Mitologia grega
Adamastor é
um mítico gigante baseado na mitologia greco-romana, referido por Luís de Camões em Os Lusíadas, também referido por Fernando Pessoa no
poema O Mostrengo, chamando-lhe Mostrengo.
Representa as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a
forma de uma tempestade, ameaçando
a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo da Boa Esperança e penetrasse no Oceano Índico, os
alegados domínios de Adamastor.
É o nome atribuído a um dos gigantes, filhos
de Gaia, que se
rebelou contra Zeus.
Fulminados por este, ficaram dispersos e reduzidos a promontórios, ilhas e penhascos. O seu
nome surge, certamente, pela primeira vez com Sidónio Apolinário.
Foi
popularizado ao ser usado com verdadeira mestria pelo poeta português Luís de Camões, no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o
gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, e cuja
figura se desfazia em lágrimas, que eram
as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico. O episódio
do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e
comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses
e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria.
Adamastor, escultura de
Júlio Vaz Júnior no miradouro de
Santa Catarina, Lisboa, Portugal
Representação em areia de Adamastor no FIESA 2007
Representação em areia de Adamastor no FIESA 2007
O Adamastor
tem não só o papel de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho do
Restelo. Também dá ênfase ao «mais que humano feito» (feito sobre-humano)
referido na proposição. Realçando a coragem do Herói,
individual ou coletivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios superiores do
poder do Homem, porque
renega a sua emoção seguindo
a ordem de el-rei.
Na
continuação do episódio, o narrador mostra-nos
como este gigante tem uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o
mais poderoso ser padece dessa doença benigna que é o amor.
A sul
do Cabo Bojador erguia-se um conjunto de lendas e superstições que a
imaginação mito gênica criara a partir do mundo desconhecido. Os
marinheiros quatrocentistas não
podiam deixar de sentir o mistério que
envolvia a transposição de tais obstáculos. As lendas representavam
o medo do que havia no tenebroso cabo e para além dele.
À custa de
uma experimentação contínua, os marinheiros portugueses aprenderam a recusar
esses mitos e
chegaram com Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, conhecido pela
impossibilidade de se navegar, e que, passando a se chamar Cabo da Boa
Esperança, lhes abria as portas da Índia. Os mares
desse cabo serviram muitas
vezes de
sepultura a naus e a gentes carregadas de riquezas e de desilusões, como que
comprovando as profecias do
Adamastor. Bocage escreveu
um belo soneto relativo às profecias do Adamastor:
Adamastor cruel!...
De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores!
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores!
Parece-me
que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Com a esposa, e com os filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Vênus e os Amores.
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Com a esposa, e com os filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Vênus e os Amores.
Parece-me
que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.
Bem te
vingaste em nós do afouto Gama!
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor! Maldita fama!
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor! Maldita fama!
É mencionado
por Voltaire no
capítulo dedicado a Camões do Essai sur la poésie épique. Aparece
também na obra de Victor
Hugo por duas vezes: em Os Miseráveis (Tomo III,
Marius, cap III) e num poema dedicado a Lamartine (Les Feuilles d'automne,
cap IX). Alexandre Dumas refere o gigante por seis vezes nas suas
obras: em O Conde de Monte Cristo (cap. XXXI), Vinte
anos depois (cap. LXXVII),Georges (cap I), Bontekoe,
Les drames de la mer, (cap I), Causeries (cap. IX) e Mes
Mémoires (cap. CCXVIII). É também mencionado por Saramago em Intermitências da Morte (pág
65).
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