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