sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ESQUERDA VERSUS DIREITA NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DO BRASIL

Fernando Alcoforado*

 


Esquerda e Direita são uma forma comum de classificar posições políticas, ideológicas, ou partidos políticos. Esses termos surgiram com o advento da Revolução Francesa. Durante o reinado de Luis XVI, os membros do Terceiro Estado, que indicava as pessoas que não faziam parte do clero (Primeiro Estado) nem da nobreza (Segundo Estado), se sentavam à esquerda do rei enquanto os do clero e da nobreza se sentavam à direita. Os mais radicais que normalmente eram contra as decisões do rei ficaram conhecidos como a esquerda enquanto os favoráveis às decisões eram os de direita.


A partir de 1848, agudizou-se em todo o mundo o confronto entre a direita, representada pelos conservadores, e a esquerda, representada pelos socialistas, enquanto os liberais centristas se posicionavam entre as duas correntes ideológicas tendendo mais para as posições dos conservadores. Norberto Bobbio, filósofo italiano, afirmava que uma diferença fundamental entre esquerda e direita é a de que a primeira é defensora intransigente da igualdade e a direita não. A esquerda acredita que a maior parte das desigualdades é social e, enquanto tal, eliminável e a direita acha que a maior parte delas é natural e portanto é eliminável (Ver Bobbio, Norberto. Direita e esquerda. Editora UNESP. São Paulo, 1995).

O confronto entre a direita e a esquerda atingiu as culminâncias em todo o mundo com o advento da Revolução Russa em 1917, a constituição do bloco de países socialistas no este europeu e a luta de libertação nacional que levou à descolonização ocorrida em vários países da periferia capitalista após a 2ª. Guerra Mundial, a Revolução Chinesa em 1949, a Revolução Cubana em 1959 e a Guerra do Vietnam. As vitórias alcançadas pelos movimentos de esquerda em todo o mundo criaram a sensação de que um mundo novo, socialista, mesmo com matizes diferentes em cada país, estaria em gestação.

Mudar o mundo através do Estado foi o paradigma que predominou no âmbito dos partidos políticos de esquerda do século XVIII até a década de 1990 do século XX. A tese dos partidos políticos de esquerda que fundamentava essas concepções é simples: conquista-se o Estado que até então era um instrumento da burguesia e o transforma em  um instrumento da classe trabalhadora através da Reforma ou da Revolução Social. A tese de considerar o Estado como centro irradiador da mudança foi um rotundo fracasso em todas as partes do mundo, tanto nos países que tentaram construir o socialismo, quanto nos países periféricos que adotaram uma postura nacionalista na promoção de seu desenvolvimento.

Ambos os enfoques, o reformista e o revolucionário fracassaram no seu projeto de mudar pacificamente ou radicalmente a sociedade. Com o fim do socialismo real na década de 1990, os grandes partidos de esquerda em todos os países do mundo abandonaram não apenas as teses revolucionárias, mas também as reformistas visando as mudanças sociais. Muitos partidos de esquerda no mundo se tornaram partidos da ordem dominante. A partir da década de 1990, a esquerda que nasceu em 1848 e conquistou o poder em vários países perdeu o rumo devido sobretudo à falta de um projeto alternativo ao que foi implantado na União Soviética e em outros países.

A ação política da velha esquerda ficou reduzida fundamentalmente à sua participação nas eleições parlamentares defendendo teses liberais centristas ou neoliberais e abdicando das teses nacionalistas e da revolução social que sempre foram os principais móveis de sua atuação política no passado. Em vários países do mundo, partidos de esquerda que conquistaram o poder, adotam teses liberais ou neoliberais com a concessão de amplas benesses às classes dominantes, sobretudo as do setor financeiro, e de “esmolas” aos “de baixo” na escala social, para neutralizar convulsões sociais como ocorre atualmente no Brasil com o programa de transferência de renda, “Bolsa Família”.

A atual crise mundial evidenciou um vazio teórico das esquerdas. Frente à crise das teses neoliberais, a velha esquerda nada apresentou como alternativa. Ao assumir os poder em vários países, a velha esquerda não reproduziu nem mesmo as ideias keynesianas em que o Estado intervém na atividade econômica que é uma solução tipicamente capitalista adotada após a 2ª. Guerra Mundial preferindo aderir às teses neoliberais em que o mercado dita os rumos da atividade econômica como ocorreu na
França de François Hollande e no Brasil com os governos de Lula e Dilma Rousseff. O máximo que a velha esquerda faz no poder é fortalecer o Estado para, pura e simplesmente, manter o “status quo” tentando, na medida do possível, tornar o capitalismo o mais humano.

Um governo verdadeiramente de esquerda não se dobraria aos ditames do capital financeiro internacional como fez os governos Lula e Dilma Rousseff. Os bancos ganharam muito dinheiro durante o governo antinacional e neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, mas nunca lucraram tanto quanto nos governos do PT. Um governo verdadeiramente de esquerda não aderiria às teses neoliberais como os governos do PT que abdicaram de intervir na economia com a elaboração de um plano de desenvolvimento nacional capaz de promover o progresso econômico e social do País.
Um governo verdadeiramente de esquerda não permitiria a desnacionalização da economia brasileira e o desmantelamento da indústria nacional como ocorreu durante os governos do PT.

Um governo verdadeiramente de esquerda não combateria a desigualdade social com programa de transferência de renda como o “Bolsa Família”, mas, sim promoveria o crescimento econômico em taxas elevadas para gerar emprego e renda para a população.

Um governo verdadeiramente de esquerda não faria as alianças espúrias como as realizadas pelo PT com José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, Paulo Maluf, entre outros, para se manter no poder, nem permitiria a existência do mar de lama da corrupção em que se transformou os governos do PT conforme ficou comprovado com o mensalão e a corrupção na Petrobras.

No confronto entre Dilma Rousseff e Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais, muitos adeptos das teses esquerdistas afirmam que votarão na candidata do PT, mesmo reconhecendo o fracasso do atual governo, porque ela e seu partido são de esquerda, enquanto Aécio Neves do PSDB é de direita. Quem faz esta afirmativa está comprometido política e ideologicamente com o PT ou desconhece o que se passou ou se passa nas entranhas dos governos do PT de Lula e Dilma Rousseff. Trata-se de um mero chavão esta afirmativa. Na essência o PT de Dilma Rousseff e o PSDB de Aécio Neves são partidos de direita, isto é, são partidos da ordem dominante. Em outras palavras, são partidos a serviço especialmente do capital financeiro.

Qualquer que seja o vencedor das eleições presidenciais, ambos os candidatos e partidos manterão o “status-quo”. As mudanças prometidas por ambos os candidatos na economia e no plano social não acontecerão. O PT tentará no governo se perpetuar no poder, enquanto o PSDB tentará evitar que isto aconteça. Diante desta situação, cabe ao eleitor avaliar se é bom para o Brasil manter no poder um partido (PT) que fracassou na gestão do País e se dobrou aos ditames do capital internacional e tende a se perpetuar no poder ou optar pela alternância do poder mesmo que ela não se traduza em mudanças efetivas na economia e na sociedade.


*Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global

(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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