Colaboração de Fernando Alcoforado*
Dois são os caminhos que o Brasil pode trilhar na conjuntura
atual: 1) manter o modelo neoliberal iniciado pelo governo Fernando Collor,
implantado pelos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e posto em
prática também pelos governos Lula e Dilma Rousseff de 1990 até o presente
momento; e, 2) adotar o modelo nacional desenvolvimentista de abertura seletiva
da economia nacional. Implementando a estratégia de ajuste neoliberal formulada
pelo Consenso de Washington, o governo brasileiro está cumprindo desde o
governo Fernando Collor suas três etapas descritas a seguir: 1) estabilização
da economia (combate à inflação); 2) realização de reformas estruturais
(privatizações, desregulamentação de mercados, liberalização financeira e comercial),
e 3) retomada dos investimentos estrangeiros para alavancar o desenvolvimento.
O governo FHC processou o combate à inflação com o Plano Real, a privatização das empresas estatais iniciado
no governo Collor, removeu progressivamente as restrições às importações e
abriu a economia nacional ao capital internacional. Esta política foi mantida
também pelos governos Lula e Dilma Rousseff.
A prática vem demonstrando a inviabilidade do modelo econômico
neoliberal. A necessidade imposta pelo modelo econômico neoliberal de elevar as
taxas de juros para atrair capitais externos visando a cobertura do déficit nas
contas externas vem inviabilizando o crescimento da economia nacional penalizando, em
consequência, a população, as empresas e o próprio governo. A economia brasileira
fica impedida de crescer a taxas elevadas porque as altas taxas de juros praticadas
no Brasil torna pouco atrativo o investimento em atividades produtivas. Uma das
consequências das mais graves do baixo crescimento da economia brasileira que se registra
no Brasil desde a introdução do modelo neoliberal é o incremento do déficit público,
fato este que faz com que se inviabilize a capacidade do governo de desenvolver em
todos os seus níveis políticas públicas de investimentos nas suas áreas básicas
de atuação (saúde, educação, seguridade social, infraestrutura, segurança,
etc.).
É preciso que se observe que o déficit público no Brasil é o
resultado da conjunção de três fatores: 1) o incremento da dívida pública interna associada
à venda de títulos públicos para controlar a inflação com a redução do meio
circulante decorrente da entrada vultosa de capitais externos; 2) os custos financeiros
associados ao pagamento do serviço da dívida pública interna; e, 3) o nível insuficiente
das receitas públicas devido ao baixo crescimento da economia brasileira. O fato de que
quase metade do orçamento da União ser destinado ao pagamento de juros e
amortizações das dívidas
interna e externa com tendência de crescer nos próximos anos
resultará na incapacidade cada vez maior do governo brasileiro em todos os seus
níveis (federal, estadual e municipal) de investir na solução dos problemas de
infraestrutura econômica e social e de promover o desenvolvimento do País. Esta
situação fará com que o governo brasileiro seja obrigado a atrair capitais
externos aumentando ainda mais sua dependência em relação ao exterior. Em
outras palavras, além de ter como consequência a desnacionalização da economia
brasileira com a adoção desta medida, afetará profundamente o desenvolvimento
do Brasil que não contará com os recursos necessários a seu crescimento econômico e à superação de suas
profundas desigualdades regionais e sociais.
Este é, portanto, o resultado da devastação produzida sobre a
economia brasileira pelo modelo neoliberal cujo balanço é extremamente negativo sob todos
os ângulos. A estagnação atual da economia brasileira se acentuará nos próximos
anos devendo ocorrer simultaneamente com a elevação das taxas de inflação das
quais resultará o fenômeno da estagflação. Muito provavelmente, crescerá o déficit
no balanço de pagamentos devido à queda na receita de exportação e ao aumento
das remessas de lucros e dividendos pelas empresas multinacionais que cresceram de
forma
extraordinária nos últimos anos, superando em muito o valor das
remessas de juros da dívida externa. Tanto quanto a entrada de dólares para cobertura
do déficit no balanço de pagamentos, o investimento direto estrangeiro tende a também a
cair devido à provável queda no crescimento da economia brasileira. Nenhum
investidor externo investiria no Brasil com uma economia estagnada como se encontra
no momento. A estagnação da economia brasileira fará com que haja também queda
da arrecadação do governo em todos os níveis fazendo com que não haja recursos
públicos para investimento em quantidade suficiente para investir na
infraestrutura econômica e social, bem como para manter os programas sociais de transferência
de renda como o “Bolsa Família”.
A manutenção do modelo neoliberal se traduzirá no aprofundamento
da desnacionalização do que ainda resta do patrimônio público no
Brasil e, consequentemente, em maior subordinação do País em relação ao
exterior. Um governo seriamente comprometido com a defesa da soberania
nacional, o progresso do Brasil e o bem-estar-social de sua população tem que,
necessariamente, repelir este cenário substituindo o modelo econômico
neoliberal pelo modelo nacional desenvolvimentista de abertura seletiva e
controlada da economia nacional que tornaria certamente o País menos vulnerável
ao ataque de capitais externos especulativos com o governo exercendo um efetivo
controle da economia, além de propiciar a retomada do desenvolvimento nacional.
O modelo econômico nacional desenvolvimentista de abertura
seletiva da economia deveria contemplar a adoção imediata da renegociação do pagamento
dos juros da dívida externa e da dívida interna pública do país visando a
redução dos encargos para elevar a poupança pública para investimento. Deveria ser adotada
em curto prazo uma política econômica que priorize: 1) a redução drástica do gasto
público de custeio; 2) o controle do fluxo de entrada e saída de capitais para evitar a
evasão de divisas e restringir o acesso de capitais especulativos no país; 3) a
redução acentuada das taxas de juros para incentivar os investimentos nas
atividades produtivas; 4) a importação seletiva de matérias-primas e produtos essenciais do exterior para
reduzir os dispêndios em divisas do país; 5) a adoção da política de câmbio
fixo em substituição à de câmbio flutuante em vigor para proteger a indústria
nacional e controlar a inflação; 6) a reintrodução da reserva de mercado em
áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; 7) a reestatização de empresas estatais
privatizadas consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; e, 8) a
adoção de uma
política tributária capaz de assegurar os recursos de que o Estado
necessitaria para investir em educação, saúde, previdência social e nos setores de
infraestrutura, entre outros e onerar o mínimo possível a população e os setores
produtivos.
A médio prazo, deveria ser adotada a política econômica que
contribua para: 1) o aumento da poupança pública e privada visando elevar as taxas de
investimento da economia brasileira; 2) a realização de investimentos estrangeiros
preferencialmente nas áreas voltadas para as exportações e naquelas em que as
empresas nacionais não tiverem condições de suprir o mercado interno; 3) a
maximização das exportações brasileiras para expandir as receitas de divisas do
país e alavancar o crescimento da economia nacional; 4) a concessão de
incentivos fiscais para a atração de investimentos privados em regiões menos
desenvolvidas do Brasil; 5) o incentivo e reforço das atividades de pesquisa e
desenvolvimento e do sistema educacional do País; e, 6) a redução das desigualdades
sociais contemplando a adoção de medidas que contribuam para o atendimento das
necessidades básicas da população em termos de alimentos, vestuário, habitação,
serviços de saúde e emprego, e uma melhor qualidade de vida. Todo este conjunto
de medidas deveria ser posto em prática com base na planificação da atividade econômica
nacional que assegure o crescimento econômico e o desenvolvimento do país em
bases sustentáveis. Cabe observar que o modelo econômico nacional desenvolvimentista
de abertura seletiva da economia é a antítese do modelo neoliberal porque
privilegia os interesses nacionais e não os do mercado.
*Fernando Alcoforado, 74, membro da
Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário
e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial,
planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O
Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto
para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador,
2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The
Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co.
KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento
Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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