Mito: existiu ou não?
A Escola de Sagres constitui um dos
grandes mitos da história portuguesa, resultante de deficientes
interpretações de crónicas antigas. Com base no pressuposto de que o infante D. Henrique convidou um cartógrafo catalão para se colocar ao seu serviço, muitos
consideraram (a partir logo do século XVI,
com Damião de Góis), que teria havido uma escola náutica em Sagres, fundada pelo Infante D.
Henrique, por volta de 1417,
no Algarve.
A escola, centro da arte
náutica, teria assim formado
grandes descobridores, como Vasco da Gama e Cristóvão Colombo.
Após o seu regresso de Ceuta, o Infante D. Henrique fixa-se em Sagres, na
Vila do Infante, rodeia-se de mestres nas artes e ciências ligadas à navegação
e cria uma Tercena Naval (tercena era um armazém de
galés) (do árabe "dar as-sina'ah") a que é comum
chamar-se Escola de Sagres. De fato, o que se criou não foi uma escola no
moderno conceito da palavra, mas um
local de reunião de mareantes e cientistas onde, aproveitando a ciência dos
doutores e a prática de hábeis marinheiros, se desenvolveram novos métodos de
navegar, desenharam cartas e
adaptaram navios.
De acordo com os cronistas da época, largavam
todos os anos dois ou três navios para as descobertas. O primeiro a mencionar a existência de uma escola foi o historiador
inglês Samuel
Purchas no século XVII,
embora já antes Damião de Góis aludisse à ideia de uma Escola patrocinada pelo
Infante. O mito foi depois consolidado
por historiadores portugueses e ingleses.
E surgem logo os primeiros resultados: Gonçalves Zarco atinge Porto Santo (1419)
e a Ilha da Madeira (1420), Diogo de Silves a
ilha açoreana de Santa Maria (1427) e só em 1434 Gil
Eanes ultrapassa o cabo Bojador .
Isso representa doze anos para avançar as duzentas milhas que separam o cabo Não do cabo Bojador.
A passagem do Bojador, o célebre Mar Tenebroso
dos geógrafos árabes, seria temida pelos navegadores portugueses
pela dificuldade do regresso, pois a rota inversa era contrária aosventos dominantes, pelo que só era possível fazê-lo, navegando à vela, fazendo a volta
pelo largo, mas para isso foram necessários os novos conhecimentos científicos
que os portugueses desenvolveram no segundo quartel do século XV.
O navio empregue na exploração da costa africana
era a caravela,
usada primitivamente na faina da pesca e caracterizada pela sua robustez e
pouco calado; com uma tonelagem que variou das 50 às 160 toneladas e armando 1,
2 ou 3 mastros com velas latinas triangulares, bolinava satisfatoriamente para
a época.
A
Escola de Sagres nunca foi uma entidade de fato. Suas origens remontam à Ordem dos Templários. Com a perseguição e massacre promovido contra seus membros, nos
séculos XIII e XIV os remanescentes foram acolhidos por Portugal e fundaram os
"cavaleiros de ordem de Cristo", da qual faz parte D. Henrique, filho
do Rei português. Sob a sua bandeira obtinham proteção os judeus, árabes e
outros intelectuais perseguidos pela inquisição européia, sendo que entre estes
se encontravam cartógrafos e navegadores de renome.
O
sonho de alcançar o Oriente pelo mar ficou mais próximo quando o filho do rei
D. João I, o infante D. Henrique, interessou-se pelo projeto. Embora nunca
tivesse navegado, D. Henrique ficou conhecido como "o Navegador" por causa do apoio que deu à expansão
marítima portuguesa. No cabo de São Vicente, na região do Algarve, acolhia
estudiosos da Europa e de fora dela: cristãos, muçulmanos e judeus que se
interessavam por navegação, mapas e construção de embarcações. Esse grupo ficou conhecido como Escola de
Sagres e foi muito importante no aperfeiçoamento de instrumentos como o
astrolábio e a balestilha (já usados pelos árabes), e na construção das
caravelas.
No
início do século
XV a técnica da navegação em quase nada diferia da usada na
antiguidade; navegava-se quase sempre à vista de costa utilizando remos ou
ventos de feição e ao piloto cabia escolher a rota pelo conhecimento prático
que tinha dos locais demandados, dos mares, das correntes e dos fundos
navegáveis. Embora já se utilizassem a
agulha de marear e aampulheta,
os instrumentos náuticos, as cartas e as observações astronómicas estavam longe
de prestar quaisquer serviços, apenas no Oceano Índico os
navegadores árabes utilizavam
oKamal para, na prática, manterem o navio sobre determinada latitude. E como o vento constituía a principal força motriz dos
navios, era fundamental o conhecimento das áreas de ventos favoráveis.
Os descobrimentos portugueses do
início do século XV não se limitaram à exploração científica e comercial do
litoral africano; houve também viagens para o mar largo em
busca
de informações meteorológicas e oceanográficas que
permitissem o regresso dos navios da costa africana por zonas de ventos mais
favoráveis. Foi nestes trajectos que se descobriram os arquipélagos da Madeira e
dos Açores,
o Mar dos
Sargaços ou Mar da Baga, e a volta da Mina ou seja, a rota oceânica de
regresso de África. O conhecimento do regime de ventos e correntes
do Atlântico Norte e a determinação da latitude por observações astronómicas a bordo, permitiu nova singradura no
regresso de África, cruzando o Atlântico Central até à latitude dos Açores,
onde os ventos de Oeste facilitavam o rumo directo para Lisboa, possibilitando assim que os portugueses se
aventurassem cada vez para mais longe da costa.
Diogo Cão e Bartolomeu
Dias são dois marcos desta época: o primeiro atinge a Foz do Zaire em 1482 e o segundo dobra o Cabo da Boa Esperança em 1487.
Como corolário destas viagens de exploração,
Vasco da Gama descobre
o caminho marítimo para a Índia em 1497/1499.
Fonte: Wikipédia
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