sexta-feira, 7 de novembro de 2014

DE POLÍTICOS E DE ESTADISTAS

 Por Joaci Góes


Dilma Rousseff obteve uma magra vitória eleitoral e uma grande derrota política, uma vez que, ontem como hoje, “a lei da qualidade despreza a lei da quantidade”.
O mapa eleitoral brasileiro não deixa dúvidas quanto ao predomínio da parcela iletrada da população sobre o seu contingente mais esclarecido, fato previsto pela saudável aventura democrática em que o voto dos analfabetos tem o mesmo peso quantitativo dos mais sábios, ainda que a compra de votos seja prática teórica e legalmente interdita, o que, não obstante, ocorre a mancheias, para desmoralizar, ainda mais, o sistema legal de nosso país. A recusa do PT em fazer dos programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida atribuições do Estado, optando por mantê-los como obras de governo, obedece ao propósito de legitimar o processo de compra de votos mais intenso e extenso da História, como acabamos de ver.

Estima-se que pouco menos de 10% do total dos votos obtidos pela Presidente reeleita provenha de pessoas esclarecidas que integram a militância partidária, dos que mamam nas tetas oficiais e de intelectuais que aspiram submeter o País ao ideário bolivariano que tem como membros a Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Equador e a outrora próspera Argentina, tendo como líderes maiores Fidel Castro, Hugo Chavez, Nicholas Maduro, Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner.
A teia do destino colocou a Presidente diante de uma singular escolha de Sofia: governar para o bem do povo e de sua biografia ou continuar submetida ao mando imperial de uma malta inescrupulosa que vem fazendo do País uma extensão do quintal de suas casas.
Em seus pronunciamentos, depois de eleita, a Presidente reitera o propósito de combater a corrupção endêmica que faz do Brasil a sede dos maiores assaltos ao Erário de que se tem notícia em qualquer lugar ou tempo da história mundial. A efetivação dessa promessa significará cortar na própria carne, quando é do conhecimento geral, e ela não tem o direito de ignorar, que a matriz dessa oceânica criminalidade localiza-se à sua volta, tendo como chefes e ou inspiradores os que mais a apoiam e se beneficiam da conivência do seu silêncio.
Daí o caráter heroico e olímpico de sua anunciada insubmissão aos maiores quadrilheiros de nossa Pátria infeliz. Desgraçadamente, a opção a esse meritório desiderato, aspirado pela quase totalidade dos eleitores brasileiros - os que votaram e os que não votaram nela - é a continuidade de um governo apático, equivocado e leniente com o crime organizado, caminho certo para a sarjeta da História, sem levar em conta o risco de um rumoroso processo de impeachment que pode devolver o Brasil ao leito de conhecidas e indesejadas experiências prenhes de instabilidades institucionais.
Nas primeiras semanas de janeiro próximo, já saberemos se a Presidente resolveu fazer mais do mesmo por todos conhecido e deplorado, ou se optou pela História com H maiúsculo, encaminhando ao Congresso as urgentes reformas de que o País precisa para moralizar-se, inclusive a política e a partidária, conducente a última a extinguir o licencioso e prostituído sistema partidário que inviabiliza a decência nas relações entre os poderes, sobretudo, entre o Legislativo e o Executivo. O resultado da patranha constitucional vigente é a presença de vinte e oito partidos, com representação parlamentar, a grande maioria de araque, meros instrumentos de extorsão política sobre prefeitos, governadores e a própria Presidência que atinge picos de ineficiência gerencial com 39 ministérios, número atentatório dos mais elementares princípios da boa administração.
Registre-se, de logo, que nas hostes petistas há nomes do maior valor moral e intelectual, a começar pela Bahia. A lamentar, apenas, que, em nome da solidariedade partidária, se vejam esses nomes tutelares de nossa prática política compelidos a um constrangedor silêncio diante de crimes tão hediondos, em grave desabono da história de suas vidas honradas.
Para o bem ou para o mal, a sorte está lançada. Só nos resta aguardar para saber, em pouco tempo, se Dilma Rousseff optará pela próxima geração, ocupando lugar de relevo no Panteão da História, ou se agirá de olhos nas próximas eleições, figurando seu nome como protagonista menor, maestrina dos “malfeitos” mais indigestos.  

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