Fernando
Alcoforado*
Esquerda e
Direita são uma forma comum de classificar posições políticas, ideológicas, ou
partidos políticos. Esses termos surgiram com o advento da Revolução Francesa. Durante o
reinado de Luis XVI, os membros do Terceiro Estado, que indicava as pessoas
que não faziam parte do clero (Primeiro Estado) nem da nobreza (Segundo Estado),
se sentavam à esquerda do rei enquanto os do clero e da nobreza se sentavam à direita.
Os mais radicais que normalmente eram contra as decisões do rei ficaram conhecidos
como a esquerda enquanto os favoráveis às decisões eram os de direita.
A partir
de 1848, agudizou-se em todo o mundo o confronto entre a direita, representada pelos conservadores, e a esquerda, representada pelos socialistas, enquanto os
liberais centristas se posicionavam entre as duas correntes ideológicas
tendendo mais para as posições dos conservadores. Norberto Bobbio, filósofo
italiano, afirmava que uma diferença fundamental entre esquerda e direita é a
de que a primeira é defensora intransigente da igualdade e a direita não. A
esquerda acredita que a maior parte das desigualdades é social e, enquanto tal,
eliminável e a direita acha que a maior parte delas é natural e portanto é
eliminável (Ver Bobbio, Norberto. Direita e esquerda. Editora UNESP. São
Paulo, 1995).
O
confronto entre a direita e a esquerda atingiu as culminâncias em todo o mundo
com o advento da Revolução Russa em 1917, a constituição do bloco de países
socialistas no este europeu e a luta de libertação nacional que levou à
descolonização ocorrida em vários países da periferia capitalista após a 2ª.
Guerra Mundial, a Revolução Chinesa em 1949, a Revolução Cubana em 1959 e a
Guerra do Vietnam. As vitórias alcançadas pelos movimentos de esquerda em todo
o mundo criaram a sensação de que um mundo novo, socialista, mesmo com matizes
diferentes em cada país, estaria em gestação.
Mudar o
mundo através do Estado foi o paradigma que predominou no âmbito dos partidos
políticos de esquerda do século XVIII até a década de 1990 do século XX. A tese dos
partidos políticos de esquerda que fundamentava essas concepções é simples: conquista-se
o Estado que até então era um instrumento da burguesia e o transforma em um instrumento da classe trabalhadora através
da Reforma ou da Revolução Social. A tese de considerar o Estado como centro
irradiador da mudança foi um rotundo fracasso em todas as partes do mundo,
tanto nos países que tentaram construir o socialismo, quanto nos países
periféricos que adotaram uma postura nacionalista na promoção de seu
desenvolvimento.
Ambos os
enfoques, o reformista e o revolucionário fracassaram no seu projeto de mudar
pacificamente ou radicalmente a sociedade. Com o fim do socialismo real na década de
1990, os grandes partidos de esquerda em todos os países do mundo abandonaram
não apenas as teses revolucionárias, mas também as reformistas visando as
mudanças sociais. Muitos partidos de esquerda no mundo se tornaram partidos da ordem
dominante. A partir da década de 1990, a esquerda que nasceu em 1848 e conquistou
o poder em vários países perdeu o rumo devido sobretudo à falta de um projeto
alternativo ao que foi implantado na União Soviética e em outros países.
A ação
política da velha esquerda ficou reduzida fundamentalmente à sua participação nas
eleições parlamentares defendendo teses liberais centristas ou neoliberais e abdicando
das teses nacionalistas e da revolução social que sempre foram os principais móveis de
sua atuação política no passado. Em vários países do mundo, partidos de esquerda
que conquistaram o poder, adotam teses liberais ou neoliberais com a concessão
de amplas benesses às classes dominantes, sobretudo as do setor financeiro, e de
“esmolas” aos “de baixo” na escala social, para neutralizar convulsões sociais
como ocorre atualmente no Brasil com o programa de transferência de renda,
“Bolsa Família”.
A atual
crise mundial evidenciou um vazio teórico das esquerdas. Frente à crise das teses
neoliberais, a velha esquerda nada apresentou como alternativa. Ao assumir os poder em
vários países, a velha esquerda não reproduziu nem mesmo as ideias keynesianas
em que o Estado intervém na atividade econômica que é uma solução tipicamente
capitalista adotada após a 2ª. Guerra Mundial preferindo aderir às teses neoliberais
em que o mercado dita os rumos da atividade econômica como ocorreu na
França de
François Hollande e no Brasil com os governos de Lula e Dilma Rousseff. O máximo que
a velha esquerda faz no poder é fortalecer o Estado para, pura e simplesmente,
manter o “status quo” tentando, na medida do possível, tornar o capitalismo
o mais humano.
Um governo
verdadeiramente de esquerda não se dobraria aos ditames do capital financeiro
internacional como fez os governos Lula e Dilma Rousseff. Os bancos ganharam
muito dinheiro durante o governo antinacional e neoliberal de Fernando Henrique
Cardoso, mas nunca lucraram tanto quanto nos governos do PT. Um governo verdadeiramente
de esquerda não aderiria às teses neoliberais como os governos do PT que
abdicaram de intervir na economia com a elaboração de um plano de desenvolvimento
nacional capaz de promover o progresso econômico e social do País.
Um governo
verdadeiramente de esquerda não permitiria a desnacionalização da economia
brasileira e o desmantelamento da indústria nacional como ocorreu durante os governos
do PT.
Um governo
verdadeiramente de esquerda não combateria a desigualdade social com programa
de transferência de renda como o “Bolsa Família”, mas, sim promoveria o crescimento
econômico em taxas elevadas para gerar emprego e renda para a população.
Um governo
verdadeiramente de esquerda não faria as alianças espúrias como as realizadas
pelo PT com José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, Paulo Maluf, entre
outros, para se manter no poder, nem permitiria a existência do mar de lama da corrupção
em que se transformou os governos do PT conforme ficou comprovado com o mensalão
e a corrupção na Petrobras.
No
confronto entre Dilma Rousseff e Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais,
muitos adeptos das teses esquerdistas afirmam que votarão na candidata do PT,
mesmo reconhecendo o fracasso do atual governo, porque ela e seu partido são de
esquerda, enquanto Aécio Neves do PSDB é de direita. Quem faz esta afirmativa
está comprometido política e ideologicamente com o PT ou desconhece o que se
passou ou se passa nas entranhas dos governos do PT de Lula e Dilma Rousseff.
Trata-se de um mero chavão esta afirmativa. Na essência o PT de Dilma Rousseff
e o PSDB de Aécio Neves são partidos de direita, isto é, são partidos da ordem
dominante. Em outras palavras, são partidos a serviço especialmente do capital
financeiro.
Qualquer
que seja o vencedor das eleições presidenciais, ambos os candidatos e partidos manterão
o “status-quo”. As mudanças prometidas por ambos os candidatos na economia e no
plano social não acontecerão. O PT tentará no governo se perpetuar no poder,
enquanto o PSDB tentará evitar que isto aconteça. Diante desta situação, cabe
ao eleitor avaliar se é bom para o Brasil manter no poder um partido (PT) que
fracassou na gestão do País e se dobrou aos ditames do capital internacional e
tende a se perpetuar no poder ou optar pela alternância do poder mesmo que ela
não se traduza em mudanças efetivas na economia e na sociedade.
*Fernando
Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global
(Viena-
Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012), entre outros.
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